Para compreender o quadro político e eleitoral brasileiro,é preciso considerar o esgotamento das formas de disputa, de representação e de governabilidade construídas em nossa incipiente experiência democrática.
O que temos no Brasil é uma máquina política vocacionada ao assalto do Erário. Ela não foi inventada pelos atuais partidos e é possível que exista desde Tomé de Souza. O fato é que os governos das últimas duas décadas não desmontaram esta máquina, pelo contrário: a azeitaram. O Estado brasileiro vem sendo colonizado por projetos particulares de poder. De um lado, pelo fatiamento de suas estruturas entregues aos partidos como se fossem feudos; de outro, pela preponderância do corporativismo, pelo crescente descompromisso com a função pública e pela usina de privilégios montada nas cúpulas dos Poderes.
De uma forma intuitiva, milhões de pessoas expressaram, em junho do ano passado, seu fastio diante dos resultados mais evidentes desta trajetória: a ineficiência dos serviços públicos e o cinismo diante da corrupção. Os protestos rejeitaram os partidos, o que foi interpretado por alguns como “despolitização” ou “fascismo”. Muito possivelmente, entretanto, o que havia ali era um sintoma – no fundamental progressista e inovador – de recusa a uma política onde já não cabiam mais sonhos. Os milhões que foram às ruas aspiravam por reformas e suas expectativas foram traduzidas por símbolos porque esta é a linguagem dos sonhos. Diante deles, a resposta do Estado oscilou entre as promessas e as balas de borracha.
Marina Silva incorpora, em muito, os símbolos daquelas manifestações. Ela mesma é uma coleção de símbolos generosos, mulher, negra, floresta, planeta, integridade. Por isso, talvez Marina seja a configuração de uma ideia cujo tempo chegou. Algo assim como a esperança convocada, desta vez por ironia, a enfrentar o medo.