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Mercosul chega aos 20 anos incompleto

Bloco eleva comércio entre sócios nas últimas décadas, porém não consegue resolver as anomalias aduaneiras

Projeto de moeda única está abandonado, mas um fundo mantido por Brasil e Argentina visa sanar alguns problemas

LUCAS FERRAZ

DE BUENOS AIRES

O Mercosul fez 20 anos anteontem como um bloco ainda incompleto, mas cujo comércio, nestas duas décadas, cresceu 1.000%.
Marcado por uma clara inflexão à esquerda, que se reflete em uma integração política e social muito mais estável que a econômica, o bloco também não resolveu seu principal problema, as anomalias aduaneiras.
No Mercosul previsto pelo Tratado de Assunção, de 1991, seria impensável a adoção de barreiras protecionistas como as de seus sócios.
Não houve também a constituição de um regime jurídico único, e o grupo previsto para resolver controvérsias comerciais ainda não funciona plenamente.
Isso sem falar na criação de uma moeda única, tratada muitas vezes como prioridade, que parece ainda mais distante por causa das diferenças entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
"O Mercosul tem um problema de crescimento", diz Antônio Simões, subsecretário-geral de América do Sul do Itamaraty. "O crescimento é silencioso, mas os problemas são ruidosos."
Apesar de o comércio intrabloco ter se expandido de R$ 7,5 bilhões em 1991 para R$ 74,7 bilhões no ano passado (dos quais R$ 54,8 bilhões são entre Brasil e Argentina), com a economia dos sócios crescendo a uma média anual de chineses 8%, a integração política e social é enaltecida como o grande triunfo do Mercosul.
"Essa é uma nova fase", afirma o argentino Augustín Colombo, diretor da Secretaria do Mercosul, com sede em Montevidéu. "O bloco está homogêneo, e acho possível, por meio da integração política e social, resolvermos as questões econômicas."
Prova da nova era, segundo Colombo, foi criação do Focem (Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul), fundo de investimento alimentado pelas maiores economias (Brasil e Argentina) para tentar sanar as assimetrias econômicas em relação a Paraguai e Uruguai.
Até agora foram aprovados mais de US$ 1 bilhão em projetos, a maior parte em infraestrutura e energia.
Segundo Rubens Barbosa, presidente do conselho de comércio exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), houve uma "distorção" dos objetivos do bloco econômico, que, na opinião dele, deixou o comércio de lado.
"Não há política para aplicar com eficácia o Tratado de Assunção", diz. "E não há liderança do Brasil nisso."

NOVA DIREÇÃO
Assessor de política externa da Presidência, Marco Aurélio Garcia dá pouca importância às barreiras protecionistas, que considera "insignificantes" para a região.
Garcia vê o Tratado de Assunção como um exemplo do "neoliberalismo" que imperou na região, hoje em busca de outras inspirações.
"Sem fazer um novo tratado, os quatro países foram em outra direção. Houve na região uma coincidência de projetos nacionais e de desenvolvimento."
"Mas, como em todo processo de integração, não podemos perder a paciência", diz Augustín Colombo.