Renuncia Jânio Quadros
No dia 25 de agosto de 1961, o presidente brasileiro Jânio Quadros renuncia ao cargo
Jânio da Silva Quadros (1917-1992), foi o décimo sétimo presidente do Brasil com um mandato que iniciou em janeiro de 1961.
No entanto, Jânio não completou nem sete meses na presidência. Seu governo – que tinha como símbolo uma vassoura e o slogan “varre, varre vassourinha. Varre, varre a bandalheira” – teve fim no dia 25 de agosto do mesmo ano com a uma carta de renúncia. No texto, foram alegadas “forças ocultas” como o motivo para a decisão.
Em seu curto período de governo, Jânio defendeu a autodeterminação dos povos, condenando as intervenções estrangeiras, o episódio da Baía dos Porcos e o isolamento de Cuba provocado pelos norte-americanos. Além disso, restabeleceu contato diplomático com a URSS e a China, tendo enviado a este último país seu vice-presidente, João Goulart, em missão comercial e diplomática. Estes últimos fatores, juntamente com a condecoração de Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul, abalaram as relações de Jânio com os aliados, principalmente com a UDN.
As passagens mais marcantes e curiosas de seu mandato foram as proibições do uso de biquíni na transmissão televisada dos concursos de miss e das rinhas de galo, bem como a autorização do jogo de cartas.
Sua renúncia se deu um dia após Carlos Lacerda discursar em cadeia nacional de rádio e televisão acusando-o de golpista e relatando um possível plano para um golpe de estado. Na tarde do dia 25 de agosto Jânio anunciou sua renúncia, prontamente aceita pelo Congresso.
Na época especulou-se que, na verdade, o presidente pretendia apenas causar uma comoção popular e em seguida voltar ao cargo aclamado pela população, principalmente porque ele já havia renunciado a outros cargos antes. Comentava-se que ele costumava recorrer a cartas de renúncia em momentos de tensão, mas que não eram uma vontade verdadeira. Em entrevista concedida em 1992, Jânio Quadros confirmou que a sua renúncia era um blefe.
Leia a íntegra da carta de renúncia:
“Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.
Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.
Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranqüilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.
Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.
Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um.
Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria.
Brasília, 25 de agosto de 1961. Jânio Quadros”