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Recuperação rápida na América Latina foi liderada pelo Brasil

Estudo do BID vê a região dividida em 2 blocos de "velocidade econômica" diversa, comandados por brasileiros e mexicanos

Mais dependente dos desenvolvidos, México cresce menos; relatório, porém, vê problemas para o Brasil no futuro

DE WASHINGTON

O mundo desenvolvido e o em desenvolvimento dividiram quase geograficamente a velocidade da recuperação mundial pós-crise de 2008 -o grupo dos "ricos e lentos" e o dos emergentes que puxaram a volta do crescimento.
O que se percebe agora é que a América Latina também se dividiu, com os mais lentos liderados pelo México e os mais rápidos, pelo Brasil.
É o que mostra um estudo que o Banco Interamericano de Desenvolvimento apresentou ontem em Calgary (Canadá), onde realiza desde sexta sua reunião anual.
As previsões de crescimento desses aglomerados latinos pelo órgão confirma a separação dos grupos. O do México deverá crescer 2,7% em 2010-2011; o do Brasil, 4,4%.
O BID explica a divisão pelas vantagens estruturais dos países na nova ordem. O grupo do Brasil (com Argentina, Chile, Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela) exporta commodities e depende pouco de remessas de países industrializados, entre outros fatores.
Esses países se beneficiam da alta nos preços das commodities, provocada entre outros pelo aumento da participação de emergentes asiáticos na economia internacional (particularmente Índia e China) e pelo interesse renovado de capitais externos por seus mercados.
Já o grupo do México (com Bahamas, Belize, Barbados, Costa Rica, Republica Dominicana, El Salvador, Guatemala, Guiana, Honduras, Jamaica, Nicarágua, Panamá e Suriname) ficou prejudicado por seus laços comerciais mais profundos -tanto em bens como em serviços- com os países industrializados, mais afetados pela crise e de recuperação mais difícil.
Os dois aglomerados participam de formas bem diferentes de uma nova ordem econômica, formada por quatro características-chave.
A primeira é "a realocação da demanda mundial de países industrializados para emergentes com alta propensão para consumir commodities primárias, que se tornaram o motor da economia global", segundo o estudo.
A segunda é a mudança significativa do comércio da América Latina para emergentes, que praticamente dobraram sua participação como destino de exportações.
"A mudança nos padrões de comércio, particularmente no grupo do Brasil, foi uma surpresa", disse à Folha Alejandro Izquierdo, um dos coordenadores do estudo.
A terceira característica é a realocação dos investimentos mundiais para mercados emergentes, com latinos e Caribe entre os maiores beneficiários. E a última é "uma nova arquitetura financeira", que oferece liquidez rápida e volumosa em momentos de crise para emergentes.

PROBLEMAS À FRENTE
O BID, porém, também sugere que a nova ordem pós-crise apresenta problemas claros para os países da região daqui para a frente.
No caso do Brasil, além do temor de superaquecimento, há o risco de fortalecimento da desindustrialização, já que um cenário global que encoraja o foco em commodities não mudará em breve.
"Boom no preço das commodities e liquidez dos mercados internacionais continuarão forçando a apreciação do real", diz Izquierdo.
Segundo ele, o momento é ideal no Brasil para medidas de aumento de produtividade, já que há boa oferta de crédito. Mas é preciso também esfriar a demanda, algo complicado para o país.
Os desafios são similares aos dos outros países do grupo do Brasil. Para os do grupo do México, o BID recomenda reestruturação produtiva e implantação de políticas comerciais inovadoras. (ANDREA MURTA)