Taxa de sucesso na delação de Youssef lança polêmica: afinal, o crime compensa?
Cientista político comenta acordo da defesa do doleiro com a Justiça
"Então, isso aí apenas chancela o Youssef como um profissional autorizado para fazer o que ele sempre fez. Não é uma boa alternativa e desmoraliza a Justiça, porque revela sua seletividade política nesse escândalo, quando comparado a outros escândalos aqui mesmo no Paraná”, completa o cientista político, que acredita que o caso esteja manchando a imagem da Justiça brasileira.
A delação premiada, por si só, já é um mecanismo jurídico que evoca polêmicas, mas a inclusão de recompensas financeiras no acordo redimensiona sua natureza. Para Ricardo de Oliveira, o limite já deveria ser a redução da pena: “Eu acho que não deveria entrar, de maneira nenhuma, dinheiro na delação premiada. Ainda a questão da redução da pena pode ser cogitada, mas o dinheiro vai tornar o criminoso um sócio preferencial do esquema de corrupção. Todos vão ser legalizados e legitimados, uma vez que são montantes enormes de dinheiro. Então, 2% é uma comissão do crime que a Justiça está chancelando, é algo grave”, explica.
Segundo o cientista político da UFPR, apesar de cláusulas de performance também serem incluídas em delações premiadas firmadas em países desenvolvidos, como os EUA, o caso brasileiro é bem diferente: “Nos países desenvolvidos não é a mesma coisa, porque lá há uma transparência, uma isonomia, que são muito maiores. Já no Brasil, cada escândalo é julgado com uma metodologia. Basta ver a Lava Jato, também conhecida como ‘Vaza Jato’. O juiz Sérgio Moro, aqui no Paraná, há muitos anos vinha tentando, mas ainda não tinha conseguido incriminar e prender muitos desses atores tão presentes (condenados na Lava Jato). Com isso, passa-se a imagem, para parte dos eleitores, de uma seletividade estrutural da Justiça. Isto é, persegue e pune alguns, e não outros”.
Por fim, Ricardo de Oliveira enfatiza como a cláusula que beneficia Youssef é totalmente injusta: “Mostra que o crime compensa. Se para cada crime ele faturar 2%, com uma breve passagem pela cadeia, isso aí vai se tornar uma porção rentável. Inclusive ele vive disso! Então o cálculo do criminoso vai ser: ‘Vou passar um pequeno período na cadeia, mas vou faturar 2% do comissionado do escândalo de corrupção’. É isso que se deseja? Quero dizer, quando sair da cadeia ele vai ter um dinheiro que nenhum brasileiro honesto, trabalhador, recebe. Não é uma boa solução”, finaliza.