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‘Demonização’ do Estado ameaça ganhos sociais

Para o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jessé de Souza, a manutenção dos ganhos sociais obtidos pelo Brasil nos últimos anos corre risco em meio ao que chamou de "demonização" do Estado; "No jogo político, existem legitimações para amparar o fato de que o Estado seja enfraquecido", afirma; o sociólogo destaca os avanços do País nos últimos 13 anos e diz que não houve, no Brasil, nenhuma melhora nas condições das classes populares que não tenha vindo do Estado; sobre os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff, protocolados na Câmara, Jessé de Souza afirmou que o princípio da democracia é a soberania popular; "Violar esse princípio é violar a ordem democrática no seu âmago. Não tem saída para isso. O voto e a soberania popular têm que ser respeitados"

21 de Outubro de 2015 às 16:40

247 – O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jessé de Souza, demonstrou preocupação com a manutenção dos ganhos sociais obtidos pelo Brasil nos últimos anos, em meio ao que chamou de "demonização" do Estado, frequentemente visto como corrupto e ineficiente por políticos alinhados ao liberalismo e à redução da máquina estatal na condução das políticas públicas. 

"No jogo político, existem legitimações para amparar o fato de que o Estado seja enfraquecido e eu não acho que isso seja uma boa. Em minha opinião, o Estado é um instrumento absolutamente fundamental para a própria vida econômica – na Alemanha, França e inclusive nos EUA, o Estado tem um papel importante como indutor da produtividade. E num país como o nosso, assolado pela desigualdade, o Estado é fundamental a para continuar o trabalho que começou nos últimos anos", afirmou Souza em entrevista ao Valor nesta quarta-feira, 21.

Para o sociólogo de 55 anos, não houve, no Brasil, nenhuma melhora nas condições das classes populares que não tenha vindo do Estado, o que sugere que as críticas a um possível inchaço estatal servem, na verdade, a uma minoria, que "joga água no moinho do esquecimento e do abandono da maioria".

"O Brasil foi um país que teve taxas de crescimento econômico das maiores do mundo do século XX, mas com mudanças que não foram significativas no padrão de desigualdade. (…) A questão mais importante do Brasil é a desigualdade. É o que separa o Brasil de todos os países que mais admiramos. E foi uma inflexão importante quando dezenas de milhões de pessoas conseguiram melhorar seu salário, aumentar seu poder de compra, ter acesso a empregos formais. Não conheço uma mudança mais importante para o Brasil nos últimos 50 anos", afirmou Souza. 

Questionado sobre os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff, protocolados na Câmara, Jessé de Souza afirmou que o princípio da democracia é a soberania popular. "Violar esse princípio é violar a ordem democrática no seu âmago. Não tem saída para isso. O voto e a soberania popular têm que ser respeitados. Acho que isso é extremamente importante para o Brasil hoje, para que não se reviva coisas do passado e que acho que ninguém tem na memória como fato positivo. Falo da tradição de golpes de Estado e a tradição de solapamento da ordem democrática", comentou. 

O presidente do Ipea disse também acreditar que esse momento de instabilidade política é "breve" e perto de uma resolução".

Leia na íntegra a entrevista de Jessé de Souza ao Valor.