Máfia das próteses: hospitais receberiam parte de propinas de empresas
Ex-funcionária de fornecedor de próteses afirmou que, para entrar nos hospitais, é cobrado até 20%
A Polícia Civil e o Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul investigam novas denúncias contra a máfia das próteses, dessa vez envolvendo hospitais que estariam recebendo parte das comissões pagas pelos fornecedores por equipamentos médicos. Reportagens publicadas pela TV Globo mostraram que médicos ganham propina para fazer cirurgias superfaturadas e, às vezes, desnecessárias.
Uma ex-funcionária de um fornecedor de próteses, que revelou no último domingo que pacientes de um hospital em Itajaí (SC) obtiveram stents – tubos metálicos usados para expandir os vasos sanguíneos entupidos do coração – com prazo de validade vencido, afirmou hoje ao Fantástico que “para entrar no hospital, é cobrado de 10% a 20%. Então, praticamente hospitais todos têm uma taxa de comercialização”.
Em Pelotas, a promotora Rosely de Azevedo Lopes investiga uma cobrança parecida sobre o preço das próteses em três hospitais credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2012, a Santa Casa da cidade admitiu ao MP que ficava com parte do valor das próteses. Em documento, o hospital alega que o dinheiro serve para cobrir os custos de logística e compensar o baixo valor do repasse do SUS.
– É cobrada uma taxa de comercialização. Na época era cobrada taxa de comercialização, em torno de 15%, sobre o material que é oferecido. Nós não vemos nenhuma ilegalidade – disse o procurador jurídico da Santa Casa João Paulo Haical ao Fantástico.
Na semana passada, uma operação da Delegacia Fazendária do Estado cumpriu 21 mandados de busca para investigar a máfia das próteses. Entre os alvos estava o apartamento do médico Fernando Sanchis, suspeito de falsificar documentos em pedidos de liminar para realizar cirurgias superfaturadas. Para evitar que deixem o país, Sanchis e mais quatro médicos, além de três advogados, tiveram os passaportes apreendidos.(ZH)
Deputados se articulam para abrir CPI sobre a máfia das próteses
Parlamentares pretendem investigar irregularidades com próteses, exames e medicamentos.
A denúncia da máfia das próteses repercute no Congresso Nacional. Mesmo em período de recesso, os deputados federais Paulo Pimenta (PT-RS) e Sílvio Costa (PSC-PE) articulam a abertura de uma CPI para investigar o caso.
Os parlamentares conversaram nesta segunda-feira e pretendem coletar as 171 assinaturas necessárias para criar a comissão de inquérito a partir da primeira semana de fevereiro, quando se inicia a nova legislatura. Ao longo de janeiro, a ideia é reunir material de investigações e denúncias, junto com publicações na imprensa, para embasar a abertura da CPI.
Além de irregularidades no uso de órteses, próteses e materiais especiais, a CPI pretende apurar eventuais fraudes na indicação de exames e medicamentos, que também poderiam ser receitados sem necessidade ou mediante pagamento de comissões.
— É possível que seja a ponta de um iceberg, que a investigação revele um esquema que vai muito além das próteses — diz Paulo Pimenta.
A máfia das próteses foi denunciada em reportagem veiculada no domingo pelo Fantástico, da TV Globo. A fraude envolveria pagamentos de comissões a médicos e dentistas por distribuidores de próteses e implantes, e ocorreria em cinco Estados.
As comissões pagas aos médicos e dentistas ficariam entre 15% e 50% do valor dos produtos. Os profissionais assinariam contratos de consultorias com as empresas a fim de justificar os repasses.
Conforme a reportagem, na fraude as empresas chegariam a propor aos médicos que incluíssem nos relatórios materiais não utilizados nos pacientes. Também haveria registro de cirurgias desnecessárias.
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