O comício da candidata a presidente da República, Dilma Rousseff (PT) e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Caxias do Sul, na serra gaúcha, na noite desta quinta-feira, 21, pode ter sido o único neste segundo turno a ser realizado no Rio Grande do Sul. Com apenas oito dias para o final da campanha presidencial, as energias foram concentradas na mobilização de mais de 10 mil pessoas na cidade onde a petista teve uma diferença de quase dez pontos percentuais em relação ao seu adversário José Serra (PSDB) no primeiro turno.
O recado à militância foi: “Trabalhar, trabalhar e trabalhar. Sem aceitar provocações”. A orientação foi de Lula para evitar que os petistas ou apoiadores de Dilma contribuam para uma campanha de baixaria e violência. Dilma Rousseff também seguiu a mesma linha e falou que “é hora de acabar com a campanha do medo”, que creditou ser fruto de ações caluniosas contra ela e sua candidatura por parte da campanha tucana.
Nesta mesma linha falou o presidente do PT no RS, o deputado estadual Raul Pont, que atribuiu ao peso das difamações à prorrogação da eleição presidencial para um segundo turno. “A eleição não é só feita da disputa de projetos, nós sabemos do peso dos meios de comunicação na distorção dos discursos para a difamação e a baixaria. Isso deixa o eleitor em dúvida e indo atrás da primeira mentira que plantam. Estamos disputando um estado desenvolvido, laico, não uma disputa religiosa preconceituosa”, ressaltou voltando à pauta das manifestações na internet sobre religião e aborto.
Bolinha de papel
O principal fato repercutido nas últimas 24 horas na eleição presidencial foi criticado por Dilma Rousseff como “um factóide de José Serra (PSDB) que não soube se esquivar de uma bolinha de papel” atirada contra ele em agenda nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro. “Hoje vimos uma bolinha de papel virar uma arma maligna. Usam o mesmo expediente que o Rojas (goleiro do Chile) que se feriu com uma gilete para causar tumulto”, comparou Dilma. Ela acrescentou que também foi vítima de um arremesso quando estava em carreata nesta quinta, em Curitiba. “Arremessaram em minha direção uma bexiga com água e eu me esquivei. Eu não fico de conversa fiada por ai por causa de bexiga de borracha, eu me esquivo”, salientou.
Muito inspirado durante o comício, Lula entrou na brincadeira da bolinha de forma indireta, quando alertou Dilma sobre o desafio de governar um país. “Você com pós-graduação na Ufrgs Dilma, não pense que você vai acertar governando apenas com a sabedoria da sua cachola. Porque alguém pode atirar um papel e ai sua cachola vai tremer. Você precisa usar a sabedoria da inteligência,mas também usar a sabedoria de mulher, de mãe”, falou sobre a visão humana que é preciso ter dentro da administração pública.
A candidata do cara
Dilma Rousseff fez questão de salientar os investimentos já realizados no RS e as possibilidades com a sua eleição. Ressaltou as escolas técnicas que já estão em sendo construídas pelo governo federal, como a de Pelotas, que está 70% concluída; falou da criação de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em Caxias do Sul e Bento Gonçalves e das demais políticas federais que poderão ser ampliadas ao estado.
O presidente foi o último a falar e logo após Dilma Rousseff. Era possível perceber seu carinho pela escolhida como sucessora e o constante discurso de aproximação da candidata com ele e com o seu projeto de governo. “Você Dilma dará continuidade ao governo que mais fez universidade neste país, que gerou mais autoestima para o seu povo. Você poderá dizer no debate que seu adversário não se sabe por que veio e para onde vai. Dilma, você terá orgulho de dizer que tu fizeste parte de um governo que desapropriou 60% de terra pra fazer reforma agrária. É o menos desmatamento deste país, na historia da Amazônia.
Lula ressaltou que seu tempo de governo está acabando e que o país não pode correr o risco de perder tudo que ele conquistou até agora. Por isso, fez um apelo por empenho da militância e, como comemora 65 anos de vida no próximo dia 27, fez um pedido de aniversário ao povo: o voto em Dilma. “Eu queria pedir para vocês de presente de aniversário o voto na Dilma. Mas não é um presente para mim é para todo povo brasileiro”.
Em seu discurso, Dilma também mencionou o fim do mandato de Lula e disse que, “quando bater a saudade do presidente Lula que não estará mais no comando do país, a alegria dos brasileiros será saber que ela estará como a verdadeira continuidade do seu projeto”.
Frustração com postura de Rigotto
Como estava em Caxias do Sul, terra do ex-governador gaúcho Germano Rigotto (PMDB), que esta semana declarou apoio a José Serra (PSDB), Lula não perdeu a oportunidade de expor sua surpresa com a atitude do peemedebista. O presidente recordou que ao término do seu mandato, em 2005, Rigotto precisou de R$ 200 milhões para equilibrar as finanças do estado e, Lula concedeu a ele. “Nós não precisaríamos ter dado e ele nem me apoiar me apoiou, mas eu dei o dinheiro, independente de eu ser do PT e ele do PMDB”, disse. E lamentou: “Eu esperava que pela nossa relação interpessoal e pelo gesto que tivemos quando ele deixou o governo, que ele pelo menos seguisse a orientação de votar em Dilma. Não ficasse ressentido por perder a eleição. Eu perdi a eleição de 82, 89,94 e 98 e nunca fiquei por ai reclamando ou com raiva”, disse Lula.
O futuro governador
O futuro governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro teve um peso importante no comício. Um dos primeiros a chegar ao local preparado para a festa política, próximo a prefeitura de Caxias do Sul, ele foi assediado pelo público que já aguardava por Lula e Dilma. Tarso chegou acompanhado do senador Sérgio Zambiasi (PTB); do prefeito de Porto Alegre, José Fortunatti (PDT) e o deputado federal Henrique Fontana (PT) e foi recebido com gritos de “Tarso, Tarso, Tarso!”
Para retribuir o carinho dos militantes, Tarso percorreu a lateral do palco e cumprimentou as pessoas que estavam no alambrado. Fez uma fala breve, pois, reconheceu que o interesse do público era ver Dilma e Lula. Agradeceu a confiança no voto e ressaltou o dever político e moral que o Rio Grande do Sul tem em eleger o mesmo projeto que o seu, em nível nacional.
A cronologia de uma noite enluarada
A estrada até Caxias do Sul estava com cavaletes de imagens da candidata Dilma Rousseff bons quilômetros antes do acesso ao município. Na cidade, o local escolhido era de fácil acesso e a céu aberto. As ruas 18 do Forte e Alfredo Chaves, próximo à Prefeitura de Caxias, foram fechadas para receber o evento.
As lideranças políticas começaram a compor o palco aos poucos, iniciando pelos pesos políticos locais. A professora de Caxias que fez dobradinha com o senador reeleito Paulo Paim (PT), Abgail Pereira (PCdoB) foi a primeira chamada pelo coordenador da campanha de Dilma Rossseffno RS, o prefeito de São Leopoldo Ary Vanazzi. Depois foram convidados a subir ao palco os presidentes dos partidos da coligação da presidenciável, os deputados federais, os prefeitos e por último o governador eleito Tarso Genro (PT).
Abgail foi a primeira a falar com os militantes, enquanto todos aguardavam Dilma e Lula. Ela salientou que o povo não queria levar bolinha de papel para as suas vidas e que era hora de acabar com os atos de desconstituição da evolução que foi construída pelo presidente Lula. Já o deputado federal Beto Albuquerque (PSB) foi o segundo a falar e perguntou ao público quem iria votar em Dilma e pediu uma vaia para o adversário José Serra (PSDB).
O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), falou o que já tinha dito em outros eventos políticos pró-Dilma: “que não está em jogo um homem e uma mulher e sim projetos completamente antagônicos. O projeto de Fernando Henrique Cardoso, que achatou o salário mínimo e foi um retrocesso para o país e o do presidente Lula que distribuiu renda e criou projetos inovadores”.
Repetindo a dose do último comício do primeiro turno em Porto Alegre, a organização convidou o trabalhista e músico Bagre Fagundes para cantar o Hino Rio Grandense.
Os momentos de maior empolgação da miltância serrana do RS foram a fala de Tarso, a de Dilma, a presença do ex-governador Olívio Dutra no palco e, sem dúvida, as brincadeiras espirituosas do presidente, que chegou a dedicar a bela lua cheia ao público e à imprensa. Lula fazia uma referência ao programa Luz Para Todos, que antes de surgir, deixava as casas mais afastadas do perímetro urbano sem luz. Todos se emocionaram quando Lula falou de uma mãe cearense que foi uma das 15 milhões de beneficiadas com o Luz Para Todos e quando teve luz em casa levantava de noite e apagava e ascendia a luz várias vezes pois nunca tinha visto o filho dormir.
Ao final do comício, a mensagem dada por Lula foi mais uma vez no sentido de pacificação e calma na campanha. “Nao vamos aceitar provocações. Não queremos brigar com ninguém, apenas eleger a Dilma”, finalizou.
Rachel Duarte/Sul-21