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GUERRA

‘A guerra é cambial e foi anunciada pelo ministro Guido Mantega’. Por Ricardo Amorim

No mundo pós-crise, os países emergentes vão consumir mais e os ricos produzir mais

Calma, o Brasil não vai invadir a Argentina.

A guerra é cambial e foi anunciada pelo ministro Guido Mantega.

Por que você deveria se importar? Porque seu emprego, os lucros da sua empresa, o apartamento novo, a viagem para o Caribe, tudo que você pretende comprar depende desta guerra.

O mundo que surgiu após a crise financeira global de 2008 é bipolar. De um lado, Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão, com consumidores e governos endividados até o pescoço, os empregos e o crédito sumindo. Do outro, os emergentes, liderados por China, Índia e Brasil, onde empregos e crédito nunca foram tão fartos e o crescimento econômico bate recordes.

Para estimular suas combalidas economias e financiar déficits públicos impagáveis, os países ricos vêm imprimindo dinheiro em quantidades colossais. Entretanto, a maior parte deste dinheiro não está virando consumo por lá, e sim investimentos por aqui. Apavorados, seus consumidores pisaram no freio e começaram a poupar. O dinheiro depositado nos bancos acaba investido aqui, onde a rentabilidade é muito maior. Para completar, com a China consumindo quantidades cada vez maiores de matérias-primas, as tais commodities, os preços dos produtos exportados pelo Brasil não param de subir, favorecendo nossa balança comercial.

Some-se a isto o pré-sal, a capitalização da Petrobras, multinacionais investindo por aqui, e o dólar vale cada vez menos. Aliás, isto é parte importante do processo de ajuste dos atuais desequilíbrios da economia global. Quando foi a última vez que você comprou um produto made in USA? Pois é. Nas três últimas décadas, os americanos gastaram muito mais do que produziram. Com o sumiço do financiamento, chegou a hora de pagarem a conta. Para isso, os custos para produzir nas terras de Tio Sam terão de cair. Isto acontecerá através de um dólar em queda livre – que torna produtos americanos mais baratos no resto do mundo – e uma bela recessão, que elimina empregos, forçando os americanos a aceitarem salários mais baixos. Desde 2008, enquanto foram criados mais de cinco milhões de novos empregos no Brasil, nos EUA sumiram oito milhões.

No mundo pós-crise, os países emergentes vão consumir mais e os ricos produzir mais. Tomara que isto aconteça sem que a guerra cambial se transforme em uma guerra comercial, com barreiras protecionistas erguidas mundo afora. Tal protecionismo foi uma das principais razões da Grande Depressão dos anos 30.

Uma valorização da moeda chinesa ajudaria a evitar uma guerra comercial, mas, com ela ou sem ela, é bom estarmos preparados para um real cada vez mais forte.

Para quem acha que o governo brasileiro deveria fazer mais para conter a queda do dólar, é bom saber que apenas o custo de carregamento de nossas reservas internacionais é próximo a R$ 40 bilhões por ano, o triplo do gasto com o Bolsa Família. Ainda, se o governo conseguisse evitar que o dólar caísse e, assim, impedir que os importados chegassem tão baratos por aqui, é provável que, com menos competição, a inflação subisse e as taxas de juros também.

E aí, bye-bye financiamento barato para o seu carro, o apartamento novo, o Caribe…

Artigo publicado no site do Instituto Millenium