Colunista Carlos Alberto Sardenberg, do Globo, vocaliza o desejo dos grandes jornais e revistas, que só veem erros na política econômica; segundo ele, o caminho da salvação seria chamar de volta o ex-ministro Antonio Palocci, promover um duro ajuste fiscal, subir os juros para combater expectativas inflacionárias e anunciar reformas microeconômicas; ele avisa ainda que, se Dilma não seguir os conselhos, se transformará rapidamente numa Cristina Kirchner; confiante no rumo de sua política, a presidente Dilma não pretende mexer nas peças de sua equipe nem mudar a direção da economia
13 de Junho de 2013 às 08:45
247 – Aos poucos, o jogo começa a ficar mais claro. Colunista do jornal O Globo e da rádio CBN, o jornalista Carlos Alberto Sardenberg vocalizou o desejo dos meios de comunicação tradicionais, que, nos últimos meses, só têm apontado erros na condução da política econômica. Segundo ele, a solução para a "crise econômica" (entre aspas, pois o Brasil tem hoje o menor desemprego de sua história) é chamar de volta o ex-ministro Antonio Palocci, promover um duro ajuste fiscal, subir os juros e anunciar reformas microeconômicas. Caso contrário, Dilma se transformará, segundo Sardenberg, numa Cristina Kirchner.
Confiante de que está no rumo certo, a presidente Dilma tem repelido as pressões e manda avisar que não pretende mexer nas peças de sua equipe nem na direção da economia. Ontem, durante um evento que ampliou benefícios do Minha Casa, Minha Vida, ela afirmou que a inflação não está fora de controle e disse ainda que as contas públicas estão em ordem. Embora o jornal Valor Econômico tenha previsto o anúncio de um pacote fiscal, o Palácio do Planalto informou que a política fiscal já está colocada na meta de superávit primário, de 2,3% do PIB – que, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, será alcançada.
Abaixo, o artigo em que Sardenberg pede a volta de Palocci:
Tipo Palocci – CARLOS ALBERTO SARDENBERG
Não seria um gesto assim tão fora de propósito. Na verdade, Dilma estaria simplesmente repetindo o que fez seu mentor, Lula, no começo do primeiro mandato, em 2003. Lembram-se? Palocci, então ministro da Fazenda, produziu um superávit primário maior que o obtido no governo de FHC. O Banco Central, com Henrique Meirelles, elevou a taxa básica de juros, tudo isso criando as bases para um bom ambiente macroeconômico.
Verdade que deram uma enorme sorte. O mundo desandou a crescer e a China multiplicou por 40 suas importações do Brasil. Mas se a casa aqui não estivesse em ordem teria sido impossível aproveitar a bonança externa. Como, aliás, a presidente Dilma não aproveitou a enxurrada de capitais e o bom momento dos emergentes nos últimos anos – mamata que está acabando.
Mas sabemos das dificuldades. Começa que a presidente Dilma não admite haver problemas em sua política econômica. Ainda ontem voltou a dizer que está tudo em ordem, inflação controlada, país crescendo e tudo o mais.
Deve ser, entretanto, só da boca para fora. Não é possível que não estejam vendo os dados que mostram PIB para baixo e preços para cima, mais o dólar escalando e o aumento do déficit externo. Não é possível que acreditem mesmo nas lambanças contábeis que fazem as contas públicas parecerem equilibradas.
Notícias de debates dentro do governo têm vazado para os jornalistas. Enfim, é evidente mesmo para os economistas mais próximos do governo que algo precisa ser feito. E algo mais profundo do que, por exemplo, a simples retirada do IOF para aplicações estrangeiras em títulos do governo – estimulando aquilo que antes chamavam de especulação.
Esse algo só pode ser um forte ajuste nas contas públicas – ou seja, corte severo de gastos – anunciado com credibilidade. Daí a necessidade do Palocci. Ele já fez isso, já propôs uma política de longo prazo para zerar o déficit geral do governo e tem a confiança do mercado.
Ocorre que essas virtudes transformam-se, dentro do governo Dilma, em pecados neoliberais. A própria presidente já detonou essas ideias de ajuste. Ela precisaria, portanto, mudar de ponto de vista. Não seria necessário ajoelhar no confessionário, pedir perdão e mudar por convicção. Basta a necessidade, como foi, aliás, no caso de Lula no primeiro mandato. Até hoje ele não gosta de ter assinado a Carta ao Povo Brasileiro, nem de ter deixado Palocci fazer o que fez. Mas foi flexível diante das circunstâncias.
É certo, por outro lado, que Lula nunca foi de ter algo como uma doutrina, um pensamento econômico. Dançava no vai da valsa.
Já Dilma, economista formada, tem convicções – que se mostram equivocadas. Para ela, mudar é mais difícil.
Outro problema é que Palocci está com a reputação abalada. O mercado, os agentes econômicos continuam tendo saudades dele. Já no ambiente político, a rejeição é óbvia.
Mas esse obstáculo também poderia ser driblado. Não pode o Palocci? Pois arranjem um "tipo Palocci". E já estando com a mão na massa, poderiam buscar também um "tipo Meirelles" para o Banco Central.
Não vamos aqui citar nomes, até para não queimá-los, mas o perfil está dado: experiência, capacidade comprovada na gestão pública, credibilidade no ambiente econômico e a convicção sincera de que a variável-chave no Brasil de hoje é um superávit primário enorme, caminhando para até 5% do PIB, de modo a zerar o déficit público, medido sem truques, é claro.
Complementos: uma alta forte na taxa básica de juros para derrubar as expectativas inflacionárias; ampla privatização de infraestrutura; reformas micro para tornar o ambiente de negócios mais favorável ao empreendedor privado. Mas só precisaria anunciar mesmo o tal ajuste fiscal.
Neoliberal! – gritam. Pois é, mas a alternativa desenvolvimentista de Dilma – juros para baixo, dólar para cima e gasto público acelerado – deu em inflação alta e crescimento baixo. Se nada for mudado, daqui a pouco vem mais desemprego e mais inflação, como na Argentina.
A escolha, pois, se dá entre "tipo Cristina" e "tipo Palocci".