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Tempo

Depois do carnaval, ainda a rua

Após destituído Momo de seu trono e cetro, não veremos mais bloco algum.

 

Mais do que nunca, é necessário que permaneçamos na rua após o carnaval (AFP)

 

Por Alexis Parrot*

Sejamos breves.

É terça de carnaval e o coração do brasileiro está na rua. Mas a festa que toma avenidas e sambódromos país afora não pode ser desculpa para nos anestesiarmos por completo.

Não importa se a luz é de LED, se as baianas são ozadas ou se o Baixo Augusta ferve. Após destituído Momo de seu trono e cetro, não veremos mais bloco algum. No horizonte, a única promessa é a de uma parada de sete de setembro permanente.

Os idos de março verão a escola de samba perder espaço para o colégio militar. Por decreto, a alegria espontânea será substituída por aulinhas de moral e cívica. Cuícas e surdos serão silenciados e no playlist nosso de cada dia, a obrigação de ouvir em looping o hino nacional. 

Sejamos claros.

Enquanto o soldado de chumbo alçado ao posto mais alto elogia ditadores e torturadores, quem manda mesmo são os generais. Nada de novo no quartel. Reforma da Previdência? Só para os outros. Ao Pedro Malasartes que venceu a eleição servindo sopa de pedra no whatsapp, vamos ver até quando será de utilidade – porque, mais cedo ou mais tarde, o descarte virá. De golpe de Estado essa gente entende.

E o Rio, terra do samba por excelência, segue abandonado, sem prefeito. O último escândalo é sempre menor que o próximo. O caso recém descoberto dos contracheques duplos para ultrapassar o teto salarial permitido de servidores comissionados é de enrubescer o Cristo Redentor e azedar o Pão de Açúcar.

O maior bloco de sujos do país é a turma do senador Flavio Bolsonaro, o cordão puxado pelo Queiroz, fiel camareiro dos tempos de Alerj. Se juntarmos a eles o PSL de Minas e Pernambuco, é quase uma escola de samba. Poderiam desfilar cantando a marchinha clássica de Ataulfo Alves:

…Laranja madura

na beira da estrada

tá bichada, Zé,

ou tem marimbondo no pé

 

Sejamos rápidos.

Mais do que nunca, é necessário que permaneçamos na rua após o carnaval, antes que tanques substituam os carros alegóricos; antes que índios, mulheres, aposentados, negros e LGBTQs sejam encurralados na beira do precipício; antes que a truculência vença o bom senso; antes que a pobreza se transforme em miséria.

O exemplo mais patente da ignorância que se encastelou no Palácio do Planalto é a situação da EBC. O processo de desmonte iniciado no governo anterior segue a pleno vapor. Por não entenderem que público e estatal não são a mesma coisa, põem em risco o projeto mais importante de comunicação pública já executado pelo Estado brasileiro em qualquer tempo.

Querer plasmar TV Brasil e NBR em um só canal é como tentar transmitir  AM e FM na mesma onda. São água e óleo e é assim que devem permanecer, cada uma cumprindo seu papel; alinhadas mas independentes.

Muito emblemática foi a decisão de acabar com o Sem Censura, programa cuja trajetória se confunde com a de cada um de nós, no ar há quase 35 anos. Voltaram atrás e agora dizem que a atração permanece, mas só mesmo vendo para crer. Ainda assim, fica a dúvida: este governo será Com ou Sem Censura?

Sejamos firmes.

O Brasil não tem outra opção que não a de ver sua história escrita coletivamente. Uma caneta Bic sozinha não faz verão, assim como as estrelas dos generais deixarão de brilhar se não quiserem aprender a ouvir. A rua é o megafone que precisamos para não deixar o samba atravessar.

Com este enredo definido, qualquer alegoria cai por terra. No abre-alas, desbravaremos a avenida e ninguém será capaz de nos tirar o campeonato.

 *Alexis Parrot  é diretor de TV, roteirista e jornalista. Escreve sobre televisão às terças-feiras para o DOM TOTAL.

 

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