O que é o Pré-Sal
O “pré-sal” é uma área de reservas petrolíferas encontrada sob uma profunda camada de rocha salina, que forma uma das várias camadas rochosas do subsolo marinho.
As reservas do pré-sal encontradas no litoral do Brasil são as mais profundas em que já foi encontrado petróleo em todo o mundo. Representam também o maior campo petrolífero já encontrado em uma profunda região abaixo das camadas de rochas salinas ou evaporíticas.
Camadas semelhantes de rocha “pré-sal” são encontradas em alguns outros locais do mundo (litoral Atlântico da África, Golfo do México, Mar do Norte e Mar Cáspio). Em algums dessas regiões foram encontrados “indícios” de petróleo em camadas rochosas pré-sal, como já foi noticiado neste blog. Entretanto, ainda não se sabe ao certo se estas outras áreas subsal possuem grandes reservas petrolíferas como “o pré-sal” no litoral brasileiro.
O termo “pré” de pré-sal refere-se à temporalidade geológica e não à profundidade. Considerando-se a perfuração do poço, a partir da superfície, o petróleo do pré-sal é considerado subsal, pois está abaixo da camada de sal. Entretanto, a classificação destas rochas segue a nomenclatura da Geologia, que se refere à escala temporal em que os diferentes estratos rochosos foram formados. A rocha-reservatório do pré-sal foi formadas antes de uma outra camada de rocha salina, que cobriu aquela área milhões de anos depois, ou seja, mais recentemente na escala de tempo geológica. Portanto, o “pré” do pré-sal refere-se à escala de tempo, ou seja, está em uma camada estratigráfica que é mais antiga do que a camada de rochas salinas.
As reservas de petróleo subsal, ou o petróleo da camada pré-sal encontram-se em diferentes profundidades, variando 2000 a 3000m de lâmina d’agua antes de chegar ao leito marinho. No subsolo do mar, a primeira camada de rochas sedimentares, a camada mais superficial, é chamada de pós-sal, pois está acima das rochas salinas) No pós-sal estão importantes reservas petrolíferas como a Bacia de Campos, que representava a quase totalidade das reservas brasileiras até 2005. Abaixo desta primeira camada de rochas (pós-sal), encontra-se a camada de rochas evaporíticas, rochas salinas ou simplesmente camada de sal. Esta camada varia de algumas centenas de metros até 2km de rochas salinas. Sob a camada de rochas salinas estão as rochas “pré-sal”, em que foram identificadas as primeiras reservas gigantescas do pré-sal, os campos de Tupi, Iara e Parque das Baleias.
O “pré-sal” é considerado uma grande bacia petrolífera, sem que se saiba exatamente se é um conjunto de enormes campos petrolíferos independentes, mas próximos, ou um único campo petrolífero gigantesco. Avalia-se que tenha entre 70 e 100 bilhões de barris equivalentes de petróleo e gás natural mineral. Os geólogos mais otimistas falam em até 200 bilhões ou 300 de barris caso seja formado por um único campo ou se a sua extensão for ainda maior do que a área já mapeada.
Acredita-se que o pré-sal pode se extender até depois das 200 milhas marítimas da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e o Brasil terá que reivindicar a posse destas águas, hoje consideradas internacionais.
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A qualidade do óleo do pré-sal
O petróleo da camada pré-sal é mais leve do que o petróleo encontrado no restante do Brasil, como o petróleo da Bacia de Campos, geralmente considerado petróleo pesado. O petróleo é um tipo de hidrocarboneto fóssil, mais precisamente, uma mistura de várias substâncias em que predominam cadeias de carbono e hidrogênio, mas também aprecem diferentes porcentagens deenxofre e nitrogênio, dependendo da qualidade.
A densidade do petróleo permite classificá-lo em leve, mediano, pesado e ultra-pesado. Esta classificação é baseada nas características físico-químicas do petróleo, considerando a análise da densidade do óleo (grau API) e a viscosidade do óleo (medida em cP ou centipoises). O petróleo do pré-sal tem densidade ou grau API superior a 28° API, sendo que a maior parte do óleo encontrado possui grau API maior que 31°, sendo classificado petróleo leve. A Petrobrás também identificou que este óleo tem baixo teor de substâncias poluentes como enxofre e nitrogênio, normalmente encontrados em grande quantidade no petróleo pesado.
Conforme a clasificação da ANP:
–> Petróleo Leve – densidade igual ou inferior a 0,87 (ou grau API igual ou superior a 31°).
–> Petróleo Mediano – densidade superior a 0,87 e igual ou inferior a 0,92 (ou grau API igual ou superior a 22° e inferior a 31°).
–> Petróleo Pesado – densidade superior a 0,92 e igual ou inferior a 1,00 (ou grau API igual ou superior a 10° e inferior a 22°).
–> Petróleo Extra-pesado – densidade superior a 1,00 (ou grau API inferior a 10°).
Assim, o petróleo leve, como óleo da camada pré-sal, é estratégico para o Brasil, pois:
(I) é mais fácil de ser refinado, produzindo uma porcentagem maior de derivados finos;
(II) tem menos enxofre, poluindo menos quando é refinado;
(III) portanto, é comercializado por um valor maior no mercado internacional.
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O valor estratégico do petróleo do Pré-sal
Se as reservas petrolíferas forem de 100 bilhões de barris, e o petróleo estiver cotado entre US$ 50,0 ou US$ 100,00, esta riqueza mineral permitirá ao país obter uma renda gigantesca, entre US$ 5 trilhões e US$ 10 trilhões, apenas extraindo óleo cru.
Se o petróleo for refinado, para a produção de outros subprodutos, este valor pode ser multiplicado em várias vezes, impactando diretamente toda a economia nacional.
O processo de refino do petróleo resulta em inúmeros subprodutos, conhecidos como “derivados de petróleo”. Muitos destes derivados são matéria-prima para as cadeias produtivas do setor químico, incluindo, desde a fabricação de produtos inflamáveis e solventes até produtos duráveis e semi-duráveis, como os “plásticos”.
Os subprodutos inflamáveis do petróleo incluem combustíveis como gasolina, diesel, querozene, óleo combustível e solventes, além do GLP – Gás Liquefeito de Petróleo, conhecido no Brasil como “Gás de Cozinha”, utilizado diariamente para o cozimento de alimentos por milhões de pessoas em todo o país.
Os produtos derivados de petróleo com maior valor agregado nãosão necessariamente os combustíveis, como muitos acreditam, mas sim os outros produtos duráveis e semi-duráveis resultantes do refino de petróleo.
Dentre os produtos químicos destacam-se os fertilizantes como o nitrogênio a base de petróleo e os agrotóxicos, que em sua maioria incluem substâncias derivadas de petróleo.Ainda no ramo químico, destacam-se, produtos farmacêuticos, detergentes e produtos de limpeza, tintas, solventes, vernizes e materiais sintéticos. Dentre os materiais sintéticos destacam-se produtos como borracha sintética e o grupo dos polímeros, popularmente chamados de “plásticos”, dos quais se destacam os policarbonatos, poliuretanos, polipropileno, PVC e PET.
Estes materiais permitem produzir uma infinidade de produtos finais, como roupas, calçados e tecidos sintéticos, Cd´s, garrafas recipientes, coberturas translúcidas resistentes, revestimentos externos de eletrodomésticos, componentes de interiores de automóveis e aviões, e até mesmo uma grande variedade de brinquedos.
Os combustíveis derivados de petróleo e o gás natural representam pouco mais de 60% de toda a energia consumida no mundo e a exploração petrolífera representa diretamente cerca de 10% do PIB mundial.
Indiretamente os milhares de subprodutos combustíveis derivados de petróleo sustentam a economia mundial como conhecemos hoje. Devido ao seu enorme peso econômico e geopolítico, o petróleo é considerado o pilar fundamental da civilização industrial estruturada ao longo do século XX, também chamada de “civilização do petróleo”.
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Petróleo no Brasil e a Petrobrás
No Brasil a Petrobrás é a maior empresa do país, situando-se entre as 10 maiores do mundo. A empresa, criada em 1953 pelo então Presidente Getúlio Vargas, tem uma longa história de investimentos em tecnologia para procura e exploração de poços petrolíferos.
A Petrobrás começou a explorar petróleo no mar nos anos 1960, mas só passou a priorizar a produção marítima depois da crise petrolífera de 1973. Ao longo de décadas de investimentos governamentais, associado ao trabalho e engenhosidade de milhares de brasileiros, a Petrobrás atingiu no fim dos anos 1980 a capacidade de produção de quase 80% do petróleo consumido no país.
Apesar da crise pela qual passou a empresa nos anos 1990, quando esta quase foi privatizada, a Petrobrás se recuperou e voltou a crescer nos anos 2000, permitindo ao Brasil atingir a auto-suficiência em petróleo. A Petrobrás tornou-se a maior empresa do Brasil e do hemisfério sul, situando-se entre as grandes empresas do mundo.
Neste contexto, a descoberta do pré-sal levou a uma grande mobilização social e política em todo o Brasil, em defesa da revisão da legislação que ainda hoje regula o setor petrolífero e a extração de petróleo no Brasil. Tornou-se central na agenda política nacional a atualização do marco regulatório e a substituição da atual Lei do Petróleo, por outra melhor, que assegure a Soberania brasileira sobre o pré-sal.
O novo marco regulatório, ou “Nova Lei do Petróleo”, está sendo debatida em todo o país, e os novos projetos de Lei estão tramitando no Congresso Nacional, onde a Câmara dos Deputados já aprovou as novas leis e o Senado Federal pretende votar os detalhes da nova Lei ainda este ano.
A garantia da Soberania e da Cidadania no futuro do Brasil, em grande medida, dependem dos rumos deste debate e da mobilização popular no Brasil do presente.
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