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Aprovação de milho transgênico tolerante a quatro herbicidas pela CTNBio preocupa especialistas

Painel desta sexta em congresso sobre agricultura da UFRGS. Foto: Luiz Munhoz/Divulgação

 

Leonardo Melgarejo. Foto: Luiz Munhoz/Divulgação

 

Bruna Karpinski

A recente liberação de uma nova semente de milho transgênica, desta vez tolerante a quatro tipos de herbicidas – 2,4D, glifosato, glufosinato de amônio e isoxaflutole, preocupa acadêmicos e ambientalistas. A variedade foi aprovada para uso comercial no dia 4 de setembro pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

O receio é que a semente resistente a quatro substâncias estimule os agricultores a aplicarem coquetéis que consistem na mistura de todos estes princípios ativos, prática que atualmente não é permitida pela legislação brasileira, ressalta o agrônomo e ambientalista Leonardo Melgarejo. “Não existe estudo que mostre os efeitos sinérgicos destes produtos juntos”, alerta.

No prazo de 30 dias, o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) deve emitir parecer. Entretanto, como o órgão não faz reuniões periódicas, a tendência é que o milho resistente a quatro tipos de herbicida seja automaticamente liberado. Até então, as cultivares de milho geneticamente modificadas disponíveis no mercado têm tolerância a três substâncias.

Outra preocupação é com a nova geração de organismos geneticamente modificados, os cisgênicos, quando o genoma é alterado para apagar alguma característica da planta. “Precisamos de uma ciência mais cidadã, mais comprometida com os interesses humanos do que com os interesses de mercado”, afirma Melgarejo.

A associação entre os movimentos sociais, pesquisadores e universidades é um dos caminhos para avançar neste sentido, aponta a equatoriana Myrian Paredes, professora no Departamento de Desenvolvimento, Meio Ambiente e Território da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.

“Esta não é uma peleia científica, é uma peleia política”, avalia a Myrian, que também é produtora de alimentos agroecológicos. A professora lembra que, atualmente, 65% dos agrotóxicos e 61% das sementes são dominados por três grandes empresas.

Ambos os pesquisadores participaram de simpósio sobre Transgênicos, Agroquímicos e Riscos Alimentares nesta sexta-feira (21), durante a III Conferência Internacional Agricultura e Alimentação em uma Sociedade Urbanizada (AgUrb). O evento ocorreu esta semana, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em Porto Alegre.

Movimentos sociais na linha de frente

Após uma semana de profundos debates, a programação do III AgUrb chegou ao fim nesta sexta-feira. A importância dos movimentos sociais foi consenso durante todas as discussões do evento, que contou com a participação de pesquisadores e acadêmicos de dezenas de países.

“Os atores que mais produzem as mudanças são os movimentos sociais, que têm a capacidade de nos fazer perguntas incômodas e de nos questionar”, disse o sociólogo Sergio Schneider, coordenador-geral da conferência internacional.

Em seu discurso de encerramento, falou sobre repensar certezas. “É possível fazer mais. E, mais do que isso, é necessário fazer mais”, disse Schneider referindo-se à possíveis contribuições para o ativismo político, que poderá promover mudanças efetivas.

 

sul 21///