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Governo Bolsonaro usa canal oficial do Planalto para divulgar vídeo apócrifo pró-ditadura

Vídeo sem assinatura tem narrativa truncada e omite dados históricos sobre o golpe de 1964. Defesa institucional da ditadura é criticada por entidades nacionais e internacionais.

 

Bolsonaro instruiu os comandos militares a voltarem a comemorar o 31 de março. (Arquivo Nacional)

O Palácio do Planalto distribuiu neste domingo, através de um dos canais oficiais de WhatsApp da Presidência da República, um vídeo sem assinatura em defesa do golpe de Estado de 1964 e da ditadura militar.

O texto, sem assinatura, usa a mesma justificativa empregada pelo presidente Jair Bolsonaro para defender o golpe, a de que o Brasil "caminhava para o comunismo". No vídeo, com narrativa truncada, o narrador diz aos jovens para pesquisar o que realmente aconteceu e que 1964 era um tempo de "medo e ameaças" vindas do risco de comunismo.

"Foi aí, conclamado por jornais, rádios, TVs e principalmente pelo povo na rua –povo de verdade, pais, mães, igreja– que o Brasil lembrou que possuía o Exército nacional e apelou a ele. Foi só aí que a escuridão graças a Deus foi passando e fez-se a luz", diz o narrador, não identificado, que acrescenta: "O Exército nos salvou, o Exército. Não há como negar".

A Secretaria de Comunicação da Previdência (Secom) confirmou à Reuters que o canal usado, um contato de WhatsApp criado ainda no governo do ex-presidente Michel Temer para distribuir notícias à população, é um número oficial do Planalto. No entanto, afirmou que o vídeo não é uma criação da Secom e a distribuição não foi uma ação oficial.

Perguntada sobre quem controlava atualmente o canal, a Secom não soube informar.

O mesmo vídeo foi publicado na manhã deste domingo pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, junto a uma sequência de outros vídeos em defesa da ditadura militar.

Na semana passada, Bolsonaro instruiu os comandos militares a voltarem a comemorar o 31 de março, dia em que os militares iniciaram o golpe de 1964 que derrubou o presidente João Goulart, iniciando os 21 anos de ditadura no país.

A posição do presidente, um defensor ardoroso do período militar, foi criticada por diversas entidades nacionais e internacionais, incluindo o Ministério Público e o relator especial sobre a promoção da verdade, justiça, reparação e garantias de não-repetição das Nações Unidas, Fabián Salvioli.

Diante das reações negativas, Bolsonaro recuou e afirmou que não se trataria de comemorar, mas de rememorar o 31 de março.

Protesto contra a ditadura militar
 

Manifestantes vestidos de preto se reuniram na tarde desse domingo na Cinelândia, no centro do Rio, para o ato "Ditadura Nunca Mais". A concentração começou nas escadarias da Câmara dos Vereadores. O ato foi convocado pelas redes sociais, para as 15 horas. Por volta das 17 horas, 14.547 pessoas confirmaram presença no evento criado no Facebook.

Em um carro de som, políticos estão se revezando para fazer discursos, como o ex-deputado federal Chico Alencar (PSOL). Os deputados federais Alessandro Molon (PSB-RJ) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também marcaram presença.

"É de cuspir o que fez o presidente Jair Bolsonaro, chamar essa celebração. É canalha mesmo. A gente sabe que ainda há tortura do Brasil", disse Jandira, ao discursar de cima do carro de som, numa referência à recomendação feita pelo presidente Jair Bolsonaro, para que os militares fizessem atos em memória ao aniversário de 55 anos, completados neste domingo, do golpe de Estado de 1964, que instaurou o regime exceção que duraria até 1985.

No ato na Cinelândia, há pessoas vestidas com blusas de homenagem à vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), assassinada a tiros em março de 2018. Manifestantes carregam bandeiras da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Há também bandeiras que pedem a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em processo decorrente das investigações da Operação Lava Jato.

Conforme o evento criado no Facebook, o ato deste domingo foi convocado pelos movimentos Fora, Bolsonaro, Comitês de Luta contra o Golpe e pela União Nacional dos Estudantes (UNE), além dos partidos políticos PT, PCO e PCdoB.

Agência Estado, Reuters e Domtotal///