O repórter da rede britânica BBC, Andrew Jennings, foi ao Senado brasileiro nesta quarta-feira (26) para participar de audiência pública na Comissão de Educação. E não recuou em nenhuma das acusações que faz contra a FIFA, a CBF e seus líderes Joseph Blatter, Ricardo Teixeira e João Havelange. O repórter inglês garante que Teixeira e Havelange receberam propina por contratos publicitários assinados pela FIFA e a agência de marketing esportivo ISL, referentes à exploração de produtos ligados à marca Copa do Mundo.
O evento aconteceu por requerimento dos senadores Alvaro Dias (PSDB-PR) e Paulo Bauer (PSDB-SC). Na audiência, Andrew Jennings garantiu ter elementos para afirmar que os dois dirigentes brasileiros confessaram à Justiça da Suíça que participaram do esquema. No entanto, por acordo assumido dentro das leis suíças, a confissão, junto com a devolução de parte dos valores e do pagamento de uma multa, ficavam condicionadas à manutenção do sigilo sobre a identidade dos envolvidos.
O documento está concluído desde maio de 2010, mas a pressão do atual presidente da FIFA, Joseph Blatter, estaria sendo decisiva para que a justiça do país europeu não levante o sigilo sobre as cerca de 45 páginas do documento. “Blatter está nos insultando a todos, dizendo que o relatório é complexo demais. Coloque o relatório na internet, temos advogados que podem nos ajudar a compreendê-lo”, afirmou Jennings durante a audiência.
Ricardo Teixeira, de acordo com Jennings, recebeu US$ 9,5 milhões em propinas, fazendo uso de uma empresa de fachada chamada Sanud e com sede em Liechtenstein. A empresa já surgiu em investigações anteriores do legislativo brasileiro, em especial na CPI do Futebol ocorrida em 2001, onde era apontada como possível fachada para lavagem de dinheiro. O valor anunciado por Jennings soma os valores que teriam sido repassados pela Sanud a Teixeira, detectados pela CPI brasileira, aos que constam em uma lista da ISL, que mostra valores de origem incerta depositados pela empresa diretamente para a Sanud.
João Havelange, por sua vez, teria recebido até US$ 50 milhões da ISL, segundo a acusação do repórter da BBC. Os depósitos eram feitos para outra empresa de fachada, chamada Sicuretta e com sede legal em Luxemburgo. Ele garante que um repasse de US$ 1 milhão da ISL para as contas da FIFA eram, na verdade, para pagamento de propina para Havelange. O valor teria sido depositado por engano em nome da entidade, e Joseph Blatter teria feito a intermediação para que esses valores chegassem até o ex-presidente da FIFA.
“Se querem respeito do mundo, investiguem”, diz Jennings
Durante a audiência, Andrew Jennings pediu que os senadores presentes contatassem a presidenta Dilma Rousseff. O jornalista garante que pode repassar documentos ao governo federal, como modo de garantir o afastamento de Ricardo Teixeira do comitê organizador da Copa do Mundo de 2014. O presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado, Roberto Requião (PMDB-PR), garantiu que repassará o assunto à presidenta ainda na quarta-feira. O jornalista da BBC sugere também que o governo faça uma convocação formal a Teixeira, exigindo que ele torne público o relatório final da Justiça suíça onde consta seu nome.
“Ficarei aqui até sexta pela manhã. Espero que a Polícia Federal venha falar comigo, e também gostaria muito de ajudar o governo de Dilma”, afirmou o jornalista. “O mundo quer ver a celebração de um país que, em vinte anos, saiu da ditadura para uma democracia, com imprensa livre. Se vocês querem o respeito do mundo, investiguem esses problemas, e entreguem o futebol brasileiro e a Copa do Mundo a pessoas honestas e limpas”, disse Jennings.
Antes da audiência, um oficial de justiça tentou intimar Andrew Jennings a comparecer em janeiro a uma audiência em processo movido por Ricardo Teixeira contra ele. O jornalista britânico se recusou a receber o documento. – sul-21