Lançamento da candidatura do governador Eduardo Campos, do PSB, pelo deputado Beto Albuquerque, adianta ainda mais o calendário político; PT crava o nome da presidente Dilma Rousseff, que atende a pedidos de sair mais do Palácio do Planalto para fazer corpo a corpo com a população; no PSDB, relutância de Aécio Neves em aceitar missão dada por Fernando Henrique abre espaço para José Serra pedir prévias; deu a louca no calendário?
8 de Fevereiro de 2013 às 13:00
247 – No tempo de políticos históricos como José Maria Alckmin (1901-1974), Juracy Magalhães (1905-2001) e Tancredo Neves (1910-1985), quem pensava em ser candidato a algum cargo eletivo importante negava a própria vontade até o último instante, para não ser ultrapassado por fofocas e picuinhas desgastantes. Com Fernando Collor, em 1989, que fez da pressa uma de suas principais armas de sua vitória na primeira eleição presidencial pós-redemocratização, essa postura mudou. Mas nunca se viu, como agora, um adiantamento tão grande de lançamentos de candidaturas em relação à data da eleição para presidente.
Com o lançamento, por meio de uma entrevista, pelo líder da bancada do PSB, Beto Albuquerque, da candidatura do governador Eduardo Campos a presidente – "um consenso dentro do PSB" –, o quadro de presidenciáveis já pode ser visto como praticamente completado entre os grandes partidos. E a folhinha aponta que estamos a nada menos que 20 meses do dia da eleição, em 5 de outubro, repita-se, de 2014. O friso é necessário, afinal, estamos em 8 de fevereiro de 2013!
Com direito à própria reeleição – um mecanismo que, estabelecido em 1997, sem dúvida ajudou a apressar os ponteiros dos políticos, uma vez que o candidato favorito, em tese, já inicia o primeiro mandato de olho no segundo -, a presidente Dilma Rousseff está em plena campanha. Ela teve tino político ao se apressar, ainda no ano passado, em lançar, aqui e ali, para interlocutores no Palácio do Planalto, seu desejo em disputar mais uma vez a presidência. A partir de frases dela vazadas para a mídia, assegurando a própria candidatura, o PT e o ex-presidente Lula se renderam a essa preferência. O discurso, agora, tanto da máquina partidária quanto do seu maior maquinista é o de que a candidata é Dilma. Difícil imaginar uma volta atrás sem rompimentos para sempre.
Assim, pela situação já se tem Dilma como concorrente. E pela oposição, digamos, ao centro, Eduardo Campos está colocado. Enquanto isso, o PSDB é a legenda que mais perde terreno. Mas não pelo desejo de seu político mais perspicaz. O ex-presidente Fernando Henrique, no final de 2011, lançou com todas as letras o nome de Aécio Neves a presidente pelo partido. Só faltou carregar o senador mineiro para o palanque mais próximo. Mas, mineiro, da escola do avô Tancredo Neves, Aécio ainda prefere seguir a chamada ‘old school’ e esperar a unidade de seu partido para não sofrer com puxadas de tapete. Para tanto, não colabora o ex-governador José Serra, ao contrário. No vácuo da candidatura, Serra já quer prévias para definir quem, afinal, sairá.
Ou seja, o único que está seguindo a velha linha conservador é o primeiro, aparentemente, a ficar para trás. Isso porque, apesar do que mostra o calendário, esse 2013 que estamos vivendo é, na verdade, o 2014 do calendário político.
PSB
Pelo PSB, Campos já vem montando sua estratégia há algum tempo. Além de pavimentar o caminho graças ao crescimento econômico pernambucano, impulsionado em grande parte graças aos recursos do Governo Federal em obras e projetos estruturadores, como a Refinaria Abreu e Lima, por exemplo, ele vem puxando para si o mote discussões em torno de assunto nacionais que interessam diretamente estados e municípios. Entram neste roll a revisão do pacto federativo, melhor distribuição dos recursos da União e a destinação dos royalties do petróleo. Junto a estes fatores, deve-se somar o bom resultado obtido pelo PSB nas últimas eleições municipais, o que acabou por consolidar o partido como a legenda que obteve o melhor desempenho no pleito eleitoral de 2012.
Mas o empurrão definitivo parece ter vindo com o resultado em torno da eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados. Com pouco mais de 25 deputados eleitos pelo partido, o candidato do PSB, Júlio Delgado, acabou obtendo cerca de 165 votos, demonstrando a influência exercida por Eduardo Campos no interior da casa legislativa e evidenciando o racha interno do PMDB. Agora, conforme fontes revelaram com exclusividade ao 247, a estratégia é ganhar musculatura e torcer para que outras candidaturas também ganhem peso, de maneira a levar a disputa de 2014 para o segundo turno.
Para os socialistas 2014 passa a ser essencial. Caso Eduardo não concorra, o partido terá que ficar na sombra até 2018, uma vez que o governador não poderá mais concorrer à reeleição em seu Estado. Este enfraquecimento é algo que não interessa à legenda. As especulações em torno de ser o vice na chapa da reeleição de Dilma também não seduz , já que o partido deseja tornar-se grande e não ser um mero coadjuvante no processo político. Mesmo que Eduardo venha a perder o pleito ainda assim ele sairá ganhando. Com apenas 47 anos e extremamente bem avaliado, mesmo que seja derrotado ele terá conquistado um capital político que se estenderá para o pleito seguinte, em 2018. É este o cenário que Eduardo Campos tem a enfrentar pela frente.