Tal como o Brasil inteiro comemora engalanado o Dia da Pátria, no 7 de Setembro, os gaúchos e gaúchas que povoam a vastidão do Pampa festejam com orgulho o transcorrer do 20 de Setembro, estigmatizado no Hino Rio-Grandense pela expressão “O precursor da liberdade”. Só quem vê de perto os desfiles farroupilhas realizados treze dias após os festejos da Independência pode avaliar com exatidão a grandiosidade dessas cavalgadas, como a de Alegrete, na fronteira oeste do Pampa, apontada por observadores como a maior do gênero no mundo.
Infelizmente esses desfiles pampeanos, que incluem em seu ideário elementos típicos da Tradição Gaúcha, não são divulgados na grande mídia, como mereceriam, ao contrário do que acontece com manifestações congêneres de outras regiões do país, que ganham destaque considerável nos veículos de alcance nacional. Como se isso não bastasse, comunicadores e maus historiadores têm procurado denegrir a comemoração do “Dia do Gaúcho”, dizendo que ela faz alusão a um movimento que classificam como separatista, revelando desconhecimento da real faceta histórica.da Revolução Farroupilha, ou “Guerra dos Farrapos”, como a definem algumas publicações.
O que eles não sabem e nunca se interessaram em saber é que o separatismo que existiu no curso da Revolução Farroupilha (1835 a 1845), com a instalação da República de Piratini, depois sediada em Caçapava do Sul e Alegrete, sob a denominação de República Rio-grandense, foi uma situação imposta pelas circunstâncias da época, sendo portanto uma consequência e não o objetivo primordial da insurreição que tinha por finalidade exigir do Império um tratamento mais justo para com a economia da Província, que era usurpada pelo poder central, notadamente na indústria do charque, que representava a base produtiva da unidade federativa do extremo sul.
Se houvesse boa vontade na forma de analisar esse movimento, que representa a maior guerra civil da História do Brasil, aqueles que o rotulam indevidamente de separatista haveriam de concluir, até por uma questão de lógica, que não tinha como a Província do Rio Grande de São Pedro permanecer subjugada ao poder central, tendo-o no campo antagônico como um inimigo de guerra. É cristalino como a luz do sol que qualquer levante armado de longa duração, envolvendo uma unidade do pacto federativo requer do insurgente uma diretriz administrativa própria, dê-se a isso ou não o nome de separatismo. Vale observar ainda que o emissário enviado pelo ditador Rosas, da Argentina, para oferecer ajuda ao exército farroupilha, obteve do general David Canabarro a célebre resposta “Diga a seu chefe que assinaremos a paz com o Império com o sangue do primeiro invasor estrangeiro que atravessar a fronteira. Pois antes de tudo somos brasileiros .”
Esse espírito de brasilidade ficou nitidamente sacramentado no Tratado conhecido como “Paz de Poncho Verde”, assinado no território do atual município de Dom Pedrito, com Duque de Caxias representando o Império. Foi um acordo pacífico e conciliador sob todos os aspectos, havendo plena aquiescência por parte dos revolucionários republicanos, que se tornaram alvo de consideração por parte do Império de Dom Pedro II, ao lhes conceder anistia ampla e irrestrita, inclusive com a inclusão voluntária de oficiais farroupilhas ao exército imperial. Esse conhecimento pleno acerca daquilo que realmente representa a Revolução Farroupilha no contexto histórico do Rio Grande do Sul e do Brasil desmistifica aquelas versões de historiadores mal informados ou mal intencionados,que têm procurado macular esse legado épico dos bravos Farrapos, patrimônio histórico preservado pelos gaúchos com zelo, muito amor e incontido orgulho.
Consciente dessa verdade, enfatizo com todas as letras, em mais esse ensejo da Festa Farroupilha que se estende do Chuí ao Mampituba; das brarrancas do rio Uruguai ao Litoral: Vibra, gaúcho, exibe tua bela montaria, tuas pilchas e adereços típicos pelas avenidas da querência amada. E canta com garbo varonil, tremulando o teu inconfundível Pavilhão Tricolor, aquele Hino tão bonito, que entoas nos estádios a cada batalha de que participa o valente “esquadrão farroupilha da bola”, que faz morada no teu coração.
Lino Tavares é jornalista diplomado, colunista na mídia gaúcha e catarinense, integrante da equipe de comentaristas do Portal Terceiro Tempo da Rede Bandeirantes de Televisão, além de poeta e compositor.