O PREÇO DA OMISSÃO
Em tempos de dificuldades como os que o país vive hoje, uma frase, sem autoria definida, volta, seguidamente, à baila: “Enquanto uns choram, outros vendem lenços.” As pessoas a encontram estampada e comentada na imprensa em geral. A lição que ela transmite é um incentivo às pessoas para que não fiquem somente chorando pelo leite derramado, mas que procurem reagir e, sem hesitar, comecem tudo de novo. O intrigante conteúdo da frase quer provocar essa reação. Quer que a pessoa tire do insucesso as lições de como não proceder, de como não mais incorrer nos percalços encontrados, de como contorná-los. Enfim buscar um recomeço com mais cuidado, com mais prudência e com maior criatividade. As pessoas devem perder, quando muito, uns cinco minutos para xingar os causadores do seu insucesso, ou mesmo para xingar a sí próprio, para lamentar-se. O restante do tempo deve ser aplicado na busca de novas soluções, pois elas sempre existem e podem, com algum esforço, ser encontradas. A análise dessa nova situação vai mostrar que não foram somente os percalços externos, os arrochos causados pela imprudência governamental, que prejudicaram os resultados do seu empreendimento. Vai mostrar, surpreendentemente, que a pessoa também contribuiu para esses maus resultados. Vai descobrir que, com a sua omissão, contribuiu, e muito, para essa situação de desgoverno do país. Vai verificar que sua preocupação nunca foi além do seu negócio, nunca foi além dos cuidados com a sua família. Em quem a pessoa votou na eleição passada? Não se recorda. Lembra que foi votar porque era obrigada. Por graça ou por indiferença acabou votando nos cacarecos, acabou votando nos espertalhões, nos demagogos, nos corruptos. Portanto, essas pessoas também são responsáveis pela crise. É grande o número de pessoas que entende que a política é para os desocupados, para os que não têm o que fazer. Não entendem como as pessoas encontram tempo para participar, para influir, para criticar. Pois agora essas pessoas vão entender melhor que não foi somente a incompetência do governo que causou a crise. Foi, também, a omissão das pessoas. As lições que ficam para essas pessoas que se omitiram, é a de que não somente o acompanhamento da política nacional se faz necessário, como também, o do Estado e o do seu Município. Todos se dizem cidadãos, mas alguns voltam-se apenas para o seu mundinho familiar, profissional , para o seu mundinho social. Não são ainda cidadãos na acepção da palavra. Precisam acrescentar algumas virtudes mais. Precisam votar conscientemente e acompanhar as atividades dos seus representantes. Precisam ter a percepção de que a crise não surge de um momento para outro. A atual crise já vinha há muito tempo sinalizando amarelo e as pessoas é que não percebiam. Estavam preocupados apenas com seus interesses particulares. Enquanto isso, enquanto essa desatenção dos cidadãos, os corruptos dilapidavam a Petrobrás. Enquanto isso maus servidores saqueavam varios setores do governo. Enquanto isso o andar de cima dos Poderes se autoconcediam os mais incríveis rendimentos, as mais incríveis mordomias, as mais exageradas aposentadorias. A omissão da maioria dos cidadãos criou essas oportunidades. As dificuldades de hoje, o custo altíssimo das tarifas, dos impostos, sem um mínimo de contraprestação, tem um preço. O preço da omissão do cidadão inconsciente. Wilmar Rodrigues de Almeida – advogado.