A "CPI da Invasão", que investiga os danos causados durante a ocupação da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, ocorrida em julho, escutou jornalistas que trabalharam durante o processo; o vereador Márcio Bins Ely (PDT), por exemplo, relator da CPI, indagou sobre a possibilidade de se detectar um caso de "formação de quadrilha" no processo de ocupação
29 de Novembro de 2013
Iuri Müller, Sul21 – Nesta quinta-feira (28), a "CPI da Invasão", que investiga os danos causados durante a ocupação da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, ocorrida em julho, escutou jornalistas que trabalharam durante o processo. Profissionais do Grupo RBS, da Rádio Guaíba, do Sul21e da assessoria de imprensa da própria casa responderam aos questionamentos dos vereadores que conduzem a CPI.
Até o momento, a Comissão Parlamentar de Inquérito recebeu os depoimentos de vigilantes da Câmara, de servidores internos da casa e do presidente do Legislativo local, vereador Thiago Duarte (PDT). Os trabalhos investigam indícios de dano ao patrimônio público, venda de drogas, consumo de bebidas alcoólicas e censura à imprensa durante o período em que o Bloco de Lutas pelo Transporte Público e militantes de outros movimentos estiveram no local.
A Câmara de Vereadores de Porto Alegre permaneceu ocupada por cerca de oito dias no mês de julho. Nesse tempo, os manifestantes elaboraram dois projetos de lei, que previam o passe livre para estudantes, desempregados, indígenas e quilombolas e a abertura irrestrita das contas do transporte público. O Legislativo foi desocupado de forma pacífica e, nos dias seguintes, as primeiras vistorias apontaram danos pequenos ao patrimônio.
Primeiro a depor na manhã desta quinta-feira (28), o fotógrafo Ramiro Furquim, do Sul21, foi perguntado sobre o que pôde observar na passagem dos manifestantes pela casa. "Eu considero uma ocupação, não uma invasão. Utilizei os banheiros, andei pelos corredores, fui aos caixas eletrônicos e não vi sinais de pichação ou de depredação", contou.
Questionado sobre o impedimento que grande parte da imprensa encontrou ao chegar na Câmara ocupada, Furquim disse que "repórteres do Grupo RBS e do jornalZero Hora de fato foram hostilizados" e que "a agressão a Elson Sempé (fotógrafo da Câmara de Vereadores) foi lamentável". O vereador Márcio Bins Ely (PDT), relator da CPI, indagou sobre a possibilidade de se detectar um caso de "formação de quadrilha" no processo de ocupação.
João Carlos Nedel (PP) e Reginaldo Pujol Filho (DEM, presidente da comissão) alertaram repetidamente para o fato dos manifestantes terem invadido o espaço, e não ocupado. "Fiquei preocupado que o senhor chama o que ocorreu de ocupação. Foi uma horda que entrou na Câmara, sapatearam em cima da tribuna", disse João Carlos Nedel ao fotógrafo.
Adriana Franciosi, repórter-fotográfica da Zero Hora, relatou que uma repórter e um cinegrafista do Grupo RBSforam expulsos "aos empurrões" da Câmara no dia 10 de julho, quando a mobilização teve início. "Poucos veículos tiveram acesso (ao plenário da Câmara ocupada). A RBSfoi o foco inicial, mas quase todos foram impedidos de trabalhar", afirmou.
Já Gabriel Jacobsen, repórter da Rádio Guaíba que também ficou de fora da cobertura do plenário, opinou que a situação vivenciada em julho não foi tão distinta ao que ocorre no cotidiano da imprensa. "Acredito que realizei meu trabalho, estive aqui e trabalhei com as informações disponíveis. É muito comum que alguns jornalistas tenham informações com dias de antecedência, que entrem em reuniões a que outros veículos não têm acesso. Me parece que neste caso houve a opção de liberar as informações para outros veículos que não aos da grande mídia", comentou.
No final do seu depoimento, Jacobsen também aproveitou a oportunidade para deixar um recado aos vereadores: "acredito que não seria preciso criar esta CPI se houvesse algum respeito pelo usuário do transporte público em Porto Alegre". Leonardo Contursi, jornalista da Câmara de Vereadores, encerrou os trabalhos da manhã. O profissional contou que foi hostilizado pelos manifestantes enquanto pôde permanecer no plenário e impedido de buscar o seu equipamento para fotografar a reunião que os vereadores da base aliada organizaram fora dos limites da casa.