FOI BOM ENQUANTO DUROU
Os dirigentes de todos os países procuram um sistema de governo que promova o progresso, o bem estar e a felicidade de suas populações. Alguns acreditam que o modelo ideal é o democrático, outros, o socialista, outros o comunista, e assim por diante, inclusive aqueles de cunho religioso. Os dirigentes do Brasil não fugiram à regra. Diante da desgraça que foi o período da ditadura militar, um punhado de insurgentes, combatidos como terroristas e, como tal, perseguidos e torturados, conseguiram derrubar o regime ditatorial. Sem derramamento de sangue, nem no momento da implantação do regime militar, nem no da sua derrubada. O regime democrático foi restabelecido. Uma nova Constituição foi outorgada, a Constituição Cidadã. Foram eleitos presidentes, os paladinos da democracia, e o Congresso Nacional foi composto por verdadeiros baluartes do modelo democratico. O povo festejou nas ruas essa mudança que devolveria o bem estar e a felicidade dos brasileiros. Os governos democráticos reconheceram a coragem e o sofrimento daqueles insurgentes, reconhecidos como heróis e, como tal, indenizados e aposentados como reparação pelos prejuizos morais e materiais que tiveram. Foram precisos alguns anos para que os novos governantes pudessem reorganizar o país e prepará-lo para o período de progresso e, consequentemente, de bem estar e de felicidade para o seu povo. Com o país organizado, os sinais de prosperidade levaram os brasileiros a uma euforia sem limites. Era hora de seus governantes sairem pelo mundo a falar da excelência do seu modelo de governar. Seria mesquinho não partilhar com outros povos esse segredo de como proceder uma boa governança. Chamou-se a atenção até de dirigentes de países como os Estados Únidos e a Alemanha para que copiassem esse modelo redentor implantado no Brasil. O mundo estava extasiado com o Brasil, país da felicidade e da alegria, e extasiado com os seus governantes. O país era um dos poucos que haviam erradicado a fome, a falta de habitação e investido prioritariamente na Educação. O Brasil perdoava dívidas de países mais pobres, refazia contratos que pudessem ser considerados leoninos pelos nossos visinhos, financiava a infraestrutura, estradas, agricultura e grandes obras para que, no final todos pudessem ser felizes, também, como os brasileiros. Verificava-se que as pessoas com alguma influência no governo faziam fortunas fabulosas num piscar de olhos. Uma maravilha. O Brasil ainda não era a Ilha da Fantasia, mas estava bem perto. O sistema democrático era, pois, o modelo perfeito de governar. Ou quase. Pois, como tudo que é bom dura pouco, há alguns anos atrás já se podia notar sinais de que alguma coisa não estava funcionando bem no Governo. Esses sinais foram se tornando mais insistentes e mais evidentes. Mas o Governo fechava os olhos e os ouvidos a esses sinais que, achava, deveriam ser passageiros. Os deuses não erram, e os governantes brasileiros eram deuses, os seus conhecimentos e as suas competências estavam acima de qualquer suspeita. Surpreendentemente, o castelo era de cartas e ruiu. Ruiu para valer, não sobrou pedra sobre pedra, ou melhor, não sobrou carta sobre carta. Descobriu-se que o sistema democrático era perfeito mas de curta duração, tinha prazo de validade. Verificou-se, também que o sistema, ao final da sua validade, deixa nas pessoas uma sonolência. Elas custam a acordar. Wilmar Rodrigues de Almeisa – advogado.