Em discurso aos líderes culturais e empresariais do Brasil no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o papa Francisco disse que os líderes devem trabalhar sobre as questões levantadas pelos protestos no Brasil, destacando que o diálogo construtivo é "fundamental para enfrentar o presente"; do lado de fora, em Copacabana, manifestantes da marcha das vadias provocavam peregrinos, usando santas como objetos fálicos e distribuindo camisinhas
27 de Julho de 2013 às 17:18
Por Philip Pullella
RIO DE JANEIRO, 27 Jul (Reuters) – O papa Francisco afirmou neste sábado que os líderes devem trabalhar sobre as questões levantadas pelos protestos no Brasil e pediu aos padres de todo o mundo que deixem sua zona de conforto para servir os mais pobres e necessitados.
Em discurso aos líderes culturais e empresariais do Brasil no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Francisco disse que o diálogo construtivo é "fundamental para enfrentar o presente", em sua primeira menção direta aos protestos.
Em junho, milhares de manifestantes tomaram as ruas das principais cidades do país para protestar contra a baixa qualidade dos serviços públicos e corrupção, entre outros temas. A maior parte dos manifestantes é composta por jovens.
"Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade", disse o papa.
Ele pediu aos líderes para não ficarem surdos diante "dos gritos por justiça (que) continuam ainda hoje" e, em uma aparente referência à corrupção, falou sobre "a tarefa de reabilitar a política".
Francisco recebeu no palco alguns indígenas brasileiros e foi presenteado com um cocar de penas.
O papa começou seu penúltimo dia no Brasil incitando os padres a saírem de suas zonas de conforto e irem às ruas e favelas.
"Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o Evangelho", disse ele durante a missa celebrada na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro.
Desde sua eleição em março como o primeiro papa não-europeu em 1.300 anos, Francisco tem cobrado que os líderes da Igreja pensem menos em suas próprias carreiras na Igreja e ouçam mais o choro dos famintos, para preencher seus vazios material e espiritual.
"Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta a fora para procurar e encontrar", disse.
CARDEAL DAS FAVELAS
Conhecido como o "cardeal das favelas" em sua Argentina natal, por causa de seu estilo de vida austero e as visitas a áreas pobres, Francisco fez uma convocação ao clero para que assuma riscos e circule entre os fiéis mais necessitados.
"É nas favelas que nós devemos ir procurar e servir a Cristo", disse, fazendo referência a Madre Teresa de Calcutá.
Milhares de pessoas buscam ver o papa argentino desde sua chegada ao Brasil na segunda-feira para os eventos da Jornada Mundial da Juventude.
O primeiro papa latino-americano está claramente entusiasmando, num momento em que a Igreja Católica, que já foi uma força inabalável no continente, se esforça para manter seus fiéis.
Na sexta-feira à noite, em uma reunião na praia de Copacabana, ele exortou os jovens a mudar um mundo onde a comida é jogada fora enquanto milhões de pessoas passam fome, onde o racismo e a violência ainda afrontam a dignidade humana e onde a política está mais associada com a corrupção do que o serviço público.
Durante uma visita a uma favela do Rio na quinta-feira, ele pediu aos moradores para não perder a confiança e não deixar que sua esperança se extinga. Muitos jovens no Brasil viram isso como um apoio às manifestações pacíficas com o objetivo de trazer mudanças.
Na favela, ele publicou o primeiro manifesto social de seu jovem pontificado, dizendo que o mundo rico tem que fazer muito mais para acabar com as grandes desigualdades entre os que têm e os que não têm.
A Jornada Mundial da Juventude termina no domingo, quando Francisco preside a missa de encerramento, antes de regressar a Roma à noite.
Leia sobre a marcha das vadias:
Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Centenas de manifestantes participam hoje (27) da Marcha das Vadias, na orla de Copacabana, na zona sul da capital fluminense, onde também ocorre a vigília dos peregrinos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Entre as mensagens da marcha estão o fim do preconceito contra homossexuais e o da violência contra as mulheres, além da legalização do aborto.
Vários manifestantes aproveitaram também para criticar a Igreja Católica. Representantes da organização não governamental (ONG) Católicas pelo Direito de Decidir distribuíram uma carta aberta ao papa Francisco pedindo mudanças na Igreja, como o fim da condenação ao aborto e a bênção à união de casais do mesmo sexo. "Viemos fazer um contra-discurso e mostrar que o discurso do papa e do Vaticano não é o único. A gente quer passar essa mensagem para que as pessoas [que participam da JMJ] reflitam e se somem à gente", disse Kelly de Oliveira, representante da ONG.
A manifestação foi acompanhada de perto por alguns peregrinos da JMJ, que se mostraram indignados. É o caso de Conceição Vilar, que veio da Paraíba para participar do evento católico. "É uma afronta. Eles estão aqui de penetras. Estão tirando a nossa paz e a nossa harmonia. Não há espaço para isso aqui", disse.
A marcha começou no Posto 5, em Copacabana, e seguiu em direção a Ipanema, para evitar confronto com os peregrinos, que estão concentrados no lado oposto da orla, próximo ao Leme.
Edição: Aécio Amado