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“O que nós queremos é o protagonismo e o nosso candidato é o Ciro. Com o PT não dá mais”, diz o deputado do PDT Pompeo de Mattos

Em discurso na Câmara, semana passada, o deputado federal Pompeo de Mattos, do PDT do Rio Grande do Sul, abriu fogo contra o PT.

Rebatendo críticas à falta de apoio de Ciro e do PDT a Fernando Haddad, no 2º turno, ele afirmou que os petistas não poderiam reclamar de nada, uma vez que o PDT foi aliado do Partido dos Trabalhadores desde 1989, ainda com Leonel Brizola, até o impeachment de Dilma Rousseff.

E que o mesmo não teria acontecido em 2016, quando na eleição para presidente da Câmara dos Deputados o PT decidiu votar no “golpista” do DEM Rodrigo Maia, deixando de apoiar o pedetista André Figueiredo.

Em entrevista ao DCM, Pompeo de Mattos, que está no PDT desde 1980, reforça as críticas e o novo posicionamento do partido. Ele diz que é preciso se afastar o mais rápido possível do PT, e buscar a composição de um novo bloco, de centro-esquerda, com legendas como PV, Rede e PSB.

Segundo o parlamentar, o PDT vai buscar o protagonismo da oposição ao governo Bolsonaro com uma atuação menos raivosa e mais propositiva.

O deputado também fala do que considera uma traição do PT antes das eleições deste ano, quando o Partido dos Trabalhadores fechou aliança com o PSB, que, segundo o deputado, já se aproximava de um acordo com o PDT.

Pompeo de Mattos é filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) desde 1980, e iniciou a carreira política em sua cidade natal, Santo Augusto-RS, sendo eleito vereador em 1982 e prefeito em 1988. Foi eleito deputado federal pela primeira vez em 1998. Este ano conseguiu a reeleição.

Como o senhor vê as cobranças do PT, que critica uma falta de apoio por parte de Ciro e do PDT no segundo turno?

A nossa relação com o PT é como uma via de mão única, de uma direção. Só vai do PDT para o PT. É só para eles e por eles. Isso não dá mais. Com o PT funciona o “que seja feita a minha vontade, assim em Brasília como no Rio Grande do Sul e no Brasil inteiro. É só para eles, do jeito deles e por eles. Então, essa fase não dá mais.

O PT está que nem um cinamomo. Uma árvore que não nasce nada embaixo e nada se cria do lado. A prova disso é que o PSB, que estava do lado, se afastou, e está respirando. O PCdoB ficou embaixo, e está morrendo. E o PDT, que está do lado, patinou. Tem que sair de perto.

Não quer dizer que vamos mudar o nosso campo político. Vamos manter o mesmo campo político, de centro-esquerda, mas a parceria do PT é muito ruim. Eles não são parceiros. Só olham o próprio lado.

Sobre um possível “jogo sujo” do PT nos bastidores da campanha, com o PT acabando com a possível aliança entre PSB e PDT. Vimos declarações de pedetistas nesse sentido. O que o PT fez?

A parceria do PT com o PSB havia acabado antes das eleições. Quando PDT e PSB se aproximaram, o PT quis interferir, com medo de perder o protagonismo na esquerda. Decidiram voltar atrás na parceria com o PSB, em vez de deixar os dois partidos se unirem.

Começaram a conspirar, direto de Curitiba, por meio do ex-presidente Lula, recebendo ordens, criando obstáculos e constrangimentos para que o PSB não fechasse com o PDT. Fazendo negociatas baixas em Pernambuco e em Minas Gerais.

Ou seja, o PT abriu mão para o PSB de alguns espaços que eram seus, desde que o PSB não viesse nacionalmente com o PDT. Mas isso é coisa que se faça? Quem é parceiro, aliado, faz isso? Para quê inimigo com um amigo desses? Para quê adversário com um companheiro assim?

Por isso está na hora de montarmos um outro campo político. Tanto que estamos já discutindo com o PV, com a Rede, com o PSB, para montarmos um bloco na Câmara a partir de 2019.

E o Psol, também poderia participar?

Poderia participar. Vai depender deles. Mas esse bloco, PDT, PSB, Rede, já é um bloco forte. Se tiver mais gente que queira entrar, são bem-vindos. Mas é um bloco que não vai ser subordinado ao PT. Chega de ser “puxadinho” do PT, “casa de cachorro” do PT.

O PDT, com isso, busca assumir o protagonismo da esquerda, no lugar do PT?

O que nós queremos é ter o protagonismo, até porque o nosso candidato é o Ciro. É o que sobrou de bom dessa campanha. Esse tipo de campanha do PT, do ódio, do “contra tudo e contra todos” já não dá mais.

O PT vai ficar quatro anos alimentando ódio contra o Bolsonaro. O PT faz oposição ao Brasil e não ao governo. Eles exageram. Temos de ter um equilíbrio nessa atuação.

Isso não pode fragmentar, enfraquecer a esquerda, deputado?

Temos que ocupar o nosso espaço. Nós, com o propósito de não enfraquecer a esquerda, acabamos entregando para a direita. Se o PT tivesse enxergado isso o Ciro seria o candidato a presidente. Então, não é assim: “eu tenho que ceder para não enfraquecer”. Nós temos que tensionar a esquerda, para que a esquerda acorde e veja quem é quem. Se a cúpula não enxergar, o povo vai enxergar.

O povo viu que o nome era o Ciro. Todas as pesquisas apontavam que o Ciro ganhava, mas a cúpula do PT não quis. Como disse a Gleisi Hoffman: “nem que a vaca tussa”. Da Gleisi Hoffmann nunca vamos esperar mais nada.  

Por quê, deputado?

Porque ela só olha o próprio umbigo. Ela se olha no espelho e se acha a mais linda do mundo, e enxerga o PT como seu príncipe encantado.

Ela não faz a autocrítica, o mea culpa?

Não, não faz mea culpa. Ela voltou a criticar o PDT e se queixar do Ciro. Mas se ela disse que “nem que a vaca tossisse” o PT apoiaria o Ciro. A vaca tossiu. Eles entregaram a eleição para o Bolsonaro ao não apoiarem o Ciro.

Então, não tem como compor uma aliança dos partidos de esquerda que inclua o PT?

Não. O PT escolheu um caminho próprio, dele. O partido acha que é o dono da verdade, acha que tem o rei na barriga. E assim, se mata. Que sigam com eles mesmos, sozinhos.

Não haverá nem a tentativa de uma composição com o PT, em 2019?

Nós vamos seguir o nosso caminho. Se eles quiserem vir juntos, venham. Mas como donos do caminhos, donos da bola, não. Se não quer, não tem problema. Que sigam sozinhos.

Mas volto a insistir. Esse racha não pode dar mais força para o campo chamada da direita?

Mais força do que o PT já deu? O Bolsonaro é resultado da política anti-PT. É cria, criatura do PT. O PT, então, agindo dessa maneira, não apoiando o Ciro, pagou o preço. Isto é, o PT sabia que perdia sem o Ciro, pagou para ver, agora não pode repartir a conta conosco. Que paguem a dívida que fizeram.

Ciro Gomes no Jornal da Globo. Foto: Reprodução/Twitter

Então PDT e PSB estão fechando um bloco para 2019?

Estamos negociando. Não é que estamos fechando. Abrimos um diálogo com PSB, PV, Rede, e com outros partidos. Até PCdoB.

E como vai ser a atuação do PDT durante o governo Bolsonaro?

Nós somos oposição. Não aquela oposição raivosa, do “quanto pior, melhor”. Não vamos votar a autoria dos projetos, mas sim os projetos. Não importa se é do Bolsonaro. Se for bom, vamos examinar. Se for ruim, vamos tentar corrigir. Se não der, vamos para o enfrentamento no parlamento.

Não somos contra tudo e contra todos. Vamos examinar, somos oposição ao governo. Se for algo a favor do Brasil, não teremos nenhum constrangimento em poder colaborar. Agora, por exemplo, um projeto como a reforma da Previdência, proposta pelo Temer. O Bolsonaro quer ressuscitar essa reforma. “Pau” neles. Vamos para o enfrentamento democrático.

É um absurdo. Uma proposta que já foi debatida, discutida, examinada, julgada, condenada, sentenciada, morta, enterrada e eles querem ressuscitar das catacumbas? Não dá. O PDT tem lado. O lado do trabalhador.

Mas o senhor acha que a popularidade do Bolsonaro pode fazer com que essa proposta do Temer, anteriormente rejeitada, seja aprovada?

A popularidade é assim: o amor é a coisa mais linda que tem. Mas quando falta feijão, ele se manda pela janela. Então, quando quiserem tirar o direito de o cidadão se aposentar com um mínimo de dignidade, ninguém vai pagar essa conta pelo amor ao Bolsonaro. Não é assim que funciona.

E sobre a presidência da Câmara, o PDT já tem algum posicionamento?

Está tudo em aberto ainda. Naturalmente o Rodrigo Maia, do DEM, atual presidente tem força. Eles vão se aproximar do Bolsonaro, é natural esse fortalecimento.

O senhor avalia que haverá essa aproximação entre aliados do Bolsonaro e o DEM, o Rodrigo Maia?

Claro. Eles estão juntos. Não é que “haverá aproximação”. Eles estão juntos. Falam a mesma língua.

PSDB também?

Sim. Talvez demore um pouco para chegar lá, mas chega também.

E o MDB, também?

O MDB já está prontinho.

Como assim?

Como sempre, se aprontam antes.

Então o senhor acredita que os deputados eleitos pelo PSL formarão uma frente forte?

De certa forma, eles já venceram o chamado Centrão. Porque o MDB perdeu a metade da bancada, o PSDB também. O PTB quase desapareceu. PR e PP diminuíram. Na esquerda, quem subiu foi o PDT, de 19 para 29 deputados, e o PSB. O PT diminuiu um pouquinho, mas é a maior bancada.  

 
DCM///

Roberto de Martin é jornalista mineiro de Matias Barbosa radicado em Brasília