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Dia Internacional da Mulher-Mulheres do mundo inteiro, uni-vos!

A história seria outra se fosse protagonizada pelas mulheres.

 

A luta das mulheres é por direitos, não por privilégios. (Nicole Adams/ Unsplash)

Por Élio Gasda*

Incomodem, sejam irreverentes e atrevidas. Questionem a ordem estabelecida. Todas as formas de poder apoiadas no machismo e na desigualdade devem ser combatidas. O machismo é incompatível com a democracia, a justiça e os direitos humanos.

Histórias de resistência. Nomes, fatos, textos, filosofia, biografias escondidas e silenciadas. A luta das mulheres não começou em 1857, quando centenas de operárias morreram queimadas por policiais, em uma fábrica de Nova York. Elas reivindicavam redução da jornada de trabalho e licença maternidade.  Já no século XIV, Cristina de Pizan, mulher fora dos padrões para sua época, no livro “A Cidade das damas”, imaginava como seria uma cidade onde não haveria violência e conflito promovidos pelos homens. A história seria outra se fosse protagonizada pelas mulheres.

Igualdade, liberdade e fraternidade eram ideais defendidos durante a Ilustração na França. Mas, em 1793, as mulheres são excluídas dos direitos políticos e as associações femininas suprimidas. Estava proibido mais de cinco mulheres de se reunir em local público. Muitas foram presas e torturadas. Olympe de Gouges é guilhotinada dois anos após escrever a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadania”. A incipiente democracia aplicava-se somente ao sexo masculino.

A Revolução Francesa em nada modificou o papel da mulher. A Constituição de 1791, cujo preâmbulo era a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, confirmava a distinção entre duas categorias de pessoas: ativos – homens maiores de 25 anos, independentes e com títulos de propriedade; passivos – homens sem propriedades e todas as mulheres, sem exceção.

Em 1792, a inglesa Mary Wollstonecraft escreveu a obra que originou o feminismo: “Reinvindicação dos direitos da mulher”. Nela, Mary defendia a igualdade de gênero, autonomia econômica da mulher, participação política e representação parlamentar. Vieram os homens e taxaram de hiena de saias. Durante o Derby dayde 1913, a prova hípica mais aristocrática da Inglaterra, eis que uma jovem se joga diante do cavalo do rei Jorge V. Era Emily Davison, defensora dos direitos políticos, sufragista do Grêmio Político e Social das Mulheres (UPSM), comprometida até a medula na defesa dos direitos femininos. A luta das sufragistas já durava mais de 60 anos. A primeira petição do direito de voto é de 1832, mas só foi conquistado em 1917, depois de 2.588 petições junto ao parlamento. O feminismo é um filho indesejado da democracia. Mas não existe democracia sem protagonismo da mulher.

A luta das mulheres é por direitos, não por privilégios. O feminismo, mais do que uma forma de resistência, é uma teoria da justiça. Necessária e urgente, está transformando a sociedade para conseguir o óbvio: que cada ser humano seja o que é e o que quer ser, dono da própria história. A mulher tem sua maneira própria de ver e de habitar o mundo. Elas têm consciência de que são o principal alvo do desprezo de sociedades patriarcais. Micromachismos sutis as mantém na defensiva. A labuta é permanente, dia a dia na conquista do reconhecimento. O feminismo é consciência. Cada direito a recuperar é uma luta.

As lutas das mulheres ajudam a dissipar as trevas da ignorância e do ódio. Hipatia (370-415 d.C.), filósofa, pioneira na arte de desbravar a Matemática, tornou-se a maior pesquisadora da Alexandria. O Patriarca Cirilo era ferrenho defensor da Igreja e adversário de quem ele considerava hereges. Apoiados em boatos, um grupo de fanáticos cristãos atacou Hipatia. Eles a levaram para o interior de uma Igreja e a apedrejaram, arrancaram sua pele com conchas, cortaram-na em pedaços e a queimaram. Ela nunca expressou aversão ao cristianismo, ao contrário, acolhia todos os alunos, independentemente de suas crenças religiosas.

Em 1851, nos Estados Unidos, Sojourner Truth (Peregrina da Verdade), negra ex-escrava, proferiu o seguinte discurso em uma reunião de clérigos que defendiam que mulheres não deveriam ter os mesmos direitos que os homens: “Aqueles homens dizem que as mulheres precisam de ajuda para subir em carruagens, e devem ser carregadas para atravessar valas. Ninguém jamais me ajudou a subir em carruagens, ou saltar poças de lama. Nunca me ofereceram melhor lugar! E não sou uma mulher? Olhem para mim! Olhem para meus braços! Eu arei e plantei, juntei a colheita. E não sou uma mulher? Eu poderia trabalhar tanto e comer tanto quanto qualquer homem – desde que eu tivesse oportunidade – e suportar o chicote também! E não sou uma mulher? Eu pari treze filhos e os vi serem vendidos como escravos, e quando eu clamei com a minha dor de mãe, ninguém a não ser Jesus me ouviu! E não sou uma mulher? Aquele homenzinho disse que a mulher não pode ter os mesmos direitos que o homem porque Cristo não era mulher! De onde o seu Cristo veio? De Deus e de uma mulher!”

“Tenho quase o mundo inteiro contra mim. Os homens, porque exijo a emancipação da mulher; os capitalistas, porque exijo a emancipação dos trabalhadores” (Flora Tristán). Mulheres! Protagonizem sua própria história!

*Élio Gasda é doutor em Teologia, professor e pesquisador na FAJE. Autor de: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016).