Um encontro da executiva estadual, ocorrido na manhã desta sexta-feira (26), praticamente encerrou os esforços do PMDB gaúcho para a formação de um diretório de consenso. A leitura dentro da direção é de que as movimentações de Marco Alba, que já conta com o apoio de muitos prefeitos e vereadores no interior do RS, tomaram uma dimensão que inviabiliza a chapa única. A ação de Marco Alba já lhe garantiu um grande número de apoios, sensibilizando até a executiva da Associação de Prefeitos e Vices do PMDB gaúcho. A partir de agora, os nomes que antes buscavam uma solução coletiva devem redirecionar as forças para criar uma chapa que se oponha às pretensões de Alba.
“Não há mais espaço para o consenso, na atual conjuntura interna do partido”, admite o deputado estadual Alexandre Postal. Segundo ele, a tendência é de pelo menos duas chapas – a capitaneada por Marco Alba, e outra formada por parte dos que tentavam articular uma candidatura única ao diretório estadual. “Alguns estavam se esforçando pelo consenso, mas o grupo do deputado Marco Alba achou por bem externar posição contrária. Então, vamos ter uma disputa de chapas”, diz Postal.
O presidente interino do PMDB, deputado Márcio Biolchi, afirma ter trabalhado para “não jogar fora uma boa chance” de construir uma convergência de ideias dentro do partido. Mas admite que, a partir de agora, a sucessão de Pedro Simon se transformou em uma “eleição normal”. “Fizemos uma busca de unidade, mas sem exigência de sucesso. Nunca foi nossa intenção coibir a formação de outras chapas. Tendo em vista as manifestações e movimentações do grupo ao qual o deputado Marco Alba pertence, a condição política para o consenso acaba se modificando. De qualquer modo, acredito que cumprimos com nossa tentativa (de buscar o consenso)”, comenta.
Segundo pessoas que participavam dos esforços pela chapa única, algumas informações divulgadas pela imprensa foram “plantadas” por apoiadores de Marco Alba, em um esforço para minar a tentativa de consenso. Entre elas, a possível indicação de José Fogaça para a presidência e a entrada de Alceu Moreira como 1º secretário, bem como a proposta de remunerar o futuro presidente em até R$ 15 mil mensais. A utilização de Fogaça, nome estigmatizado após a derrota nas eleições de outubro, reforçaria a associação da chapa de consenso com um discurso “velho”, reforçando o caráter de “novo” da articulação representada por Marco Alba.
O próprio José Fogaça, em conversa com o Sul21, negou a possibilidade de concorrer à presidência. “Essa possibilidade não existe, está totalmente descartada. Estou fora desse processo (de sucessão)”, insistiu o ex-prefeito de Porto Alegre.
Muita firula“O deputado Marco Alba está adotando o discurso que interessa a ele no momento, mas que não corresponde muito à realidade”, dispara o deputado Alceu Moreira, que a partir de 2011 troca a Assembleia pela Câmara Federal. Do mesmo modo que outros deputados peemedebistas ouvidos pelo Sul21, Moreira diz que a polarização entre cúpula e base é um equívoco. “Todos no partido estão insatisfeitos com a atual situação. Não existe isso de cúpula, somos todos da base nesse momento. Trata-se de um discurso populista, que convence algumas pessoas, mas que se baseia em um argumento mentiroso”, reclama.
Alexandre Postal mantém o tom das críticas. “Acho que está havendo muita firula, em nome de espaço na mídia”, ataca. Na opinião do deputado, o discurso adotado por Marco Alba tem o objetivo de “agradar” os prefeitos descontentes. “Quase todos nós (da executiva) temos raízes no interior. Eu mesmo sou de Guaporé, o presidente Márcio Biolchi é de Carazinho… Não estamos distantes das bases, como se quer dar a entender”, argumenta.
Márcio Biolchi, presidente interino do PMDB/RS, adota um discurso mais cauteloso. “A manifestação de apoio é algo que se aplica somente a chapas já existentes. Não é, necessariamente, um indicativo de discordância”, argumenta. Biolchi garante que o distanciamento entre a executiva estadual e as bases é preocupação geral, e não estava sendo ignorada pelo grupo que buscava a chapa única. “Não estávamos propondo uma executiva de cima para baixo, pelo contrário. A nossa proposta mais que dobrava o espaço de prefeitos e vereadores, em relação ao diretório atual. Seria uma participação como nunca se teve antes. Buscávamos o consenso justamente por haver esse ponto comum nos discursos de quem vinha conversar conosco”, assegura.
“No dia em que as pessoas que estão conosco (em busca do consenso) começarem a mobilizar os colegas do interior, a verdade vai começar a surgir”, garante o deputado Alceu Moreira. Ele acredita que o aprofundamento dos contatos no interior do estado mostrará aos municípios que o discurso de Marco Alba não é isolado dentro da sigla. “Representantes de todas as instâncias partidárias estão conosco. Vamos começar a entrar em campo agora, e mostrar que a chapa do deputado Alba não é basista, do mesmo modo que a nossa não é de cúpula”.
Nova data
As incertezas dentro do PMDB gaúcho já motivam até discussões sobre a data prevista para a convenção que votará o novo diretório estadual. Marcada originalmente para o dia 16 de dezembro, uma quinta-feira, a reunião pode ser adiada em alguns dias, ficando para o dia 18 ou 19. Segundo o deputado federal Osmar Terra, é uma ideia que está sendo considerada para permitir a participação do maior número possível de correligionários. “Achamos que seria ideal fazer o encontro em um final de semana. Não há qualquer tipo de definição, é apenas uma proposta, mas estamos cogitando, sim, uma mudança de data”, admite Osmar Terra.
Mesmo admitindo que a constituição de uma chapa única está “muito difícil”, Osmar Terra não se dá por vencido. “Vamos esgotar todas as possibilidades, em busca de uma solução consensual. O tempo é curto, mas acho que devemos continuar tentando achar uma proposta política que represente os interesses de todos”. Alceu Moreira concorda. “Não dá para querer reorganizar o partido de forma confrontadora, juntando pedaços”, afirma, assegurando que a direção buscou mais de uma vez ter a presença de Marco Alba nas reuniões, sem sucesso. “Temos divergências, mas acho que esse movimento pode ser bom para todos”, comenta.
Segundo Márcio Biolchi, a postura da direção, daqui para frente, levará em conta a formação democrática de chapas para a sucessão. “A executiva vai agir como executiva. Não vamos dar preferência a nenhum dos lados”, garante. O atual presidente diz que alguns membros vão se aglutinar naturalmente na composição de chapas, mas que a função da executiva será de mediação, sem tentar direcionar o processo. “Tenho certeza que o debate dentro do partido se dará com naturalidade. Não precisamos nos preocupar com divergências. Trata-se apenas de uma nova etapa de discussão. Apenas espero que isso colabore para uma verdadeira retomada da vida partidária, compreendendo todas as suas instâncias, sem personalismos”.
Fonte: Igor Natusch – Sul 21