César: "Tomei cuidado para não citar nomes de políticos, mas não posso, como cientista político, falar a estudantes sobre impeachment sem explicar que foi um golpe parlamentar"
Foi vetada hoje de manhã a entrevista que o cientista político Benedito Tadeu César, professor aposentado da Ufgrs, deu a alunos no programa Entrevista Coletiva, coordenado pela professora Sandra de Deus, na Rádio da Universidade.
“Ao final da gravação, o André, diretor da rádio, entrou no estúdio e proibiu a veiculação do programa, que deveria ter sido às 11h, alegando que falamos em GOLPE e que há uma lei proibindo que se faça críticas ao presidente da República e se falar em Golpe”, escreveu César em sua página no Facebook.

Vive-reitor Rui Oppermann / Detalhe de foto de Gustavo Dihel/Ufrgs
A rádio fica no Campus Central e, de lá, César dirigiu-se imediatamente à Reitoria, onde soube que o reitor está viajando. O vice-reitor e reitor eleito para o próximo mandato, Rui Oppermann, que estava em reunião, recebeu-o em seguida. Já tinha sido informado do ocorrido.
“Sua reação foi de desaprovação à atitude coercitiva do diretor da rádio, posicionando-se pela liberdade de expressão e do pensamento crítico na Universidade.
Informou-me que ouvirá o diretor da Rádio e que, depois de ouvi-lo e, inclusive, ouvir as manifestações que ocorrerão na reunião do Consun, amanhã, será emitido um posicionamento oficial da universidade”, contou o professor.
Sabendo que César tinha cópia do arquivo de áudio do programa, o vice-reitor expressou sua aprovação à divulgação da entrevista por outras mídias e pelas redes sociais, e reforçou que haverá decisão sobre a veiculação do programa também pela Rádio da Universidade. Clique aqui para ouvir.
Para César, ocorreram duas graves agressões. A primeira, à autonomia universitária e

É praxe a professora Sandra de Deus convidar César a participar do programa / Foto Gustavo Diehl/Ufrgs
à missão primordial da universidade, que é o de geração e difusão do pensamento crítico e inovador. A segunda, e igualmente importante, à autoridade docente, uma vez que a professora Sandra de Deus foi agredida em sua autoridade acadêmica, diante de seus alunos e durante uma atividade letiva.

André Prytoluk, diretor da rádio: “Cumpri a lei”
Ouvido pela reportagem do JÁ, André Prytoluk disse que foi ao estúdio atendendo à solicitação da professora Sandra de Deus, que o informou que seria veiculado um programa sobre o impeachment, com citação a partidos. Ele determinou que a entrevista não fosse ao ar baseado na lei 9.504, a Lei das Eleições, de 1997, que, no inciso terceiro do artigo 45, proíbe “veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou representantes”.
“Eu me baseei unicamente na lei. Como servidor público, sou obrigado a seguir as leis”, argumentou Prytoluk. “O que me levou a essa atitude foi simplesmente obediência civil, se isso fere interesses ou paixões, não posso fazer nada”, concluiu.
Estudantes de Jornalismo da UFRGS, que foram os entrevistadores, divulgaram nota conjunta, assinada por Aniele Bernst, Letícia Paludo, Luísa Rizzatti, Matheus Nietto, Paloma Fleck e Vinicius Dutra, na qual afirmam:
“O programa Entrevista Coletiva, gravado nesta manhã na Rádio da Universidade, com o cientista politico Benedito Tadeu César, não foi veiculado porque o diretor da Rádio alegou que a Rádio da Universidade era chapa branca, e que não poderíamos falar “nem bem, nem mal” do governo. Sob a alegação de hierarquias e do respeito ao chefe, referindo-se a Michel Temer, fomos impossibilitados de rodar o programa às 11h. Além disso, falou que existia uma lei que restringia a gente de falar em golpe. Estamos disponibilizando a entrevista inteira para que possam ouvir o material. Na pauta, falamos de crise política das coligações, processo de destituição de Dilma Rousseff, manifestações e previsões futuras para o quadro nacional. Estamos conversando com a professora Sandra de Deus e nos informando das tais leis (se entraram em vigor agora, como afirma o diretor). Lembramos que o jornalismo e o exercício do pensamento crítico são extremamente necessários. Não compactuaremos com leituras que visem a uma interpretação sob o signo da censura”.