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Tempo

Globo faz contra Lula o que fez contra Brizola há 36 anos

O caso Globo-Ibope é uma reedição atualizada e resumida de outra trama da família Marinho, o escândalo do Proconsult, 36 anos atrás. Desta vez, trata-se do engavetamento da pesquisa eleitoral do Ibope que apresentaria Lula liderando com 40% das intenções de voto (leia aqui a reportagem do 247 sobre o assunto). Em 1982, o caso foi ainda mais escabroso, uma tentativa de fraudar as eleições para o governo do Rio, vencidas por Leonel Brizola, considerado um inimigo figadal pelos Marinho, como Lula agora.   

O "Escândalo Proconsult", como ficou conhecido, leva o nome da empresa articulada por militares que venderam ao TRE do Rio um sistema de informatizado de computação dos votos. A mecânica da fraude era simples: transferia-se parte dos votos nulos ou em branco para outro candidato. Adivinhe quem? Moreira Franco! Ele mesmo, o braço direito de Temer, que ao longo do anos esmerou-se na prestação de serviços variados para a família Marinho.

Houve grande número de votos nulos e em branco naquelas eleições, porque o regime militar, para evitar uma derrota estrondosa, criou o o sistema do voto vinculado: para que um voto fosse válido era necessário que a pessoa indicasse todos os candidatos do mesmo partido -governador, senador, deputado federal, deputado estadual, prefeito e vereador. O governo contava que, com a organização nacional do partido da ditadura, o PDS (antigo Arena), garantiria a vitória sobre a oposição, que se apresentava dividida depois da reforma partidária que encerrara o bipartidarismo (Arena e MDB) e ainda em organização, com vários líderes retornando do exílio em seguida à anistia de 1979.

A Globo não era participante direta da fraude, mas as conversas nos bastidores sobre o esquema e a incompetência do sistema TRE-Proconsult eram frequentes, havendo previsão de que a apuração dos votos de 15 de novembro demandariam dias -o que de fato aconteceu, com o encerramento da apuração oficial acontecendo apenas em dezembro. Isso levou o Jornal do Brasil e a Rádio JB a montarem um processo de apuração paralelo, enquanto a Globo lançou-se gostosamente nos braços no projeto TRE-Proconsult. Para agravar, o jornal O Globo montou um esquema de apuração próprio, ainda mais incompetente, com o agravante de priorizar a apuração no interior do Estado, onde Moreira Franco tinha vantagem, em detrimento à da capital e Baixada Fluminense, vencida com ampla margem pro Brizola. O objetivo era criar o "fato consumado" da vitória de Moeira Franco.

A fraude foi desmontada exatamente pela cobertura paralela do Jornal do Brasil e Rádio JB, enquanto a Globo até a undécima hora apontava a vitória de Moreira Franco. Brizola, com sua coragem habitual, reuniu a imprensa internacional em 18 de novembro e denunciou o esquema -vivia-se ainda o clima opressivo dos estertores da ditadura. Mais ainda, numa entrevista ao vivo para a própria Globo, acusou a emissora de participar da fraude. 

Agora, 36 anos depois, a Globo está mais uma vez envolvida em outra trama. Engavetou a pesquisa do Ibope que sairia num momento crucial do processo político eleitoral, às vésperas de uma decisão do STF sobre a candidatura Lula e na iminência da derrocada do candidato do golpe e preferido dos Marinho e das elites, Geraldo Alckmin.

A Gobo não se emenda. Atuou ferozmente contra Getúlio Vargas, falsificando informações em conluio com militares da Aeronáutica na "República do Galeão" em 1954. No início dos anos 1960, os Marinho estiveram na linha de frente da articulação que levou ao golpe de 1964; em 1968, clamou pelo AI-5 e pelo fechamento do regime militar, com a consequência da onda de prisões, torturas e assassinatos de opositores da ditadura; em 1983-1984, boicotou abertamente a campanha das Diretas Já; em 1989 apresentou uma edição falsificada do debate final entre Lula e Collor que foi considerada decisiva para a vitória do representantes das elites naquela eleição; opôs-se de maneira virulenta a Lula e Dilma nas eleições de 2002, 2006, 2010 e 2014, liderando o golpe de Estado de 2015-16 e a perseguição a Lula. 

Dizem ser uma empresa de jornalismo. Seu currículo mostra ser uma empresa de golpes contra o povo. Um atrás do outro.

 

Mauro Moraes/ Jornalista do 247///