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Coalizão é a principal marca do governo Tarso, avaliam lideranças e cientistas políticos

Rachel Duarte/sul21

Na primeira reunião do Conselho Político, realizada nesta sexta-feira (14), duas semanas depois do início do segundo governo petista no RS, os partidos que compõe a base do governo gaúcho chegaram a uma conclusão: já é possível dizer que a coalização proposta por Tarso Genro foi bem feita. O colegiado, instituído oficialmente, é composto por representantes do PT, PSB, PDT, PC do B, PTB, PR, PPL e PRB. Segundo eles, os primeiros dias da nova gestão foram positivos.

Tarso Genro mostra um estilo diferente de seus antecessores. Ele tem se reunido periodicamente com seus secretários e não teve nenhum conflito externo com qualquer segmento sociedade. Para o presidente do PCdoB, Adalberto Frasson, o governo Tarso conseguiu iniciar com abertura de canais importantes de interlocução com a sociedade. A transversalidade foi o ponto considerado pelo comunista como de maior êxito na largada do governo. “Este é um processo. Foi bem construído e iniciado. Agora, teremos muito trabalho”, estima.

O mesmo pensa o presidente do PT, deputado estadual Raul Pont. Ele disse que “a reunião trouxe expectativas de um governo promissor e todos concordaram que a composição feita é inédita, garante a transversalidade e a proporcionalidade dos partidos aliados”.

O aspecto negativo, que gerou algumas divergências de opiniões, foi a insatisfação de algumas lideranças partidárias com o espaço de seus partidos no governo. “Não tem como contemplar a todos, inevitável alguns descontentamentos”, disse Pont. Segundo o presidente petista, o presidente do PDT, Romildo Bolzan Jr, insistiu para que o foco das negociações se mantenha nos partidos e não em indivíduos.

Outro tema do encontro foi a atuação da base aliada durante a votação dos projetos do Executivo na Assembleia. Antes mesmo do início da nova legislatura, a bancada governista manteve-se coesa e conseguiu aprovar todos os projetos em pauta. Na opinião de todos os participantes da reunião, este foi o exemplo de que a composição feita por Tarso deu certo.

Marca principal

Cientistas políticos e ex-governadores concordam: a ampla coalizão de Tarso Genro é um bom ponto positivo do início de sua gestão. O cientista político Juliano Corbelini comparou o começo de Tarso Genro com os dos governos Olívio Dutra (1999 a 2003) e Yeda Crusius (2003 a 2007). “Estas são duas experiências que podem servir para analisar o começo do governo de Tarso Genro. O aspecto mais notório e positivo na gestão atual é a preocupação em estabelecer boas relações de governabilidade. Esta já está sendo a marca principal”, considera.

Corbelini acredita que a coalizão construída por Tarso foi bem amarrada e trará, como se pode confirmar no primeiro teste de votação da Assembleia Legislativa, nesta semana, que ele terá condições de governar com tranquilidade. “A coalizão feita é inédita e muito complexa. Essa construção é a principal marca do governo até agora”, reforça. Neste ponto, o professor e cientista político André Marenco também concorda. “O PT incorporou a experiência negativa do governo Olívio Dutra, que propôs um governo de minoria, sem coalizão, e amadureceu”, argumenta.

Porém, ambos concordam que as questões centrais e o programa de governo em si não estão claros aos olhos da população. O fato de a administração estar apenas nos primeiros dias é uma das causas para esta não compreensão da propostas do novo governo. Corbelini e Marenco acreditam que há uma certa nebulosidade no foco do governo Tarso. “A agenda do governo não está clara. Tem muita retórica, mas o modelo econômico para o estado qual é?”, indaga Corbelini.

Unidade é desafio

Marenco questiona as políticas públicas para a Segurança e Educação, por exemplo, que não estão sendo explicitadas. “Este é o desafio de um governo de coalizão. Garantir a unidade. O foco no programa não pode ser perdido”, alerta. O cientista político afirma também que, apesar de qualquer análise ser ainda muito precoce, ao que parece o governo Tarso terá mais “cacique e pouco pajé”. “Tem secretários de muito peso político, fruto do processo de composição. Mas, qual o peso técnico e a capacidade de gestão do governo?”, questiona.

O professor embasa sua afirmação na experiência vivida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Marenco, os primeiros anos do governo Lula foram difíceis e também sem muita clareza dos rumos e das políticas públicas. Um emprevisto, segundo o professor, alterou o rumo do governo Lula, formado por uma coalização de partidos e com ministros de peso político, como José Dirceu, Olívio Dutra e Antonio Palocci. “Até 2005 Lula teve dificuldades para definir sua agenda, o que me parece similar neste início do governo Tarso. Com o episódio do mensalão, Lula mudou os ministros e colocou quadros mais técnicos, como a Dilma Rousseff. Ai o governo deslanchou. Mas, quem é a Dilma do Tarso? Não me parece que ele tenha alguém com a mesma capacidade de coordenação e gestão”, avalia.

Projeções

Cientistas e politicos lembram que ainda é cedo para maiores avaliações sobre o governo Tarso. Concordam, no entanto, que as perspectivas são positivas, devido à estabilidade política, à conquista da maioria na Assembleia e à habilidade do governador.
“As circunstâncias em que o Tarso assume o governo são melhores, do ponto de vista do alinhamento com o governo federal. A questão das finanças também segue um problema histórico, mas a possibilidade de contar com outras fontes de recursos e programas federais já diferencia a gestão”, disse o ex-governador Alceu Collares (PDT).

Sem o imbróglio da montadora Ford, que marcou o começo do governo Olívio ou o aumento de impostos, que marcou o de Yeda Crusius, Tarso Genro terá capital político para fazer um bom governo, na opinião dos entrevistados. O conselho dos cientistas políticos e do ex-governador Alceu Collares é acertar a agenda do governo, controlar a transversalidade e ficar atento com as eleições municipais de 2012. “O segundo ano é sempre mais crítico. Terão as eleições para prefeituras e a base do governo tende a se dividir para duas ou três candidaturas; aí surge uma complicação”, avalia André Marenco.

E, como o excesso é sempre melhor do que a omissão, Collares alerta: “Cuidado com o vice. Eles sempre são um problema. Tem que ficar de olho para não ter despacho nas esquinas”.

Demais governos

Em 1982, os partidos menores foram prejudicados pelos efeitos do “pacote eleitoral” de fins de 1981, que previa regras vinculando os votos a um só partido, proibindo as coligações partidárias e considerando nulo o voto em mais de um partido. O PDS (Partido Democrático Social), vitorioso na maior parte dos estados, sagrou-se também nas urnas gaúchas, elegendo Jair Soares, cujo governo se notabilizaria pelos largos investimentos na área da saúde. Mas, o PDS não governava com maioria no Legislativo, pois o PMDB formou a maior bancada. Isto fez com que a Assembleia se tornasse a caixa de ressonância dos movimentos sociais. A crise econômica, conjugada ao arrefecimento da censura e da repressão, contribuía para reacender os fluxos reivindicatórios.

Em 1987, o PMDB chegava ao governo. A tradição do MDB e o prestígio auferido pelo Plano Cruzado, contribuíram não apenas para uma sólida vitória de Pedro Simon (PMDB) como para a conquista pelo partido de 27 das 55 vagas na Assembleia. Na história recente do Rio Grande do Sul, tal hegemonia política somente se registrara em 1959, quando o PTB, do então governador Leonel Brizola, junto com o PRP, que também lhe dava sustentação, elegeram 27 deputados.

A ressaca do Plano Cruzado terminou pegando o início do governo no contrapé. Em abril de 1987, com apenas um mês de novo governo, eclodiu aquela que seria a maior greve do magistério. Na mesma época, estalaram movimentos do funcionalismo público e dos policiais civis. Os professores chegaram a acampar por semanas na Praça da Matriz, com tendas e faixas de protesto, promovendo uma ensurdecedora sinfonia de sinetas e um incansável coro de palavras de ordem. Também nos primeiros meses de mandato, Simon enfrentou uma organizada invasão num grande conjunto habitacional na zona norte de Porto Alegre. A manifestação contou com o apoio de parlamentares do PT e do PDT e provocou desgaste ao governo de Simon.

A chegada de Alceu Collares ao governo gaúcho, em 1991, foi em meio a escassez de recursos que já se acumulava com a dívida pública herdada de governos anteriores. Segundo Collares, o déficit financeiro foi seu principal desafio no começo da gestão. “Eu coloquei inclusive uma faixa que pedia à população “100 dias de trégua”, recorda.