Os gaúchos contarão com 91 parques eólicos, gerando no total 2.053 megawatts (MW), até 2018, resultado de um investimento R$ 8,6 bilhões; até dezembro de 2013 havia 21 parques eólicos instalados, com 598 MW de potência; entre 2014 e 2018, haverá mais 70 que estão em construção, instalação ou projetados e vão gerar 1.455 MW; os empreendimentos eólicos da Eletrosul e parceiros, já em operação e em implantação, dariam para abastecer mais de 3,5 milhões de habitantes
10 de Junho de 2014 às 10:50
Lorena Paim, Sul 21 – No Brasil, o potencial de aproveitamento dos ventos é muito grande, mas responsável por menos de 2% de toda a energia produzida, que é predominantemente de origem hidráulica. Na corrente de uma tendência mundial, esta situação está mudando, com o impulso a novos empreendimentos. Até 2018, o Rio Grande do Sul contará com 91 parques eólicos, gerando no total 2.053 megawatts (MW), resultado de um investimento R$ 8,6 bilhões que se insere na política de incentivo a essa fonte alternativa de energia. A boa notícia é que a construção dos novos parques eólicos gaúchos está assegurada, graças aos leilões já realizados pelo governo federal e à também autogeração. Um deles será o da gigante Honda Automóveis, que produzirá em Xangri-lá energia para sua própria planta em São Paulo.
"Se contratou, deve ser entregue", esclarece Marco Franceschi, diretor de Infraestrutura e Energia da AGDI – Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento, a respeito dos futuros empreendimentos. A expectativa é que a capacidade gaúcha mais do que triplique daqui a quatro anos. Até dezembro de 2013 havia 21 parques eólicos instalados, com 598 MW de potência; entre 2014 e 2018, haverá mais 70 que estão em construção, instalação ou projetados e vão gerar 1.455 MW. Os empreendimentos eólicos da Eletrosul e parceiros, já em operação e em implantação, dariam para abastecer mais de 3,5 milhões de habitantes.
Hoje, a energia eólica é a principal fonte alternativa e renovável em evidência no mundo. Seguindo esta tendência, em 2002 o governo federal criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), que subsidiou a construção dos primeiros parques, inclusive em território gaúcho. O Rio Grande do Sul responde por 11% do potencial eólico nacional. Por se tratar de energia limpa (não poluente) e pelo potencial na oferta de ventos, a energia eólica foi definida como um dos 23 setores estratégicos da política industrial gaúcha. O Estado reúne condições atrativas para a instalação de novos parques e, em consequência, para o estabelecimento de fabricantes de máquinas e equipamentos da cadeia produtiva, bem como para prestadores de serviços especializados.
A fim de diversificar a matriz energética, o governo federal organiza leilões que contratam energia pelo menor preço e garantem a sustentabilidade ambiental. O candidato deve comprovar três anos de medição de ventos da área pretendida e, se vencedor, tem que entregar a obra num prazo de três ou cinco anos, a preço fechado. A energia eólica vem se mostrando mais competitiva e ganhando espaço nos leilões – um ou dois – realizados a cada ano em nível nacional. Além de ser uma fonte renovável e competitiva, ela é complementar à hidrelétrica, pois os melhores ventos ocorrem nos períodos com menos chuvas. A geração eólica auxilia na recomposição dos níveis dos reservatórios, ou seja, possibilita a formação de acúmulo de água para o futuro.
A exploração desta fonte começou tarde, entre 2004 e 2005, mas vem avançando rapidamente, diz Marco Franceschi. Quando o Proinfa incentivou as primeiras instalações, o preço era de R$ 250 o MW/h; agora caiu para R$ 126 o MW/h, em função da competição. O surgimento de uma indústria eólica local faz baixar os custos com logística. “Imagine o trabalho para transportar pás de 60 metros cada uma, vindas de outras regiões”, exemplifica. Fica bem mais fácil e econômico produzir aqui os componentes necessários.
É o que está acontecendo na Região Metropolitana. Em Guaíba, a Engebasa Mecânica e Usinagem está concluindo as obras de uma fábrica de torres metálicas para parques eólicos. O investimento deve alcançar R$ 76 milhões, com financiamento do Badesul, gerando 230 empregos diretos, sendo 80% de profissionais altamente especializados. Mesmo antes de abrir, a fábrica já tem dois anos de pedidos fechados. A unidade apresenta maior sofisticação tecnológica em relação à matriz em Cubatão (SP). A planta ocupa uma área total de 147 mil metros quadrados e 20,7 mil metros quadrados de área construída, com capacidade de produção de 300 torres/ano, superando a capacidade atual da sede. A empresa é responsável por mais de 35% da produção nacional desses equipamentos. Com a nova unidade, passará a atender à crescente demanda interna e a exportar peças. A fábrica em Guaíba fica em local estratégico: próximo ao Porto de Rio Grande (a 291 km), e relativamente perto das fronteiras do Uruguai e Argentina.
Ao lado da Engebasa, em 2015 deverá ser instalada a fábrica de aerogeradores da argentina Impsa. Será a terceira planta do grupo no Brasil (as outras ficam em Pernambuco). A meta é fabricar 220 peças por ano, parte delas destinada ao complexo do Chuí, na fronteira com o Uruguai. Os novos modelos de máquinas foram concebidos especialmente para as condições climáticas do sul do país. O complexo do Chuí alcançará uma produção anual de 587.777 MW, o suficiente para abastecer com energia eólica cerca de 280 mil famílias e evitar a emissão de 17 mil toneladas de dióxido de carbono na atmosfera. É o equivalente ao consumo de 886 mil barris de petróleo por ano ou ao plantio de 68.763 árvores.
No ano passado, a Alstom inaugurou em Canoas (Região Metropolitana) sua fábrica de torres de aerogeradores. A capacidade será de 120 torres de aço por ano, o suficiente para fornecer aproximadamente 350 MW. A unidade será responsável por atender ao complexo Corredor do Senandes, em Rio Grande, o primeiro projeto eólico da Odebrecht Energia. A fábrica de Canoas abastecerá os mercados na região sul da América Latina, uma área “em franco crescimento”, segundo a Alstom.
Junto com o Nordeste brasileiro, o Sul é a região mais propícia ao aproveitamento econômico dos ventos. O maior potencial do Rio Grande do Sul fica no noroeste, sudoeste, sul e em todo o litoral. O primeiro parque inaugurado (em 2006) foi o de Osório, cujo complexo tem potência de 150 MW. São 75 aerogeradores no alto de torres de cem metros de altura, ao longo de três parques que compõem o projeto.
Mas a maior região produtora não só do RS, mas da América Latina, será a de Santa Vitória do Palmar/Chuí, onde os estudos constataram a predominância de ventos mais fortes e por maior período, ao longo do litoral sul. O empreendimento da Eletrosul e parceiros, denominado Campos Neutrais, reunirá três grandes parques: Geribatu, Chuí e Hermenegildo, que somarão 583 MW de capacidade instalada, suficiente para abastecer uma cidade com 3,4 milhões habitantes. Toda a energia produzida será conectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) por uma linha de transmissão de 500 quilômetros de extensão. A linha está sendo construída entre Santa Vitória e Nova Santa Rita e demandou uma solução inovadora para não prejudicar o meio ambiente. O Parque Eólico Geribatu, com 258 MW divididos em dez usinas, já está em implantação.
Honda opta por autogeração a partir de planta no litoral gaúcho
Além do mercado regulado, no âmbito do qual acontecem os leilões do governo federal, o sistema de autogeração de energia eólica também funciona no Brasil, permitindo a diminuição de custos por parte das empresas. O potencial para autogeração é grande e o governo do Estado está atento a este nicho. “O Rio Grande do Sul tem potencial gigantesco; a logística é mais fácil, com bom acesso rodoviário, mão de obra disponível, enfim, toda a infraestrutura necessária”, diz Marco Franceschi, diretor de Energia da AGDI. A Honda Automóveis, por meio da Honda Energy, está construindo um parque de 27 MW em Xangri-lá, no litoral gaúcho, depois de prospectar quase 30 lugares para esta finalidade. É um mercado novo, no qual a indústria produz energia para si própria – no caso, a planta de Sumaré (SP).
Por e-mail, Carlos Eigi, presidente da Honda Energy e diretor executivo da Honda Automóveis do Brasil, falou sobre o projeto.
O que levou a Honda a investir em um parque eólico?
É premissa global da Honda buscar alternativas para reduzir os impactos ambientais de suas atividades. Em 2011, a empresa estabeleceu a meta de reduzir em 30%, até 2020, as emissões de CO2 (dióxido de carbono) de seus automóveis, motocicletas e produtos de força, e também de seus processos produtivos em todo o mundo, em comparação com os níveis obtidos em 2000. Após dois anos de estudos e muitas simulações, percebermos que o melhor custo-benefício seria o investimento em energia eólica. Cogitamos biomassa, solar, PCH (pequenas centrais hidrelétricas), mas a eólica demonstrou ser a melhor opção.
Assim, o parque eólico é uma das diversas iniciativas que a empresa vem realizando neste sentido e contribuirá significativamente para que as metas sejam atingidas no Brasil.
Por que a Honda escolheu o RS para a implantação? Quais as vantagens?
A equipe de trabalho visitou quase 30 sites diferentes no Brasil e concluiu que o melhor local seria a cidade de Xangri-lá (RS). A escolha se deu após uma criteriosa avaliação da qualidade dos ventos (fortes e constantes), capacidade da linha de transmissão, logística e proximidade com portos, subestações elétricas e outros parques em operação.
Qual a previsão de funcionamento?
A previsão é iniciar as operações do parque eólico no final do segundo semestre de 2014.
Como estão as obras? O que falta?
As obras estão seguindo o cronograma. No momento, estão sendo feitas as fundações para receber as torres e a construção do prédio administrativo.
Detalhes técnicos do projeto (instalações, potência, equipamentos)?
O empreendimento contará com nove turbinas, de 3 MW, com capacidade instalada de 27 MW. Isto representará a geração de 95.000 MW/ano, o equivalente ao consumo de energia de cidades com aproximadamente 35 mil pessoas e à demanda de energia elétrica da planta de Sumaré, que possui capacidade instalada para a produção de 120 mil carros por ano.
Como é a geração de energia atual para a planta de Sumaré? Quanto de CO² a fábrica deixará de emitir?
A fábrica de Sumaré tem contrato com a CPFL, que fornece energia elétrica para a planta. Com o projeto, a Honda deixará de emitir cerca de 2,2 mil toneladas de CO2 por ano, o que representa aproximadamente 30% do total gerado pela fábrica de automóveis.