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A primeira cotista indígena a se formar em medicina na UFRGS

Primeira indígena a se formar em medicina pela UFRGS, Lucíola Maria Inácio Belfort está ansiosa para a colação de grau que será realizada nesta sexta-feira (19); a índia, que reside na aldeia Terra Indígena Serrinha, no município de Ronda Alta, na Região Norte do Rio Grande do Sul, sempre sonhou em ser médica e entrou no curso em 2008, como a primeira cotista indígena de medicina na universidade; "A comunidade indígena sofre preconceito, ainda somos muito discriminados, por isso digo que a vitória não é só minha, é de todos os indígenas, negros e pardos", disse

 

18 de Junho de 2015 às 14:36

Rio Grande do Sul 247 – Primeira indígena a se formar em medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Lucíola Maria Inácio Belfort está ansiosa para a colação de grau que será realizada nesta sexta-feira (19). A índia, que reside na aldeia Terra Indígena Serrinha, no município de Ronda Alta, na Região Norte do Rio Grande do Sul, sempre sonhou em ser médica e entrou no curso em 2008, como a primeira cotista indígena de medicina na universidade.

Lucíola tem origem indígena do povo kaingang e nordestina, e vem de uma família de mulheres estudiosas. A mãe é professora bilíngue e criou as cinco filhas entre os livros. Duas se tornaram advogadas, uma é artista e escritora e a outra é jornalista, todas com experiências reconhecidas em suas áreas de atuação voltadas às questões indígenas.

"Minha mãe nos criou de uma forma muito independente e autônoma, talvez por sermos mulheres e não termos as responsabilidades tradicionais que os homens assumem na aldeia. Cresci em um ambiente familiar diferenciado, de muito estudo. Eu sabia que enfrentaria barreiras e dificuldades indo atrás dos meus sonhos, mas pensava muito nas coisas boas que poderia alcançar", disse Lucíola ao G1.

A indígena, mãe de Kafág, hoje com seis anos, ingressou na faculdade com mais oito indígenas no sistema de cotas. Para garantir a vaga, Lucíola fez uma prova de português e redação. Ela se formou em enfermagem pela Unijuí e começou a carreira desenvolvendo trabalhos em Programas de Saúde da Família. Depois, trabalhou como coordenadora de polo base na antiga Funasa, em São Feliz do Araguaia, em Mato Grosso, sempre atuando em comunidades indígenas.

Para se formar em medicina, Lucíola conta que sofreu muito preconceito e discriminação de outros estudantes e até de professores dentro da universidade, especialmente nos primeiros anos de curso.

"A gente entra na faculdade achando que vai fazer novas amizades, encarar as aulas e muito estudo, claro. No momento em que ingressei, me tornei estudante profissional, me dediquei 100% ao curso, mas logo comecei a receber mensagens de discriminação nas redes sociais por ser cotista, por ser indígena e, ainda mais, por não ter as características físicas de índia kaingáng. Foi bem difícil, a comunidade acadêmica em geral não estava preparada para isso, houve muita revolta pela minha presença ali, mas também recebi auxílio de muita gente, o que me ajudou a não desistir", disse.

Lucíola tem como objetivo se especializar em ginecologia e obstetrícia. "É uma grande vitória. Apesar de todas as dificuldades, me tornei uma pessoa mais forte e espero que também um ser humano melhor. A comunidade indígena sofre preconceito, ainda somos muito discriminados, por isso digo que a vitória não é só minha, é de todos os indígenas, negros e pardos. Essa é uma porta que foi aberta para nós e tenho certeza que muitas pessoas ainda vão passar por ela", acrescentou.