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Colaboração da Volks com o regime militar vira tema de pesquisa

 

 

 

 

A pesquisa tem o objetivo de esclarecer erros cometidos durante o regime militar (Foto: Divulgação/VW)

 

 

 

 

A Volkswagen do Brasil acaba de anunciar a contratação de um historiador alemão para pesquisar o papel da montadora do ABC paulista durante a regime militar. Sindicatos de trabalhadores e a Comissão Nacional da Verdade chegaram a requerer a abertura de inquérito civil contra a empresa por violação dos direitos humanos dentro de sua fábrica em São Bernardo do Campo entre os anos de 1964 e 1985.

Em comunicado divulgado esta semana, a Volks revelou que o historiador Christopher Kopper, professor da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, foi contratado para avaliar as ações da companhia naquele período. Segundo a nota, Kopper virá ao Brasil para a reconstituição e estudo histórico em projeto que – ao final de um ano de pesquisas – será divulgado ao público. A iniciativa é mais um passo da empresa no rumo de admitir seus excessos durante os anos de ferro e negociar uma reparação judicial por ter participado em ações contra o movimento operário.

Integrante do conselho de assuntos legais da empresa em território alemão, a também pesquisadora da Universidade Johann Wolfgang Goethe em Frankfurt, Christine Hohmann-Dennhardt defende a total transparência do processo: “Nós queremos lançar luz sobre o período negro da regime militar e explicar o comportamento dos responsáveis durante o período no Brasil e, se aplicável, na Alemanha também”.

Não é de hoje que a montadora – fundada há 63 anos no país – sofre o incômodo de ser acusada de violar direitos, de colaborar com o regime e mesmo de fornecer uma “lista negra” de seus funcionários à época. Uma ação judicial protocolada no Ministério Público Federal investiga responsabilidades e ouve relatos e denúncias de atos que podem configurar “crimes contra a Humanidade”. Segundo relatos à Comissão Nacional da Verdade, doze ex-funcionários teriam sido presos e torturados dentro das dependências da Volks e 200 boletins de ocorrência – feitos pela segurança da empresa contra grevistas ou piqueteiros – foram enviados ao Dops, o temido órgão de governo especializado em reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime.

Quando chegar ao Brasil – com a missão de pesquisar mas também de demonstrar a boa vontade da companhia em mudar seu perfil político diante de uma nova realidade política – Christopher Kopper terá acesso a documentos que comprovam a cooperação da empresa com órgãos policiais de segurança.

Em sua pesquisa, Kopper provavelmente encontrará Lúcio Bellentani – ex-funcionário da companhia e militante comunista nos tempos da repressão – que afirma ter sido levado algemado para o RH da empresa e torturado ali mesmo. A pesquisa deverá constatar ainda que além da Volks, outras empresas se envolveram com os obscuros porões da regime militar.

Depois de reconhecer e buscar esclarecer os fatos, a empresa tem a intenção de formalizar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) e levantar fundos para a reparação ou mesmo a construção de um memorial – quem sabe um museu – para que tais violações sejam sempre lembradas pois, como diz o ditado, “um povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la”.

 

 

 

 

 

Claudio Carneiro

/ON

 Volkswagen brasileira e o historiador alemão Christopher Kopper se unem para pesquisar o papel da montadora durante o regime militar