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Em entrevista, Palocci não revela dados, mas garante: “nada ficará em segredo”

O ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, fez na sexta-feira (3) sua primeira manifestação pública sobre as acusações de ter aumentado o patrimônio em 20 vezes no período de quatro anos. As declarações de Palocci foram dadas durante entrevista ao programa “Jornal Nacional”, da Rede Globo. Na aparição, Palocci negou-se a fornecer dados concretos, como valores e nomes das empresas às quais teria prestado consultoria no período em questão. Mas garantiu que jamais fez intermediação de empresas privadas junto a órgãos públicos, e que prestará todas as informações necessárias aos órgãos de controle. “Espero que as pessoas tenham boa fé, que escutem as explicações, que vejam as documentações enviadas aos orgãos públicos e que eu seja avaliado com Justiça, de acordo com os meus direitos e os meus deveres”, disse Palocci.

A manifestação do ministro segue recomendação da presidenta Dilma Rousseff, com o objetivo de eliminar as especulações sobre um suposto enriquecimento ilícito do atual chefe da Casa Civil. Segundo as acusações, iniciadas por matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, o aumento do patrimônio de Palocci é incompatível com o rendimento bruto anual de um mandato parlamentar, além de ter se dado durante a coordenação da campanha presidencial de Dilma Rousseff. Até a decisão do ministro em falar publicamente sobre as acusações, passaram-se 19 dias e muitas críticas foram feitas à sua postura de silêncio, bem como às tentativas do governo federal de fazer uma espécie de blindagem ao ministro.

Perguntado sobre quanto a sua empresa Projeto faturou entre 2006 e 2010, Palocci garantiu que todos os lucros e serviços prestados foram registrados, com impostos devidamente recolhidos. Declarou não ver problema algum em mostrar detalhes dos contratos envolvidos. “Os números, no entanto, eu gostaria de deixar reservados, já que não são de interesse público”, declarou. Ao assumir seu cargo na Casa Civil, no começo do ano, Palocci garante ter encerrado todos os serviços e atividades financeiras da empresa. “Hoje a empresa não tem arrecadação alguma”, assegurou. “No período (anterior à posse), eu fiz a antecipação do encerramento dos contratos. Por isso, todos os pagamentos foram feitos naquele momento. Alguns pagamentos foram antecipados em até um ano. Foram serviços prestados no decorrer do tempo, em prazos de até cinco anos”.

Antônio Palocci garantiu que a empresa jamais atuou, diretamente ou representando empresas privadas, junto a órgãos públicos.”Nunca dei consultoria (a empresas com interesse em verbas públicas). Nunca participei disso. O que eu fazia era consultoria com empresas privadas”. Para justificar o fato de não relevar publicamente as empresas para as quais prestou consultoria, Palocci lembrou o caso da incorporadora WTorre, que admitiu ter pago por serviços de consultoria junto ao ex-ministro da Fazenda. “Imediatamente, deputados foram apresentar graves acusações contra a empresa. Que teria conseguido restituição de impostos, em tempo recorde, por minha intermediação. Veja a gravidade da afirmação! Não sou eu que nego, essas insinuações foram negadas logo depois pela Receita Federal”, disse o chefe da Casa Civil. Isso mostra, segundo ele, que os nomes das empresas devem ser mantidos em sigilo nesse momento. “Não divulgo nomes de terceiros porque, como há conflito político, não posso expor empresas, muitas delas renomadas em seus campos de atuação, a essa situação. Não tenho direito a fazer isso”.

Segundo chefe da Casa Civil, "não há crise no governo, há uma questão com relação à minha pessoa" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Mesmo assim, Palocci admitiu que seus clientes vinham de setores da indústria, serviços financeiros, mercado de capitais, fundos de investimento e empresas de serviços em geral. “É um conjunto de empresas que tem pouco a ver com obras públicas, por exemplo”, ressalvou o ministro, que aproveitou para rechaçar com veemência acusações de que parte das movimentações financeiras da Projeto tivesse origem em fundos relacionados à campanha eleitoral de 2010. “Ridículo. Isso é absolutamente ridículo. Não há nem um centavo (de campanhas eleitorais) envolvido”, insistiu.

“Meu papel é cumprir as leis rigorosamente”, afirmou em outro trecho da entrevista. “Não estou acima da lei, por isso tomei todas as providências nesse sentido quando abri minha empresa. Tudo está registrado e adequado. Quando assumi, entreguei à Comissão de Ética todas as ações que tomei (quanto ao fechamento da empresa). Todas as informações foram e serão apresentadas aos órgãos de controle. Nenhuma informação ficará secreta, toda a vida da minha empresa estará disponível a esses órgãos. Quando a Receita Federal garante que não há pendência quanto a minha empresa, tenho certeza que essa é uma informação relevante”.

Ao final da entrevista, Antônio Palocci garantiu que os questionamentos sobre sua pessoa não respingarão na credibilidade no governo de Dilma Rousseff. “Não há uma crise no governo, há uma questão com relação à minha pessoa. O governo toca a sua vida, e mantém suas atividades intensamente. É normal, na vida política, que existam questionamentos dessa ordem”. Questionado sobre se tinha colocado o cargo à disposição, porém, foi um tanto evasivo. “A presidenta Dilma tem à disposição não só o meu cargo, como o de todos os ministros. Não chegamos a conversar sobre esse assunto, mas não é isso o que me prende ao governo. Estou aqui (no governo) para colaborar com a presidenta”. Por fim, realçou que está “muito tranquilo” quanto a tudo que envolve sua antiga empresa e os serviços de consultoria que prestou. “Não fiz tráfico de influência, não fiz atuação junto a empresas públicas representando empresas privadas. Quando há uma acusação, tem que vir acompanhada de indícios ou de provas. Não há problema em questionar, mas quero que as pessoas tenham boa fé e que eu seja avaliado de forma justa”.