Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, rebate as críticas à elevação da taxa Selic a 8% e diz que "inflação mais baixa milita na direção de um salário real mais preservado e é condição necessária para o planejamento dos empresários, logo para o investimento"; linha é oposta à defendida pela política comandada pelo ministro Guido Mantega, de que é possível aceitar uma inflação mais alta para não sacrificar o crescimento
31 de Maio de 2013 às 08:28
247 – Um dia depois de elevar ainda mais os juros e quebrar o alinhamento com a política comandada pelo ministro Guido Mantega, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, alerta que, a partir de agora, o "carro-chefe do crescimento deve ser o investimento", e não o consumo.
Depois de passar o ano passado agindo em linha com a Fazenda, o Banco Central dirigido por Alexandre Tombini escolheu a última reunião do Copom no mês de maio para fazer a Selic voltar ao patamar de julho do ano passado, quando também era de 8%.
Leia trechos da entrevista concedida à Folha:
BC
O Banco Central tem dito que está num processo de combate à inflação. Para que isso se consolide, é preciso que o Banco Central atue. Já vínhamos comunicando que esse processo seria bastante firme e que ele ajuda a reforçar a confiança, tanto dos consumidores, da dona de casa, quanto dos empresários.
Alta dos Juros
O Banco Central iniciou o processo de aperto das condições monetárias em abril, e, neste momento, decidiu de forma unânime apertar no combate à inflação, o que reforça seu compromisso com uma inflação mais baixa, tanto no curto prazo quanto em períodos mais à frente.
PIB
Uma inflação mais baixa milita na direção de um salário real mais preservado e reforça a confiança de empresários, dá tranquilidade quanto ao horizonte de planejamento. Achamos que o PIB em torno de 3% é factível no Brasil neste ano neste contexto de política econômica.
Meta
Uma inflação menor neste ano do que no ano passado, quando foi de 5,84%, e no ano que vem menor do que neste ano, indo na direção da nossa meta. Trabalhamos neste horizonte para convergência da inflação para meta, de 4,5%.
Dilma
O posso dizer é que o trabalho do Banco Central é integralmente apoiado pelo governo Dilma.
Dólar
Temos um movimento internacional de valorização do dólar nas últimas semanas. Vamos acompanhá-lo para ver onde se estabiliza. O câmbio é flexível, vai refletir os fundamentos da economia. O Banco Central intervirá sempre que necessário para reduzir a volatilidade.
Risco de ter estagflação
A inflação está sob controle, vai declinar. A economia brasileira começa agora uma recuperação gradual. Não caracterizaria isso como processo de estagflação.
Consumo
O carro-chefe do crescimento deve ser, neste período à frente, o investimento. O consumo, naturalmente, ajuda a propagar o crescimento, mas não necessariamente vai ser o carro-chefe, definir a dinâmica de quanto a economia cresce no período à frente.
Reeleição de Dilma
A política de combate à inflação vai no sentido de assegurar uma preservação da renda real do assalariado, de dar mais confiança ao consumidor, à dona de casa e ao próprio empresário para investir. Então, o combate à inflação não tem esse elemento, na minha visão, de colocar em risco a evolução da economia brasileira.