247 – Lá estão eles, em posições antagônicas, mas juntos, no mesmo ambiente. O satélite, a tevê, a tecnologia toda os aproxima. José Dirceu, Celso de Mello. Celso de Mello, José Dirceu. Dois homens, dois destinos.
Como cabe aos réus, José Dirceu está preocupado. Postura própria aos juízes, Celso de Mello está pensativo. Ele tem a sorte do outro em seu indicador. A esse outro só cabe esperar. Mas de que forma? Calado e reflexivo, inquieto e exasperado? Como? Onde encontrar-se com a dignidade diante da situação?
Reconheça-se: para quem não admite a própria culpa, inocente portanto declarando-se, para quem considera terem sido insuficientes e até mesmo inexistentes as provas contra si mesmo – vítima escolhida a dedo para o figurino do ‘domínio do fato’ -, José Dirceu está bem centrado. O mais que fez foi conceder uma entrevista coletiva monitorada por amigos politizando o assunto. Direito dele. Risco dele.
Considerando-se um réu político, Dirceu não dá razão aos rumores rasteiros de que irá fugir para uma embaixada amiga. Nada de correr para Venezuela ou Cuba, como Snowden (Rússia) ou Assange (Equador). Não é só para não criar constrangimentos, ele disse que, sim, acredita na Justiça "do meu País".
Você agiria desse modo? Ou às favas com as regras, salve-se a própria pele? Porque aos 67 anos de idade, com quase dez pela frente de cadeia, a confirmar-se a sentença, qualquer conta vai apontar que você vai virar os teus 70 anos atrás das grades. Você vai respeitar isso lavando pratos ou as roupas dos outros colegas de cela? Lendo, como adiantou o próprio Dirceu? Pergunte-se. Até a próxima quarta-feira 18 você pode se perguntar. Depois, se a decisão for a de ficar, esqueça. Será a tua vez, pelos próximos anos, de apenas responder. "Sim, senhor. Não, senhor. Obrigado, senhor".
Agora vista a toga de magistrado do Supremo Tribunal Federal. Mais. Cubra-se com o manto do decano, o mais antigo ali, o mais experiente, o que já viu, ouviu e falou sobre tudo. Aquele que sabe que a Justiça tem de ser cega, tem até mesmo de ser surda. Para que, desse modo, a sua própria consciência fale alto, e apenas a ela ele escute.
Como você votaria? Lançaria Dirceu, sem mais delongas, sem os agora tão comentados embargos infringentes, para a prisão, ou confirmaria o garantismo da dúvida e concederia ainda um novo foro para que ele possa, no novo ambiente, outra vez provar sua inocência? O que?
Coloque-se na pele de José Dirceu, na pele de Celso de Mello. O desconforto é ambivalente.
