Fernanda OdillaDa BBC News Brasil em Londres
A eleição presidencial de 2018 terá o maior número de candidatos desde a disputa de 1989 – a primeira desde a redemocratização do país. Serão 13 candidatos, ao todo.
Dentre esses nomes, há candidatos com pendências na Justiça, nomes atingidos por disputas partidárias internas e candidatos que vão enfrentar a escassez de tempo de propaganda no rádio e na televisão. Alta rejeição ou falta de popularidade e impedimento para participar de debates também estão entre as pedras no caminho dos presidenciáveis.
Partidos e candidatos correm contra o tempo para superar seus problemas. As coligações precisam ser oficializadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até o dia 15 de agosto, também o prazo final para apresentar o pedido de registro de candidatura.
A partir do dia seguinte, a propaganda eleitoral já está permitida. No rádio e na televisão, contudo, o horário eleitoral só começa dia 31 de agosto. O primeiro turno de votações está marcado para 7 de outubro.
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Lula (PT)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 72 anos, tem liderado os cenários para a eleição presidencial em 2018. Segundo o último Datafolha, realizado entre 6 e 7 de junho, Lula tem 30% de intenção de voto. Está 13 pontos percentuais à frente do segundo colocado, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ). A margem de erro é de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Mas Lula pode ser impedido de disputar a eleição, uma vez que foi condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro. Sentenciado a 12 anos e 1 mês de prisão, o petista pode ter sua candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa.
Lula teve a prisão decretada em abril, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) recusou o pedido de habeas corpus para que ficasse em liberdade até que se esgotassem todos os recursos.
Seu vice é o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad – é esperado que ele assuma a cabeça da chapa quando Lula for impedido de concorrer, tendo Manuela D’Ávila (PCdoB) como vice.
Embora a situação do ex-presidente tenha se complicado muito nos últimos meses, há três caminhos que, em tese, ainda podem resultar na soltura do petista: 1) sua defesa pode apresentar novos pedidos de habeas corpus; 2) o petista pode ter sua condenação anulada pelos tribunais superiores; 3) O STF pode rever seu posicionamento sobre a prisão após condenação em segunda instância para todos os réus do país, o que beneficiaria Lula.
Ao manter sua candidatura à Presidência, Lula pode usar a campanha como estratégia de defesa das acusações que pesam contra ele. A defesa de Lula, que tenta reverter a condenação sob o argumento de que o ex-presidente é inocente e que não há provas contra ele, traça estratégias jurídicas para mantê-lo na disputa eleitoral por meio de diferentes recursos e pedidos de liminares.
Até o momento, o ex-presidente possui apenas uma condenação, mas é réu em outras seis ações penais, sob acusação de crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça.
Além das pendências judiciais, Lula também tem rejeição relativamente alta – segundo a última pesquisa Datafolha, 36% disseram que não votariam nele de jeito nenhum.
Lula nasceu em Pernambuco, mas construiu sua carreira política em São Paulo, inicialmente como sindicalista. Em 1986, foi eleito deputado federal por São Paulo para participar da Assembleia Nacional Constituinte. Foi eleito presidente em 2002, depois de ter disputado as presidenciais outras três vezes. Comandou o Brasil por dois mandatos e elegeu a sucessora, Dilma Rousseff, em 2010.
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Jair Bolsonaro (PSL)
O deputado federal Jair Bolsonaro, de 63 anos, aparece em primeiro lugar nas pesquisas de opinião nos cenários eleitorais sem Lula. De acordo com a última pesquisa Datafolha, Bolsonaro alcança 19% das intenções de votos quando o petista Fernando Haddad ocupa o lugar do ex-presidente.
Bolsonaro trocou de partido para disputar as eleições. O deputado estava filiado ao PSC (Partido Social Cristão) e chegou a assinar a ficha de filiação do PEN (Partido Ecológico Nacional). Mas, em seguida, filiou-se ao PSL (Partido Social Liberal).
Neste domingo (5 de agosto), Bolsonaro oficializou o general da reserva do Exército Hamilton Mourão, do PRTB, como seu candidato a vice.
Bolsonaro terá pouco tempo de propaganda no rádio e na televisão. Para estipular o tempo de cada candidato, leva-se em conta o número de deputados federais eleitos pelo partido em 2014. No caso do PSL, foram apenas dois. O tempo exato ainda não foi calculado pelo TSE, mas as estimativas para Bolsonaro, sem coligações, giram em torno de meros dez segundos.
Desde as eleições de 2014, o PSL conquistou mais deputados. Hoje, tem uma bancada de dez pessoas. Com esse número, Bolsonaro vai poder participar de debates na televisão.
Os recursos de campanha também são vistos como um desafio para a candidatura. Os apoiadores do pré-candidato apostam na divulgação do número de uma conta para arrecadar doações na internet. O Tribunal Superior Eleitoral autorizou o uso de "vaquinhas virtuais" nesta eleição para arrecadar recursos de pessoas físicas – a doação de empresas permanece proibida. No Fundo Eleitoral, o PSL terá direito a apenas R$ 9,2 milhões – pode parecer muito, mas o PSDB por exemplo, sozinho, tem direito a R$ 185,8 milhões.
Bolsonaro tentaria contornar essa limitação usando redes sociais e contando com a produção espontânea de conteúdo de simpatizantes. O pré-candidato também vai precisar mostrar que domina diferentes temas.
Militar da reserva e professor de educação física, Bolsonaro é deputado federal desde 1991 – acumula sete mandatos por cinco partidos diferentes.
Assim como Geraldo Alckmin (PSDB), Bolsonaro é um dos dois únicos candidatos que ainda não concederam entrevista à BBC News Brasil.
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Geraldo Alckmin (PSDB)
O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de 65 anos, assumiu em dezembro a presidência do PSDB para tentar apaziguar o partido, que se dividiu entre ficar ou sair da base de apoio ao governo de Michel Temer (MDB).
Seu principal desafio é romper a estagnação nas pesquisas de intenção de voto – por enquanto, o tucano ainda não conseguiu deixar a casa dos 7% de intenção de voto. No último Datafolha, Alckmin tem entre 6 e 7% da intenção de votos, atrás de Bolsonaro, Marina e Ciro Gomes – e em cenários sem Lula.
Alckmin foi confirmado como o único postulante do PSDB à Presidência, depois que o ex-senador e atual prefeito de Manaus Arthur Virgílio desistiu de participar de prévias para definir o candidato tucano nas urnas. No fim de fevereiro, Virgílio criticou o correligionário paulista, a quem acusou de usar a máquina partidária para evitar a disputa, e anunciou que não vai fazer campanha para Alckmin.
O ex-prefeito de São Paulo João Doria era outro tucano que almejava a candidatura presidencial, mas acabou deixando o cargo para disputar o governo paulista. Muitos tucanos acreditam que ele "queimou a largada" ao fazer um giro pelo Brasil na tentativa de aumentar sua popularidade – ele ainda é considerado desconhecido no país e não conseguiu alavancar seu nome nas pesquisas.
Além das muitas disputas internas, Alckmin assumiu um PSDB desgastado pelas denúncias de corrupção contra integrantes do partido, em especial as que pesam contra o senador Aécio Neves (MG), que disputou as eleições presidenciais em 2014. Alckmin também foi acusado de receber R$ 10 milhões em quantias não declaradas da Odebrecht, o que ele nega.
O grupo de partidos conhecido como "centrão" – DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade – oficializou o apoio ao tucano nas eleições de outubro. A senadora do PP do Rio Grande do Sul Ana Amélia, de 73 anos, será a vice do tucano.
Alckmin já disputou as eleições presidenciais em 2006, quando perdeu para Lula no segundo turno – os adversários do tucano fazem questão de lembrar que ele teve menos votos na segunda votação que na primeira.
Formado em medicina, começou a carreira política como vereador e, depois, foi prefeito de Pindamonhangaba (SP), sua cidade natal. Em 1994, foi eleito vice-governador de São Paulo e acabou assumindo o governo com o agravamento do estado de saúde de Mário Covas, em 2001. Perdeu a disputa pela prefeitura de São Paulo em 2008, mas voltou como governador em 2010 e foi reeleito em 2014.
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Marina Silva (Rede)
A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva lançou oficialmente sua candidatura em 2 de dezembro de 2017, pela Rede. De acordo com o último Datafolha, Marina está em segundo lugar em todos os cenários sem Lula, com entre 14% e 15% de intenção de voto, atrás de Bolsonaro.
Uma das dificuldades que deve enfrentar é o baixíssimo tempo de propaganda no rádio e na TV.
O partido conta com uma bancada de apenas três congressistas. Assim, Marina não teria a garantia de participação nos debates. Caberia às emissoras a escolha de convidar ou não a candidata.
A ex-ministra vai precisar também responder a críticas de ser omissa em momentos em que muitos aguardavam um posicionamento firme sobre temas centrais ou disputas políticas, e de ter declarado apoio ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno das eleições de 2014.

