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Breves notas quase na antevéspera

Foto: Guilherme Santos/Sul21

 

Céli Pinto (*)

Há um argumento que circula nas redes sociais de que Ciro Gomes seria o único candidato capaz de ganhar em um Segundo Turno de Bolsonaro e que, portanto, votar em Haddad seria um erro. Penso que a questão está muito mal colocada, por um conjunto de razões que passo a enumerar:

1. Ciro tem sido um candidato à presidência da República potencialmente frágil. Nas duas vezes que concorreu, alcançou votações ao redor dos 10%: em 1998, concorrendo pelo PPS, teve 10,97% e, em 2002, pelo mesmo partido, 11,86%. Nas atuais eleições, teve 12% das intenções de voto em pesquisa Datafolha em 4 de setembro, o seu melhor resultado. Portanto, Ciro é um candidato respeitado como político, mas por seu temperamento, sua constante mudança de partido e a pouca estrutura dos partidos a que se filia, nunca conseguiu beliscar um resultado que lhe desse mínimas esperanças.

2. Ciro só chegaria ao segundo turno se, em um acordo muito inicial, o PT tivesse aberto mão da candidatura à presidência da República em seu favor. Mas a pergunta é óbvia: por que o PT faria isto? É um partido com grande estrutura, já 4 vezes ganhador de eleições presidenciais e com uma liderança do tamanho de Lula, malgrado a crítica que se possa fazer a ele. Nenhum partido político digno deste nome, com um candidato preso que chegou a 39% das intenções de votos e com um substituto que, em pouco menos de um mês conseguiu mais de 20% destas intenções, pode abrir mão de disputar as eleições sob pena de irresponsabilidade.

3. Há uma crítica à candidatura do PT com base no crescimento inesperado da intenção de votos do candidato de extrema direita. Havia um certo consenso de que 4 ou até 5 candidatos chegariam às eleições do primeiro turno com intenções de votos ao redor de 20%, e neste grupo estariam Ciro, Haddad, Alckmin e Bolsonaro. Isto não se realizou. O crescimento do candidato da extrema direita tem muitas causas, desde o sentimento antidemocrático que vem crescendo no Brasil, até a facada que atingiu o candidato do PSL e o deixou na confortável posição de vítima muda. Em meio a isto, não se pode deixar de prestar atenção no derretimento da candidatura Alckmin, do PSDB, partido que até então era um dos atores centrais nas disputas à presidência da república. E também não se pode esquecer a pífia campanha de Marina, que em 2014 chegara ao segundo turno com 19,33% e agora amarga 4%. Além do fiasco do banqueiro do MDB, que financia sua própria campanha e divide espaço, na mente dos eleitores, com o Cabo Daciolo.

Portanto, não é a candidatura do PT a responsável pelo crescimento de intenções de votos do candidato da extrema-direita, mas a profunda crise de opção eleitoral da centro-direita brasileira, somada ao acirramento de um pensamento reacionário, politicamente promovido por parte desta própria centro-direita.

Isto posto, estamos frente à mais difícil eleição presidencial da história do Brasil, pois o que está em jogo não é um ou outro partido ficar na oposição por 4 anos. O que está em jogo não é ter de aguentar um presidente do qual se discorda de todas as suas políticas. O que está em jogo é a democracia brasileira, representada por todos os partidos que disputaram as eleições depois da ditadura militar. Se o conjunto dos eleitores de todos estes partidos não tiverem isto muito claro o que representa o perigo de um governo de um extremista de direita, se as direções partidárias não tiverem o mínimo de bom senso, os tempos que nos esperam não são só difíceis, mas o que se poderia chamar de tempos impossíveis, tempos impensáveis. Portanto, cabe, neste momento grave, responsabilidade e serenidade.

(*) Professora Titular do Departamento de História da UFRGS.