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VENDEDOR DE VENTO, EIKE FOI INFLADO PELA MÍDIA

A imprensa brasileira é também responsável pela catástrofe moral e econômica protagonizada pelo empresário Eike Batista, que foi do posto de sétimo homem mais rico do mundo para a lista vermelha da Interpol; em 2012, Veja vendeu "Eike Xiaoping", como emblema de um tempo "mais genoroso para os brasileiros", pouco depois de uma biografia em que o empresário que vendia vento – projetos mirabolantes com remotas perspectivas de sucesso – oferecia conselhos de autoajuda; pouco depois, o Fantástico o apresentou como um brasileiro pronto a inspirar novos empreendedores; na entrevista, Eike falava em sonhar apenas com "o respeito dos brasileiros"; hoje, ele é procurado por ter pago propinas de US$ 16 milhões para o amigão Sergio Cabral

26 DE JANEIRO DE 2017 ÀS 20:08 // 

247 – Ex-homem mais rico do Brasil, e sétimo do mundo, Eike Batista é hoje apenas um nome na lista vermelha da Interpol. 

Nesta quinta-feira, policiais visitaram sua residência, depois da descoberta que ele pagou US$ 16 milhões em propinas ao ex-governador Sergio Cabral, para ser favorecido em seus negócios no Rio de Janeiro.

Em seus dias de glória, Eike posava como filantropo, prometia despoluir a Baía da Guanabara, financiar UPPs e tirar o Rio de Janeiro do mapa da violência.

Hoje, até seus projetos mais simples, como a restauração do Hotel Glória, deixaram escombros.

Os tempos gloriosos, quando Eike falava em ser o mais rico do mundo, foram construídos numa estreita parceria com os meios de comunicação.

Embora os projetos de Eike fossem de altíssimo risco, as "descobertas" de petróleo da sua OGX eram sempre noticiadas com estardalhaço por colunistas bem posicionados na imprensa. Eike vendia vento, mas os incautos acreditavam.

Quando a bolha estourou, Eike deixou prejuízos bilionários para investidores, mas conseguiu preservar uma pequena fortuna que só agora foi recuperada – na semana passada, fundos de investimento bloquearam mais de US$ 60 milhões de Eike nas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal do Caribe.

O auge da mistificação em torno de Eike ocorreu em 2012, quando Veja lhe dedicou uma capa chamada "Eike Xiaoping", logo após a publicação de um livro de autoajuda escrito por Roberto D’Ávila.

"VEJA captura esse momento especial de glorificação da riqueza produzida com trabalho, honestidade, investimento pessoal e coragem para correr riscos. Ele é o símbolo de um tempo mais generoso para todos os brasileiros", escreveu o então diretor Eurípedes Alcântara.

Pouco tempo depois, o Fantástico também se dedicou à hagiografia de Eike:

Abaixo, o editorial de Eurípedes:

Eike Xiaoping Batista

Os repórteres de VEJA que foram ouvir os novos milionários brasileiros, categoria que aumenta à razão de dezenove pessoas por dia, relataram a Thaís Oyama, redatora-chefe encarregada de editar a reportagem, que, entre muitos traços comuns, um sobressaía: eles têm como ídolo o empresário Eike Batista, o brasileiro mais bem colocado na lista de bilionários da revista Forbes, em que ocupa o oitavo lugar. “Exatamente o que eles admiram em Eike?”, perguntou-lhes Thaís. Com ligeiras variações, as respostas giraram em torno do mesmo ponto: “Eike não tem vergonha de ser rico”.

Ao elaborarem as respostas, os entrevistados enfatizaram que admiram a ambição de crescer junto com o próprio negócio e prezam o direito de acumular riqueza e propriedade adquiridas com trabalho honesto e talento. Vem inevitavelmente à lembrança a guinada ideológica que Deng Xiaoping promoveu na China comunista a partir de 1976, quando lançou as palavras de ordem: “Enriquecer é glorioso”. Deu no que deu. A China saiu da estagnação coletivista e agora emparelha como potência industrial com os Estados Unidos.

Em seu livro O X da Questão, Eike escreveu: “Muita gente não enxerga o que representa contar, no topo do ranking dos homens mais ricos do mundo, com um empreendedor brasileiro que ama o Brasil (…), concentra seus investimentos no mercado interno e gera emprego, riqueza e divisas para a nação”. Os empreendedores que ilustram a reportagem de VEJA também se orgulham de ter chegado à prosperidade milionária pagando seus impostos, competindo em igualdade de condições e gerando empregos de qualidade. É de celebrar o triunfo desse espírito empreendedor. O brasileiro já foi identificado com o derrotismo do Jeca Tatu ou, na metáfora futebolística popular, com a visão de mundo que chancela o fracasso mórbido de Garrincha, mas desconfia do saudável sucesso universal de Pelé. A reportagem desta edição de VEJA captura esse momento especial de glorificação da riqueza produzida com trabalho, honestidade, investimento pessoal e coragem para correr riscos. Ele é o símbolo de um tempo mais generoso para todos os brasileiros.