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Índios sofrem tentativa de homicídio em área de conflito fundiário no norte do RS

Felipe Prestes/sul-21

Em setembro caingangues e guaranis denunciaram redução no atendimento de saúde | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Por volta das 22h desta quarta-feira (9), três indígenas foram atingidos por estilhaços de chumbo que provavelmente provinham de uma espingarda calibre 12. O crime ocorreu próximo à aldeia Bananeiras, num bar às margens da RS-324, entre os municípios de Gramado dos Loureiros e Nonoai, no norte do Rio Grande do Sul. A região está em meio a um conflito fundiário: índios caingangues cobram a demarcação de 1,2 mil hectares de terras, que já demora cerca de uma década.

Duas das vítimas não tiveram maiores ferimentos, mas Daniel da Silva, 33 anos, que trabalha em um posto de saúde indígena, precisou ser transferido para o Hospital São Vicente de Paulo, em Passo Fundo, onde passou por procedimento cirúrgico ainda na madrugada de quarta para quinta. Segundo o hospital, o caingangue se recupera do procedimento e seu estado é “estável”. Consta que ele deve ser transferido para um quarto e não para CTI, o que indica que não corre risco de morrer.

Os indígenas participavam de um churrasco no bar, quando uma moto com dois homens parou a cerca de 35 metros do estabelecimento. O homem que estava na garupa efetuou um número incerto de disparos. Como a arma dispara pedaços de chumbo, é possível que apenas um disparo tenha atingido os três índios.

Único conflito conhecido é por demarcação de terras, diz delegada

A delegada de Nonoai, Cinara Stormovski Freitas, conta que foi a Brigada Militar que atendeu a ocorrência e que a corporação não avisou a Polícia Civil. Assim, ela ficou sabendo do crime apenas pela manhã, informalmente, e precisou ir atrás da BM para poder iniciar o inquérito. Não ter ido ao local logo após o crime prejudica uma resposta rápida, segundo a delegada, que só conseguiu registrar a ocorrência às 15h desta quinta (10). Foi instaurado um inquérito por tentativa de homicídio.

Cinara afirma que o único conflito de que tem conhecimento envolvendo os indígenas é com produtores rurais, por demarcação de terras. Ela destaca, contudo, que não há nenhum registro de violência. “O conflito tem sido resolvido administrativamente. Sobre o crime também não é possível afirmar nada neste sentido, até porque não começamos a investigação”, diz.

Crime coincide com pressão dos índios

O coordenador técnico da Funai em Nonoai, Adolar Fiorini, afirma que o crime coincide com a presença de técnicos da coordenadoria regional da Funai, que fica em Passo Fundo. Eles tentam chegar a um acordo com os produtores rurais sobre valores a serem indenizados para as desapropriações das terras. Adolar conta que há cerca de dez anos, funcionários de uma empresa de Criciúma contratada para atuar na demarcação das terras receberam ameaças. Eles deviam deixar o local em 24 horas para não morrer. “Desde então, o processo praticamente não andou”, diz.

Em agosto deste ano, os caingangues ocuparam as sedes da cooperativa agropecuária e industrial Cotrijal e da ervateira Nonoaiense para pressionar pela delimitação das terras. A ocupação motivou a retomada dos trabalhos pela Funai. Desde segunda-feira (7), os técnicos de Passo Fundo estão na região.

Já foi delimitada uma área de 1,2 mil hectares. A comprovação de que o local era tradicionalmente ocupado pelos caingangues se dá por um mapa de 1911 que a Funai possui que mostra as áreas ocupadas por indígenas na região. Adolar explica que a área inclui uma parte de perímetro urbano, onde está uma das sedes da Cotrijal, e que a parte rural da área é valorizada justamente por ficar próxima à cidade.