O entrave em relação ao futuro dos preços dos freste no Brasil tem causado um problema logístico muito severo e o setor produtivo tem sido um dos que mais sente os impactos logísticos. Um levantamento feito pela CNA (Confederação de da Agricultura e Pecuária do Brasil) mostrou que há mais navios parados nos portos brasileiros do que o de costume para esta época do ano e quede 60 deles, 35 estão carregados com fertilizantes. A entrega dos insumos está atrasada para todos os estados produtores e as consequências para a nova safra de verão do país poderão ser bastante sérias.
As indecisões do governo federal e uma falta de acordo entre as partes envolvidas na questão dos fretes tem provocado uma paralisação bastante grave na entrega dos insumos e uma das primeiras consequências desse caos logístico poderia ser uma drástica redução da produção.
"São milhões de toneladas de fertilizantes que precisam ser aplicados em 35 milhões de hectares. Isso pode se atrasar ainda mais com essa falta de solução do frete podendo se estender até agosto", diz o consultor de mercado Liones Severo, do SIMConsult. "Não haverá tempo suficiente para distribuir todo fertilizante, então muitos não poderão plantar", completa.
Segundo dados da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), em maio as entregas de fertilizantes foram de de 1,78 milhão de toneladas ao consumidor final. Embora maior do que no mês anterior, o volume entregue se mostrou 27,3% menor do que em maio de 2017. Ao se contabilizar os primeiros cinco meses do ano, as entrega somaram 9,84 milhões de toneladas, 4% mais baixas do que no mesmo período do ano anterior.
"A paralisação dos caminhoneiros no final de maio prejudicou o transporte do insumo dos portos até as misturadoras e também a distribuição destes ao consumidor final", mostra uma análise da Scot Consultoria.
Analistas da Scot afirmam ainda que, como acontece no mercado de grãos há quase dois meses, há um travamento também no mercado de fertilizantes. O tabelamento do frete rodoviário provocou esse movimento, que se estendeu por todos os elos da cadeia produtiva, especialmente por acabar com o chamado frete de retorno.
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Os caminhões que descarregavam grãos nos portos voltavam para o interior carregados de insumos, com valores menores de fretes, otimizando os custos logísticos, e isso já não é mais possível. Em uma de suas declarações sobre o assunto, o ministro Blairo Maggi disse "os fertilizantes eram frete de retorno, mas agora viraram frete principal e tabelado”.
"E essa é mais uma carga para o produtor rural. A soja e o milho estão com frete mais caro, o adubo está com frete mais caro e é o produtor que tem que arcar com isso e nós já não aguentamos", diz o vice-presidente da Aprosoja PR e diretor da Aprosoja Brasil, José Eduardo Sismeiro.
Segundo ele, as compras de insumos no Paraná já foram todas feitas, porém, as entregas estão cerca de 30% atrasadas. "Somos o estado que planta mais cedo, já podemos ter planta nascida em 10 de setembro, e essa situação pode complicar tudo. É uma grande preocupação", explica. "Este tabelamento não estpa agradando a ninguém, nem mesmo os caminhoneiros", completa Sismeiro.
Na região de Ijuí, no Rio Grande do Sul, o sócio gerente da GoiScarton Comércio e Representações Agrícolas, Eloir José Scarton, relata que as vendas dos insumos, justamente em função desses problemas logísticos estão bastante atrasadas em relação aos anos anterirores.
"Os fertilizantes já eram para ter rodado 60% e está entre 30% e 40%, e isso pode sim atrasar a nova safra de verão. As empresas até abriram suas vendas CIF – para retirar o produto no fabricante – mas elas não saem porque o frete não está definido. O governo tem que repensar essa tabela, não existe tabelamento em uma economia aberta. As dificuldades aumentaram e a rentabilidade caiu", diz.
Para Antônio Galvan, presidente da Aprosoja MT, um dos maiores problemas desse travamento é o potencial produtivo que já poderia estar ameaçado na safra 2018/19. "A entrega dos fertilizantes está parada, aqui ninguém recebeu e, por conta disso, se parou de falar em um aumento de área já que não se sabe se os fertilizantes vão chegar e quando vão chegar".
O presidente explica que no primeiro momento, o impacto não é tão grande porque os fertilizantes são colocados a lanço na sequência do plantio. "Mas, o atraso dessa colocação pode trazer um problema sério de produtividade mais a frente", afirma Galvan.
Comercialização de Grãos
"Aqui está tudo parado", complementa o presidente da Aprosoja Brasil, relatando ainda que os preços atuais da soja estariam até R$ 10,00 por saca mais baixos do que as referências praticadas antes da greve dos caminhoneiros. "Não tem mercado e o milho está até sem preço", diz.
O problema se estende por todo o Brasil e há mais de um mês a comercialização de grãos no país segue travada em função das incertezas sobre a questão dos fretes. Ainda segundo José Eduardo Sismeiro, no Paraná houve boa oportunidade de venda há 20 dias que não pôde ser aproveitada em função dos entraves logísticos.
"Tínhamos dólar alto, bons preços em Chicago e prêmios altos mas não conseguimos travar. Por conta desse problema com os fretes, as empresas não compravam. Todos os estados estão com esses problemas. Agora, precisamos torcer para que Chicago volte aos US$ 10,50 e para que tenhamos novas oportunidades", espera o vice-presidente da Aprosoja PR. As cotações estão, no estado paranaense, cerca de R$ 4,00 por saca mais baixas.
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