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A Reforma Política e a fusão entre PT, PSB, PDT e PCdoB

A Reforma Política e a fusão entre PT, PSB, PDT e PCdoB

Ou, parafraseando Marx, uni-vos, nesse momento, em prol de um projeto de país consistente e viável: o trabalhismo.

Por Cássio Moreira

Desde a época de João Goulart e suas reformas de base, que a reforma política era a base de todas as reformas. Nessa época, Santiago Dantas pregava que existiam duas esquerdas: a positiva e a negativa.  A positiva estava embasada no processo histórico, no apoio as reformas de forma lenta e gradual. Compreendia os limites de um governo progressista tendo como contraponto um congresso conservador. Por outro lado, a esquerda negativa tinha pressa. Ansiava por revolução e suas propostas eram envoltas, por vezes, de uma simplicidade e ingenuidade típica dos idealistas. Muitas vezes o projeto era o ser contra algo, não necessariamente o propor algo. Havia partidos bem definidos nesses campos, e o “ser de esquerda” tinha dois significados. Ser comunista ou ser trabalhista (apelidados de pelegos). A diferença é que o primeiro pregava a revolução, a ruptura com o sistema; o segundo pregava as reformas no sistema capitalista. Em muitos casos, se uniam de modo temporário em prol de seus objetivos distintos.

Os tempos são outros, e o “ser de esquerda” não tem mais o mesmo significado. Atualmente, ser de esquerda é ser progressista e pregar uma maior intervenção do estado na economia. Ser de direita é defender o livre mercado e ser mais conservador. Pode-se dizer que existe ainda, aquela extrema-esquerda (revolucionária) que continua tendo como proposta “soy gobierno soy contra”. Essa não compreende, ou não aceita, os limites darealpolitik… que infelizmente, e muitas vezes, se torna o tomá lá da cá dos governos com os partidos fisiologistas, seja por meio de mensalões, seja por meio de oferecimento de cargos, como vimos recentemente no filme “Abraham Lincoln” e a abolição da escravatura nos Estados Unidos.

O PT está para completar 12 anos no poder, com possibilidade de ir a 16 anos. Sustento, que o projeto trabalhista foi retomado com o governo Lula-Dilma, embora muitos acusam o PT de não ser de esquerda… estão certos se atribuírem como significado “de esquerda” ser um partido revolucionário e que visa romper com o capitalismo, mas estão enganados se o “ser de esquerda” for defender redistribuição de renda e um Estado forte e intervencionista. Nesse ponto de vista o PT é de esquerda e executa um projeto trabalhista, mas não revolucionário.

A questão a ser debatida é a manutenção desse projeto no longo prazo. O “Ficha Limpa” foi um grande avanço, mas não pode ser o único. Penso que para isso ser consolidado, é necessário uma reforma política que contemple as seguintes medidas, entre outras: 1) financiamento público de campanha, 2) voto distrital misto com lista aberta (primeiro vota no partido e depois escolhe um candidato dentro do partido), 3) diminuição do número de partidos conforme o número de prefeituras (até uns 8 por exemplo, nesse caso existiriam apenas PMDB, PSDB, PT, PSD, PP, PSB, PDT, PTB, pela ordem do número de prefeituras), 4) eleição aberta e direta pelos filiados para a direção dos partidos, 5) fim do suplente de senador e redução do mandato para 4 anos,  6) redução do número de deputados federais e senadores, etc. Além da reforma política, a democratização dos meios de comunicação e o investimento em saúde e educação ganham caráter fundamental e estratégico. Pois apenas por meio da educação e da politização do nosso povo, inclusive da classe média (que é a mais manipulada pelos meios de comunicação) que alcançaremos cidadania, progresso com justiça social e desenvolvimento com igualdade.

Agora um pouco de utopia, conforme já disse em artigo anterior (http://www.sul21.com.br/jornal/2012/11/o-golpe-de-1964-foi-contra-o-trabalhismo): parafraseando Karl Marx: PT, PSB, PDT e PCdoB uni-vos, nesse momento, em beneficio do Brasil e de um projeto de país consistente e viável: o trabalhismo.  Repito que pode parecer que sou a favor do capitalismo, pelo contrário; acho um sistema com muitas falhas. Entretanto, acredito que apenas com o tempo, o avanço das inovações tecnológicas e da evolução espiritual é que vai surgir um sistema econômico viável, com liberdade, solidariedade e maior justiça social. Esse sistema ultrapassará o capitalismo, assim como esse o fez com o feudalismo. Acredito que ele ainda não tem um nome… mas, como diria Júlio Verne, ‘Tudo que um homem pode imaginar outros homens poderão realizar’.

Assim, continuando nesse “sonho” (mas viável no médio prazo dependendo do tipo de reforma política realizada), os partidos da chamada esquerda positiva, cujos programas partidários e projetos são muito semelhantes, deveriam se fundir num único partido. Siglas como PT, PCdoB, PSB e PDT deveriam formam um partido único e ser o grande partido de esquerda do país. Missão difícil, dada às vaidades, visões pontuais diferentes, e enorme poder que as cúpulas partidárias possuem hoje. A tradicional direita seria forçada a tomar o mesmo caminho e partidos como PSDB, DEM, PP, PPS, “PIG” teriam seu único partido. Partidos mais de centro-direita, como PMDB, PV, PR, PSD, PTB, formariam o grande partido de centro, alguns deles confundem isso com servir de “aluguel” (pois não importa quem seja governo federal… eles fazem parte). Restariam ainda os partidos mais de extrema-esquerda, como PSOL, PSTU, PCB, que poderiam (missão quase impossível) se unir e formar um partido revolucionário. Os outros partidos nanicos seguiriam uma dessas quatro possibilidades.

O Brasil finalmente teria uns quatro partidos bem definidos no ponto de vista ideológico e não essa excrescência de mais de 30 agremiações de partidos, os quais a maioria serve de balcão de negócios para a politicalha que infesta nossa sociedade e política brasileira; essa que deveria atrair os melhores da nossa sociedade, e infelizmente, na maioria das vezes, atrai aqueles que na impossibilidade de crescerem profissionalmente na vida, entram na política para assim obterem suce$$o. Sonhar não custa nada…

Cássio Moreira é economista, doutor em Economia do Desenvolvimento (UFRGS) e professor do IFRS – Câmpus Porto Alegre.www.cassiomoreira.com.br