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Em entrevista, Lula afirma que Brasil é ‘governado por um bando de malucos’

Para Lula, o ex-juiz Sérgio Moro, que o condenou à prisão, ‘não sobrevive na política’.

 

Pouco mais de um ano depois de sua prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve a permissão de conceder a primeira entrevista à imprensa em seu cárcere, na superintendência da Polícia Federal de Curitiba. Concedida à equipe dos jornais El País e da Folha de S. Paulo, Lula falou por duas horas e, a seu modo, abriu o verbo, francamente. “Sei muito bem qual lugar que a história me reserva. E sei também quem estará na lixeira.”

Atacou o ministro da Justiça Sérgio Moro, elogiou o vice-presidente Hamilton Mourão, reafirmou ser um preso político, fez autocríticas e declarou: “Fico preso por cem anos, mas não troco minha dignidade pela minha liberdade”. Sobre o atual governo, disse serem “um bando de loucos”.

De acordo com a divulgação das duas publicações, o ex-líder sindical do ABC paulista pediu para fazer um “micropronunciamento”, antes de responder às perguntas “para tratar especificamente do meu caso, e depois do caso do Brasil”. Cercado por agentes da Polícia Federal, quatro deles armados que mantinham a distância das equipes de jornalistas a quatro metros de distância, “por procedimento”, Lula afirmou: “Reafirmo minha inocência, comprovada em diversas ações”.

Emotivo como de costume, Lula chorou quanto os repórteres o questionaram sobre seu neto Arthur, de 7 anos, morto em 1º de março deste ano, e agradeceu a “solidariedade” do vice-presidente general Mourão, por lhe conceder o direito de comparecer ao velório da criança.

Diante das perguntas, não poupou críticas a Moro, à Operação Lava Jato e ao procurador Deltan Dallagnol, acrescentando que dorme de consciência limpa, ao contrário dos que o condenaram sem provas concretas. “Eu tenho tanta obsessão de desmascarar o Moro, desmascarar o Dallagnol e a sua turma e desmascarar aqueles que me condenaram, que eu ficarei preso 100 anos, mas eu não trocarei a minha dignidade pela minha liberdade. Eu quero provar a farsa montada. Eu quero provar. Montada aqui dentro, no departamento de Justiça dos Estados Unidos com depoimento de procuradores com filme gravado”, disse ao El País.

Em seguida, o repórter indagou sobre a possibilidade de ele ficar preso para sempre, referindo-se à hipótese de que ele poderia ter deixado o país. Lula disse que dorme com “a consciência tranquila” e vai provar sua inocência. “Como eu quero viver até os 120 anos, porque acho que sou um ser humano que nasceu para ir até os 120, eu vou trabalhar muito para mostrar a minha inocência e a farsa que foi montada.”

Lula critica “a falta de sensibilidade” para a união da esquerda nas eleições, mas afirma que “o papel das fake news na campanha, a quantidade de mentira, a robotização da campanha na internet foi uma coisa maluca”. E declara algo que se tornou evidente a todos os brasileiros: “Eu nunca tinha visto o povo com tanto ódio nas ruas”.

Sobre o presidente Jair Bolsonaro, afirma que o líder de extrema-direita não deve ser julgado pelos 100 dias de governo. “Só propõe fazer análise de 100 dias quem nunca governou, quem acha que em 100 dias pode apresentar alguma coisa, ele realmente não aprendeu a sentar a bunda na cadeira.” E completou: "Ou ele constrói um partido sólido, ou não perdura".

No entanto, deixa claro que o atual governo bate cabeça no jogo político e na relação com o Congresso. “Ele passar a agredir os deputados, depois tenta agradar os deputados, diz que está fazendo a nova política, e ele faz a mesma, porque ele é um velho político. O país está subordinado à ingovernabilidade. Ele até agora não sabe o que fazer, e quem dita regras é o Guedes.”

Acrescenta que a reforma da Previdência é uma falácia e que o Brasil está perdendo sua soberania. “Se eles querem juntar R$ 1 trilhão, tem uma fórmula secreta: coloque o povo no orçamento da União. Segundo, gere emprego. Terceiro: gere crédito para as pessoas.”

Diante das perguntas a respeito das acusações de corrupção do PT e de seu governo, admitiu a possibilidade de que corrupção, mas pediu provas concretas e não apenas delações de supostos criminosos envolvidos nos casos.

O ex-presidente diz se arrepender de não ter dimensionado e tampouco realizado uma mudança no jogo dos meios de comunicação. Todavia, reafirmou seu otimismo: “Acredito na construção de um mundo melhor, num mundo de Justiça. Haverá um dia em que as pessoas que irão me julgar estarão preocupados com os autos do processo, com as provas contidas no processo e não com a manchete do Jornal Nacional, com as capas das revistas, não com as mentiras do fake News”.

Agência Estado, El País, redação Dom Total///