Ex-presidente Helio Dourado que reformou Olímpico chama demolição de ‘crime’ e promete jamais ir à Arena
O Olímpico, quando construído na gestão de Saturnino Vanzelotti, era o maior estádio particular do país. Mas o tempo se encarregou de fazê-lo obsoleto. Por isso, Hélio Dourado iniciou em 1977 uma campanha com torcedores do país inteiro, arrecadou todo material da obra e coordenou a reforma que deu sobrenome ao estádio: Monumental. Consternado com a iminente demolição do ‘Velho Casarão’, o ex-presidente define o fim como ‘crime’ e promete jamais ir à Arena.
Abandonar o Grêmio se deve unicamente a tristeza de ver o estádio que tantas alegrias o deu ser aposentado, e posteriormente deixar de existir. Dourado, hoje com 82 anos, foi presidente do Grêmio por seis, entre 1976 e 1981, e vive o clube desde criança, tendo até ido a jogos na Baixada [primeiro estádio gremista]. Durante o processo de construção da Arena, não faltaram tentativas de barrar o processo. Nenhuma foi ouvida.
"É uma tristeza muito grande. Acompanhei toda a trajetória de saída do Olímpico para ir a tal zona [zona norte de Porto Alegre]. E nunca fomos ouvidos. Um engenheiro deixou antes de falecer uma série de melhorias. O fosso, por exemplo, seria retirado. Baixaria o campo em um metro. Colocando mais 25 mil pessoas no estádio. Isso nunca foi levado em consideração. Do lado oposto, no campo suplementar, poderíamos fazer um edifício com estacionamento. Entrada direta para o estádio. Nunca fomos ouvidos ou levados em consideração. Não quiseram manter o Olímpico. É um crime esportivo destruir o estádio. Poderia se melhorar. Ele poderia até servir para os esportes amadores, por exemplo. Demolir aquilo para fazer espigões de residência é um crime", disse Dourado ao UOL Esporte.
A despedida já ocorreu. O ex-presidente se nega a comparecer na última partida do Monumental. Não estará presente no Gre-Nal do próximo domingo, às 17h, tampouco na Arena. Ele jamais assistirá o Grêmio novamente no estádio. "Em absoluto. Pelo jeito que ela [Arena] foi feita, sem participação de quem viveu o clube, acho que a obra não merece a minha ida lá", contou.
INAUGURAÇÃO DA ARENA AMEAÇADA
O prazo se extinguiu e o Grêmio não apresentou ao Ministério Público do Rio Grande do Sul os documentos necessários para inauguração da Arena, marcada para dia 8 de dezembro. Com isso, a entidade irá buscar a Justiça para evitar que o evento ocorra sem a apresentação dos papéis
"Fui me despedir, subi e olhei tudo. Comemorei muitas coisas naquele local [Olímpico]. Eu fui na área dos ex-presidentes. Fui na tribuna. Onde eu assistia os jogos. Me lembrei da vida dada ao Grêmio, da inauguração do estádio. De toda turma que deu sacos de cimento. Aquilo não foi feito por mim, foi pela massa. E se fosse para melhorar, a massa ajudaria", disse. "Fui preparado para isso. Faz duas semanas que estive lá, fui me despedir. Fiquei só tristeza por dentro", explicou.
Reforma foi sugerida ao Conselho Deliberativo e ao Conselho Consultivo
Em vez da demolição do Olímpico, construção e mudança para Arena, Hélio Dourado apresentou ao Conselho Deliberativo um estudo que previa a reforma do estádio. Se fosse implantado, ele daria uma terceira cara a casa gremista, ampliaria capacidade e traria novos ares ao clube.
"Está se fazendo uma Arena, tudo bem, mas quando se pensou em falar na Arena eu comentei: acho que não é bom ter um estádio lá [na zona norte de Porto Alegre]. Tem um aterro sanitário. Um engenheiro me falou. Existem perguntas que não foram discutidas. Como estará o estádio quando passar a ser só do Grêmio [Dentro de 20 anos, ao fim da parceria com a OAS]? Como? Eu tive pouca ressonância. Não me importo com o que os maus fazem, mas com inoperância dos bons. Eu pedi no começo uma reunião com o Conselho Consultivo, dos ex-presidentes. Falamos e não rendeu nada. Eu estou triste, chateado. Para mim, termina a era do Grêmio. Agora é só a Arena", disse.
Segundo Dourado, seria possível remodelar o Olímpico e evitar o ‘trauma’ da mudança. "Esse estádio aí tem uma capacidade para crescer mais, usar o entorno para o esporte amador. Seria um dos poucos no país para esta área. É uma estupidez. E outra: a venda de 9,5 hectares não foi pelo valor condizente com a realidade. Ao redor do estádio tem nome de ex-presidentes, ex-jogadores, um espaço onde o Papa esteve", reclama citando as proximidades do Olímpico.
Mas tal possibilidade, agora, já não há. Dentro de uma semana a Arena será inaugurada. Neste domingo o Olímpico viverá seu último jogo oficial. Nenhum terá a presença de Dourado. Após 71 anos destinados ao clube, do qual é sócio desde os 11 de idade, o histórico mandatário abandonará os jogos ao vivo. Uma tristeza para a nação gremista, uma perda sentida pelo clube.
Estádio Olímpico próximo de aposentadoria