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Congresso minimiza efeitos de manifestações; fala de Bolsonaro irrita Centrão

No domingo, Bolsonaro afirmou que as manifestações eram um recado às ‘velhas práticas’ que não deixaram o povo se ‘libertar’

 

Ato em apoio ao governo de Jair Bolsonaro. (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

 

Lideranças do Congresso minimizaram os efeitos das manifestações de domingo, 26, e avaliaram que as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre as "velhas práticas" da política acirram ainda mais o embate entre o Planalto e os parlamentares. Entre os manifestantes que foram às ruas para defender o governo, houve críticas contra o Congresso, especialmente direcionadas ao Centrão e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

"De efeito prático das manifestações no Congresso, zero, nada", comentou o líder do PRB na Câmara, Lafayette Andrada (MG), ao Broadcast Político. Para ele, a pauta foi "superficial" e o Congresso acabou sendo alvo de um "sentimento difuso" contra a classe política. "É um sentimento contra as classes políticas, contra os dirigentes, é o povo reclamando que as coisas não estão boas, reclamando dos políticos, então no sentimento difuso isso cai contra o Congresso."

No domingo, Bolsonaro afirmou que as manifestações eram um recado às "velhas práticas" que não deixaram o povo se "libertar". A declaração irritou parlamentares, entre eles o líder do PRB. "Isso não é bom, não é positivo. Ele fica surfando nessa onda que existe e que aproveitou muito na eleição, um sentimento contra a classe política, e fica botando gasolina na fogueira. Para ele, é burrice", disse Andrada.

Outros líderes do Centrão também avaliaram que as declarações do presidente em meio às manifestações atrapalham a relação com o Congresso. "A situação só vai se complicando na medida que o presidente não tem relação com o Congresso e ataca a política todo dia", disse o presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força. "As manifestações não serviram de muita coisa, isso só isola mais o governo. O Rodrigo Maia (presidente da Câmara) é o único que sustenta o governo ainda hoje. Ataque a ele é um tiro na testa, e não no pé", disse o deputado federal.

Já líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento (BA), divulgou nota condenando o "radicalismo e a beligerância" e afirmou que "ninguém governa sozinho".

A avaliação de que os ataques contra o Congresso não vão causar consequências no parlamento também foi feita pelo presidente do PSL, partido de Jair Bolsonaro, Luciano Bivar. "As pessoas que fizeram ataques não estavam no propósito da manifestação", disse Bivar, que ocupa uma cadeira na Câmara dos Deputados. "Absolutamente nenhuma (consequência). A manifestação foi muito ordeira. Houve alguns casos isolados que falaram isso, mas não eram a base da manifestação."

Ao comentar a declaração de Bolsonaro, Bivar afirmou que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e os partidos do Centrão estão preocupados em aprovar reformas. "O presidente não quer dizer que velhas praticas seja o Centrão, velhas práticas não têm nada a ver com o Centrão. O Centrão está preocupado em fazer uma pauta positiva para o Brasil.".

Para o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), o presidente erra quando insinua que o Congresso está impedindo o avanço de pautas importantes para o país. "Ele tem que dizer que práticas são essas porque nós não temos nenhum prática em relação a esse governo ou a qualquer outra coisa, nós estamos tentando ajudar o Brasil", declarou Braga, que também minimizou a presença de apoiadores de Bolsonaro nas ruas: "Não vi o país mobilizado como em outros momentos", afirmou, citando as manifestações contra cortes nas universidades no último dia 15.

Bolsonaro admite falta de diálogo

O presidente Jair Bolsonaro reconheceu em entrevista no domingo que precisa conversar mais com as lideranças do Congresso, afirmando ter parte da culpa pela falta de diálogo, e disse que vai propor nesta semana um pacto aos presidentes do Legislativo e do Judiciário para colocar o Brasil no destino que a população quer.

Ao comentar a relação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com quem já teve atritos públicos, Bolsonaro disse que deveriam conversar mais, e afirmou que irá se encontrar nesta semana com o deputado e também com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para alinhar a articulação do governo com o Congresso.

"Vou conversar com ele (Maia) durante a semana novamente, bem como com o Davi Alcolumbre, como pretendo conversar novamente com o Dias Toffoli (presidente do Supremo Tribunal Federal), para a gente ter um pacto entre nós para colocar o Brasil realmente no destino que toda a população maravilhosa quer", disse Bolsonaro em entrevista à TV Record, que foi ao ar na noite de domingo.

Bolsonaro disse que os Poderes estão em harmonia e descartou um "litígio", mas reconheceu que é preciso melhorar a articulação para que o Congresso vote as pautas de interesse do governo.

"Nós não estamos em litígio, deixando claro, estamos em harmonia, mas acho que falta conversar um pouco mais e a culpa é minha também, para que nós coloquemos na mesa o que nós temos que aprovar, e o que nós temos também que revogar, porque tem muita legislação que atrapalha o crescimento do Brasil", afirmou.

"Falta nós, em Brasília, conversarmos um pouco mais e discutirmos o que nós temos que votar em especial, e juntos fazer aquilo que o povo pediu por ocasião das eleições e pediu também por ocasião das manifestações do dia de hoje", acrescentou, fazendo referência às manifestações de domingo em apoio ao governo.

De acordo com uma alta fonte do governo ouvida pela Reuters, Maia e Alcolumbre têm apoiado a agenda de reformas estruturais, com destaque para a reforma da Previdência, assim como ministros do STF.

O governo está "otimista e confiante" na aprovação das medidas diante dos apoios recebidos, afirmou.

De acordo com a fonte, as manifestações de domingo em apoio ao governo e à reforma da Previdência fortaleceram o governo e colocaram pressão sobre o Congresso para aprová-la.

"O caminho da reabilitação da classe política é aprovar as reformas sem o toma-lá-dá-cá", afirmou.

Estudantes ‘inocentes’

O presidente também aproveitou a entrevista para se retratar de declaração feita sobre estudantes que foram às ruas de diversas cidades do país em 15 de maio para protestar contra congelamento de recursos para a educação. Na ocasião, o presidente disse que os manifestantes eram "idiotas úteis".

"Eu exagerei, concordo, exagerei. O certo são inocentes úteis. São garotos inocentes, nem sabiam o que estavam fazendo", afirmou.

"A garotada foi para a rua contra corte na educação. Não houve corte, houve contingenciamento. Eu deixei de gastar, não tirei dinheiro… A molecada foi usada por professores inescrupulosos para fazer manifestação política contra o governo", afirmou.

Agência Estado/Reuters///DOM TOTAL///