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Críticas de Tarso Genro irritam setores de base do PT

Governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro voltou a bater pesado na ala do Partido dos Trabalhadores que defende o ex-ministro José Dirceu, um dos fundadores da legenda, condenado na Ação Penal (AP) 470 do Supremo Tribunal Federal (STF), no processo conhecido como ‘mensalão’. Tarso bateu na tecla que já havia tocado ao afirmar, em dezembro do ano passado, que o PT não pode continuar a compor maiorias e formar alianças de maneira indistinta, em uma crítica direta à política de alianças que vigorou no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e segue até hoje, na gestão de Dilma Rousseff. O tema tem sido capaz de causar um incômodo “que irrita” a base do partido, segundo fonte ouvida pelo Correio do Brasil.

Antes, em dezembro, Tarso falou ao diário conservador paulistano Folha de S. Paulo e agora, na última edição do diário conservador carioca O Globo, ele voltou a criticar José Dirceu, embora tenha saído em defesa do ex-presidente da agremiação José Genoino. Segundo Genro, ele integra “uma corrente de opinião no PT que é minoritária, tem em torno de 40% dos delegados, a Mensagem ao Partido”.

– Ela entende que o partido precisa passar por uma profunda renovação, e essa renovação passa pelos métodos da direção; pelas relações do partido com os governos; por novos métodos de participação da base, por meio de métodos tecnológicos; e por uma avaliação muito mais profunda do que foi feito até agora sobre o que ocorreu nesta Ação Penal 470. Uma coisa é você avaliar, como eu avaliei, que teve de se inventar uma tese de domínio funcional dos fatos para condenar lideranças do partido. Outra coisa é você compreender que, tendo ocorrido ilícitos penais ou não, os métodos de composição de maiorias e de formação de alianças que nós utilizamos foram os mesmos métodos tradicionais que os partidos que nós criticávamos adotavam. É uma total necessidade você aprender a superar esses métodos. Esta é a grande questão que temos que trabalhar: qual é o sistema de alianças que nos dá uma capacidade de governar dentro da ordem democrática sem utilizar esses métodos tradicionais que herdamos da República Velha – criticou o governador gaúcho.

Genro saiu em defesa de Genoíno por ter assinado “empréstimos, agora pagos, e que o fez de boa-fé, sem saber que, por trás daqueles empréstimos, poderia ter uma articulação de intercâmbio de favores em benefício do partido e de outras pessoas”. Mas não poupou Dirceu.

– Tenho uma relação política interna de partido com Dirceu. Nunca fui uma pessoa próxima a ele. Ele teve uma participação muito importante na construção do partido e na primeira vitória do presidente Lula. Mas acho que a forma como o Dirceu está enfrentando essa questão é equivocada, porque tende a estabelecer uma identidade dos problemas que ele está enfrentando com o problema do PT, com o conjunto, e trazendo para a sua defesa o partido como instituição. A defesa que o partido tem que fazer em circunstâncias como essas, para qualquer pessoa, é que ela tenha direito a defesa e a um julgamento justo, e não o estabelecimento de qualquer identidade política, que é outra coisa. O Dirceu não pode ser demonizado no partido, até pela trajetória que ele teve, embora a forma como ele está lidando com essa questão não seja boa para o partido, estabelece uma identidade forçada dele em conjunto com o partido, coisa que, no mínimo, não existe. O partido tem que ser solidário com todos os seus quadros, errem ou acertem, para que tenham direito de defesa e julgamentos justos – afirmou.

Para o governador do Rio Grande do Sul, “o partido tem que se atualizar profundamente em relação aos métodos de direção, ao seu programa de governo. É o que defendemos para que o PT retorne às suas origens. Mas retorne sabendo que existe uma outra sociedade de classes hoje, que o projeto socialista concreto faliu. O que temo é que, se o PT não atualizar a sua mensagem, se torne um partido democrático comum, que repita, no futuro, aquilo que o velho MDB foi na resistência ao regime militar”, frisou, em sua entrevista anterior.

Ele acredita que a agenda do partido não deve ser a agenda do ‘mensalão’.

– O que o partido tinha que fazer já fez. Já fez o manifesto, já deu a solidariedade que tinha que dar. O partido tem que tratar da sua vida, ele é um projeto para a sociedade, não um projeto para ficar amarrado a uma pauta, que inclusive foi constituída por indivíduos e dirigentes, e não por decisões do partido, para que aqueles fatos ocorressem, fatos esses narrados na Ação penal 470. A agenda PT tem que ser da a reforma política, do que eu chamo de 14-18 (projeto 2014-2018) e do sistema de alianças – afirmou.

Procurado pelo Correio do Brasil, o ex-ministro José Dirceu não se encontrava disponível, imediatamente, para responder sobre as novas críticas do governador petista. Segundo sua assessoria, Dirceu está viajando e tem se comunicado apenas via e-mail. Fonte ligada ao ex-ministro, no entanto, já antevê um embate entre as forças que integram o PT, na primeira oportunidade, “com um possível ‘racha’ na base da legenda, caso permaneça o nível de críticas atual por parte do governador Tarso Genro”.

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