Igor Natusch
Enquanto a política brasileira assiste ao nascimento de um novo partido, outras duas siglas vivem momentos de turbulência interna. Além do DEM, que cederá parte de seus quadros ao recém-criado PSD, o Partido Verde (PV) também vive momentos de convulsão, com a possibilidade de perder todos os quadros ligados à ex-senadora Marina Silva. A discórdia surge em meio à disputa pela liderança do PV. De um lado, os apoiadores de Marina, que desejam mais força dentro da sigla para viabilizar uma candidatura de terceira via à Presidência da República, em 2014. Do outro, defensores do atual presidente do PV, José Luiz Penna, que promoveu manobra durante a executiva nacional da sigla, buscando prorrogar seu mandato por mais um ano.
A situação ficou mais tensa a partir de iniciativa do deputado federal Sarney Filho (PV-MA), alinhado com Penna. O parlamentar sugeriu, sem discussão prévia com a outra corrente, que a convenção que elegerá a nova presidência do PV seja adiada para 2012. A proposta foi aprovada por 29 votos a 16, em meio a duros protestos do grupo de Marina Silva. A própria Marina, que concorreu à Presidência da República em 2010, discursou durante a executiva, pedindo uma “transição democrática” no comando da legenda. Com a decisão, Penna completará o 13º ano na presidência do partido.
Segundo o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), o PV está vivendo um “pesadelo verde” desde que Penna iniciou as movimentações para manter-se na presidência. “É um golpe (de Penna) para tentar ser presidente vitalício. Se não conseguirmos mudar isso, o único caminho será fundar outro partido”, ameaçou. Em seu blog, Sirkis atribui a decisão a “acordos com as clientelas internas que dominam muitos Estados”, que buscam manter, em nome dos próprios interesses, a condição de “vergonhosa estagnação” que teria tomado conta da sigla.
Nos bastidores, comenta-se que o grupo ligado a José Luiz Penna quer neutralizar a ascensão de Marina Silva dentro do PV, considerada uma novata que ainda não conseguiu traduzir sua força política em apoio dentro da cúpula partidária. Marina conta com o apoio de verdes históricos, como Fernando Gabeira e Sérgio Xavier, além do próprio Alfredo Sirkis. “Não dá para remar contra o tsunami da realidade. Marina é a grande liderança verde do país. Quem ignora isso está olhando para o próprio umbigo”, declarou Sérgio Xavier, em entrevista publicada pela Folha de S. Paulo.
Em apoio a Marina Silva, a deputada federal Aspásia Camargo (PV-RJ) divulgou uma mensagem aos filiados verdes, via e-mail, na qual levanta críticas à atual direção nacional da sigla. Segundo ela, a ideia da ala de José Luiz Penna era adiar ainda mais a convenção nacional, realizando-a apenas depois das eleições municipais de 2012. “Precisamos dividir o poder com os mais jovens. As futuras gerações estão batendo a nossa porta. Temos que deixá-los entrar”, diz a deputada na nota. “A hora é essa! O PV tem que mudar! Antes de 2012, que prepara 2014 e não depois, como deseja a maioria da Executiva Nacional”, acentua.
A partir de agora, o esforço dos apoiadores de Marina é de convocar as bases partidárias e os movimentos sociais que consolidaram a entrada da ex-senadora no PV e a sua candidatura ao Planalto. Com esses apoios, o grupo pretende pressionar a atual executiva para convocar eleições ainda em 2011, como estaria previsto inclusive no acordo que garantiu o ingresso de Marina no Partido Verde. “Não está descartada a hipótese, porém, de Marina e os verdes históricos saírem para criar um novo partido”, garante Alfredo Sirkis em seu blog.