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Desmonte da equipe aeromédica custará mais caro para Estado

Marco Weissheimer, Sul 21 – O trabalho da equipe de atendimento aeromédico do Estado do Rio Grande do Sul deverá ficar a cargo de uma empresa privada, a Uniair, empresa de transporte aeromédico da Unimed, a um custo mais elevado do que o prestado pelo serviço do Estado e sem capacitação para realizar trabalhos de resgate. O desmonte da equipe aeromédica do Estado é um retrocesso que poderá ter graves consequências no atendimento à população. A avaliação é de Maicon Vargas, ex-coordenador do Samu, coordenador médico da equipe e responsável pelo treinamento de médicos e enfermeiras que participam da mesma. Vargas classificou como lamentável a decisão do governo do Estado e a desqualificação do trabalho da equipe feita pelo secretário estadual da Saúde, João Gabbardo, que chegou a definir o serviço como "totalmente dispensável".

Segundo Vargas, o desmonte da equipe já está em curso. Integrantes do grupo de transporte e resgate relataram que, no último dia 2 de fevereiro, após ter sido acionada pela Brigada Militar para transportar um paciente, vítima de um traumatismo, de Santana do Livramento para o Hospital Cristo Redentor em Porto Alegre, a equipe aeromédica pública estadual foi substituída pela compra de um transporte privado da Uniair, que teria custado cerca de cinco vezes mais aos cofres públicos.

Após informar a central do Samu que estava disponível para executar o transporte, a equipe aeromédica foi informada por uma enfermeira da Secretaria da Saúde que ela não deveria fazer o serviço. Para a Central do Samu, a equipe aeromédica não existia. Uma médica da equipe teria sido coagida e alertada sobre "consequências administrativas" caso fosse feito o deslocamento para Livramento. No mesmo dia, a Secretaria da Saúde teria realizado a compra de outro transporte privado pela Uniair, desta vez do município de Tramandaí para Porto Alegre.

O governo Tarso Genro investiu R$ 26 milhões na aquisição de dois helicópteros para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). As duas aeronaves da marca Augusta Westland, modelo Koala AW 118 Kx, foram adquiridas para serem utilizadas em atendimentos e resgates feitos pelo SAMU, dentro do projeto Aero Médico Estadual.

Maicon Vargas lamenta que a equipe aeromédica do SAMU "não exista mais" para o governo do Estado. "O Secretário da Saúde desqualificou a equipe coletivamente, ofendeu profissionais qualificados com experiência de vários anos neste trabalho. A equipe vai processar por difamação e calúnia o diretor do Departamento de Atenção Hospitalar e Ambulatorial da secretaria, Alexandre Brito, que, em entrevista à rádio Gaúcha, no dia 29 de janeiro, criticou a qualidade da equipe e, entre outras coisas, disse que seus integrantes "não tinham treinamento suficiente para entrar numa aeronave". "Isso é um absurdo completo. Não existe hoje no Estado outra equipe treinada para fazer o tipo de resgate que fazemos, como ocorreu no recente caso de Maquiné. Essa equipe teve um treinamento intenso de 12 meses antes de embarcar em um helicóptero", rebate o coordenador médico do serviço.

"O secretário acha pouco o salvamento de 24 vidas?"

Vargas lembra que nos próximos dias chega ao Rio Grande do Sul o segundo helicóptero, comprado com recursos da Saúde, destinado ao trabalho da equipe aeromédica. "O que vão fazer com ele?" – indaga. O coordenador médico da equipe observa ainda que o serviço de táxi aéreo da Unimed opera só com remoção de pacientes, não estando habilitado para operações de resgate. "Acho curioso o discurso do secretário da Saúde quando ele disse que houve só 24 salvamentos no ano passado. Só? Ele acha pouco o salvamento de 24 vidas? E foram 24 só pela SAMU aéreo. Infelizmente estamos assistindo ao desmantelo de algo construído com extrema dificuldade durante dois anos e meio", afirma.

O médico também questiona a lógica econômica dessa substituição do trabalho da equipe aeromédica do Estado pelo de uma empresa privada. Com essa escolha, estima Maicon Vargas, o Estado vai gastar em torno de R$ 6 milhões/ano com o serviço de transporte de pacientes. "Com a equipe aeromédica do SAMU, gastaria entre R$ 3,5 e 4 milhões, com um serviço de qualidade, com a capacidade de realizar resgates delicados e submetido a controle público. Esse gasto a mais é contraditório com o discurso da austeridade que vem sendo adotado pelo atual governo", observa.

Uniair: "Continuamos prestando o mesmo atendimento"

O presidente da Uniair, Mauricio Alberto Goldbaum, disse ao Sul21 que não houve nenhuma mudança nos serviços prestados pela empresa ao Estado. "Nós continuamos prestando o mesmo atendimento. Sempre fomos nós que prestamos esse atendimento. Temos um contrato licitado firmado com o Estado há dois anos e ele foi renovado no final de 2014. Não mudou nada. O atendimento segue sendo feito". Mauricio Goldbaum confirmou que a Uniair não está habilitada a atuar em operações de resgate, só no transporte de pacientes e órgãos para transplante.

Secretaria da Saúde: "era um voo internacional"

O Sul21 questionou a Secretaria Estadual da Saúde sobre se a equipe aeromédica recebeu ordens para não executar o deslocamento de Livramento e também sobre os custos da contratação de uma empresa privada para esse tipo de operação. A assessoria de comunicação da Secretaria encaminhou nota confirmando o deslocamento realizado no dia 2 de fevereiro pela Uniair, mas negando que a escolha tenha a ver com questões de gestão. Segundo a nota, os serviços da Uniair foram contratados por se tratar de um vôo internacional. Segue a íntegra da nota da Secretaria:

"A Secretaria Estadual da Saúde (SES/RS) comunica que o paciente de Santana do Livramento foi transferido a Porto Alegre e está sob cuidados médicos no Hospital Cristo Redentor. O estado do paciente é estável e todos os procedimentos médicos, inclusive operatórios, já foram realizados. O translado ocorreu ainda na segunda-feira, dia 02 de fevereiro, em prazo considerado adequado para este tipo de serviço, pois era necessário realizar voo internacional, uma vez que o pouso deveria ser realizado em Rivera, no Uruguai".

A Secretaria não se manifestou sobre a questão dos custos da utilização dos serviços da Uniair.