Professora diz que Bernardo era criado pelo pai "na ponta do facão"
Em depoimento à Justiça de Três Passos, coordenadora do Colégio Ipiranga relata que Leandro Boldrini desdenhou de tratamento psicológico para o filho.
Coordenadora do Colégio Ipiranga e ex-professora do menino Bernardo Uglione Boldrini, Simone Müller, 41 anos, relatou à Justiça, durante depoimento nesta segunda-feira no Foro de Três Passos, que o médico Leandro Boldrini criava o garoto "na ponta do facão". Segundo ela, o menino tinha problemas emocionais, se exaltava, era irritado e não conseguia prestar atenção nas aulas. Fora da escola, porém, era "amável e educado". Por isso, a coordenação do colégio procurou Boldrini e sugeriu orientação psicológica para entender o comportamento da criança.
— Ele (Boldrini) disse que tinha feito cadeiras de Psicologia na faculdade e que o filho dele não precisava disso. Que ele (Boldrini) tinha sido criado na ponta do facão, e assim seria com Bernardo — relatou Simone.
A professora também contou que o garoto era proibido pelo pai e pela madrasta de falar na própria mãe, Odilaine Uglione, morta em 2010. Além disso, Bernardo demonstrava constrangimento para expôr a intimidade do âmbito doméstico e frequentemente fazia as próprias refeições, já que não tinha comida em casa. Nos finais de semana, Simone garantiu que ele era proibido de ficar com a família e tinha de procurar os amigos:
— Havia um código de convivência e ele não podia falar da vida familiar na escola.
Simone Müller afirmou à promotora Silvia Japper que na segunda-feira seguinte ao desaparecimento do garoto, em abril deste ano, Leandro Boldrini e Graciele Ugulini não foram ao Colégio Ipiranga procurá-lo e não telefonaram atrás de informações sobre ele. O filho da professora, que era muito amigo de Bernardo, achou estranho o menino não estar com o telefone celular quando sumiu, já que ele sempre carregava o aparelho.
Sete testemunhas prestam depoimento
Simone Müller foi a primeira testemunha de acusação a falar na manhã desta segunda-feira no Foro de Três Passos, na segunda audiência do Caso Bernardo. Mais seis pessoas devem prestar depoimento ainda hoje.
Dos quatro réus, apenas Edelvânia Wirganovicz está presente e acompanha as oitivas. Leandro Boldrini, Graciele Uguilini e Evandro Wirganovicz só devem comparecer à Justiça quando forem inquiridos, ainda sem data prevista.
Ao todo, 77 testemunhas foram arroladas para falar. Algumas estão sendo ouvidas por carta precatória, e as demais presencialmente no Foro de Três Passos. Ainda não há data marcada para o julgamento.
Imagens revelam ameaças sofridas por Bernardo
A delegada Caroline Bamberg Machado afirmou, no mês passado, que a Justiça recebeu um vídeo periciado no telefone de Boldrini que revelaria que o médico e a madrasta do menino, Graciele Ugulini, ridicularizavam as reclamações de Bernardo sobre as agressões sofridas em casa. Zero Hora teve acesso à íntegra da gravação de 28 minutos em que Bernardo recebe veladas ameaças da madrasta em casa. ZH publicou outras imagens feitas em um celular pelo médico, que mostram o que parecia ser uma prática de Boldrini e de Graciele: gravar as brigas e reações do garoto.
click-rbs/Mauricio Tonetto, de Três Passos