Cotação do dia

USD/BRL
EUR/USD
USD/JPY
GBP/USD
GBP/BRL
Trigo
R$ 115,00
Soja
R$ 180,00
Milho
R$ 82,00

Tempo

Governo Temer reduz equipe da Lava Jato e corta verba da PF

Em um ano, governo Temer reduziu equipe da Lava Jato e cortou verba da PF. Foto: Divulgação PF

Poucos dias após completar um ano, a gestão Michel Temer reduziu, nesse período, a equipe da Polícia Federal destacada para Operação Lava Jato, em Curitiba, e contingenciou 44% do orçamento de custeio previsto para 2017. O levantamento sobre os cortes promovidos pela gestão Temer sobre a Lava Jato foi divulgado neste domingo pelo jornal O Estado de S.Paulo.

Conforme a publicação, é o primeiro corte expressivo no efetivo de investigadores desde o início da operação, há três anos. A Lava Jato, que já levou megaempresários e políticos de diversos partidos à cadeia, começou a ameaçar, nos últimos dias, o presidente da República.

Até o fim de 2016, nove delegados federais integravam a força-tarefa, em Curitiba. No início deste ano, o número foi reduzido para quatro. A equipe cuida, exclusivamente, de cerca de 180 inquéritos em andamento relativos à operação. Conforme apuração do jornal, já há articulações políticas para acabar com a atuação exclusiva desses delegados para a operação.

O número total de agentes envolvidos, segundo a reportagem, também caiu no decorrer da gestão Temer. O efetivo total chegou a ser de quase 60 policiais – entre delegados, agentes e peritos. Hoje, não passa de 40, e sem atuação exclusiva.

No que se refere ao contingenciamento de verbas da Polícia Federal, o levantamento do jornal mostra que a redução ocorreu na ordem de 44%. Os cortes atingem toda a corporação, inclusive os setores envolvidos na investigação da Lava Jato em Curitiba, Brasília e Rio.

A reportagem do Estadão ainda lembra que a Operação Patmos, deflagrada na última quinta-feira, tendo entre os alvos o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), explica a suposta intenção do atual governo em interferir na Lava Jato. Tanto Temer quanto Aécio são investigados por tentativas de obstrução à Lava Jato através da compra do silêncio de investigados. O presidente e o senador foram delatados pelos donos do Grupo JBS, Joesley e Wesley Batista, que gravaram conversas dos investigados, com tutela da PF e do MPF.

Resposta

Em nota oficial, divulgada pela PF cerca de 13 horas depois da publicação da matéria, a instituição salienta que, diante da ampliação das investigações em diversos estados, o contingente de policiais “tem sido readequado”. Na nota, a PF esclarece, ainda, que a Superintendência do Paraná também considera o efetivo adequado.
 
“Estancar a sangria”

As suspeitas mais fortes sobre as intenções de Temer e dos aliados em minar a operação Lava Jato começaram há um ano. Em 23 de maio de 2016, a Folha de São Paulo divulgou a transcrição de áudios de uma conversa entre o ex-ministro Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Na gravação, feita nas semanas que antecederam o impeachment de Dilma Roussef, Jucá sugere um pacto para ”estancar a sangria” representada pela Lava Jato. A operação investigava tanto Jucá quanto o empresário.

“Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”, disse Jucá, na gravação. No diálogo, Machado respondeu que era necessária “uma coisa política e rápida”. Na sequência, Jucá completa: ”Eu acho que a gente precisa articular uma ação política”.

Relembre trechos do diálogo:

SÉRGIO MACHADO – Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.

ROMERO JUCÁ – Eu ontem fui muito claro. […] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?

MACHADO – Agora, ele acordou a militância do PT.

JUCÁ – Sim.

MACHADO – Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.

JUCÁ – Eu acho que…

MACHADO – Tem que ter um impeachment.

JUCÁ – Tem que ter impeachment. Não tem saída.

MACHADO – E quem segurar, segura.

JUCÁ – Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente.

MACHADO – Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.

JUCÁ – Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.

MACHADO – Odebrecht vai fazer.

JUCÁ – Seletiva, mas vai fazer.

MACHADO – Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que… O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.

[…]

JUCÁ – Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.

[…]

MACHADO – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].

JUCÁ – Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.

MACHADO – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.

JUCÁ – Com o Supremo, com tudo.

MACHADO – Com tudo, aí parava tudo.

JUCÁ – É. Delimitava onde está, pronto.

[…]

MACHADO – O Renan [Calheiros] é totalmente ‘voador’. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não.

JUCÁ – Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.

*

MACHADO – A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado…

JUCÁ – Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com…

MACHADO – Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.

JUCÁ – Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].

MACHADO – Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?

JUCÁ – Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.

[…]

MACHADO – O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.

JUCÁ – Todos, porra. E vão pegando e vão…

MACHADO – [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência.

JUCÁ – Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.

MACHADO – Porque se a gente não tiver saída… Porque não tem muito tempo.

JUCÁ – Não, o tempo é emergencial.

MACHADO – É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês.

JUCÁ – Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? […] Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar.

MACHADO – Acha que não pode ter reunião a três?

JUCÁ – Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é… Depois a gente conversa os três sem você.

MACHADO – Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.

*

MACHADO – É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma…

JUCÁ – Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.

MACHADO – O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…

JUCÁ – É, a gente viveu tudo.

*

JUCÁ – [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.

MACHADO – Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva dele para depor no caso da Lava jato]

JUCÁ – Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento…

MACHADO –…E burro […] Tem que ter uma paz, um…

JUCÁ – Eu acho que tem que ter um pacto.

[…]

MACHADO – Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.

JUCÁ – Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara… Burocrata da… Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça].

 

Rádio Guaiba///