Jogador rebateu denúncia, divulgando trocas de mensagens e fotos da suposta vítima. Neymar pode ser indiciado pro crime virtual e jogadores da Seleção dizem que isso não afetará o time.
Além do suposto estupro, Neymar será investigado por crime cibernético ao expôr fotos da mulher. (Mauro Pimentel/AFP)
Neymar voltou neste domingo à concentração da seleção brasileira para a Copa América, onde recebeu o apoio dos companheiros em meio ao furação midiático causado pela acusação de estupro contra o atacante, que afirma ser alvo de uma tentativa de extorsão.
A mulher de 26 anos, que teve sua identidade preservada, registrou um Boletim de Ocorrência (B.O.) acusando o jogador de ter cometido estupro. O crime teria acontecido em Paris, na França, em 15 de maio, às 20h20, em um hotel de luxo da cidade.
No documento, a vítima relata que conheceu o jogador pelo Instagram e, após trocas de mensagens, foi convidada por Neymar para ir até Paris para um encontro. Um assessor do atacante, que a moça chamou de "Gallo", entrou em contato e passou os dados da passagem aérea e de hospedagem em Paris.
A mulher deixou a França no dia 17 de maio e explicou que, por estar abalada emocionalmente, não quis registrar o B.O. em outro país e optou por fazer em São Paulo, onde vive. O documento foi registrado na 6ª Delegacia de Defesa da Mulher, em Santo Amaro, e um inquérito foi aberto pela delegada Juliana Lopes Bussacos.
Neymar rebate
O helicóptero do jogador do Paris Saint-Germain aterrissou por volta de meio-dia no centro de treinamento da CBF em Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, pouco depois do horário previso pelo técnico Tite, que havia dado folga aos jogadores na tarde e noite de sábado.
De boné e camiseta preta, Neymar, que afirma ter caído em uma "armadilha", entrou em um carro assim que desceu do helicóptero e foi levado até o edifício da concentração da seleção ao lado dos companheiros de PSG Daniel Alves e Thiago Silva e do meia do Barcelona Arthur, que viajaram com ele.
"Estou sendo acusado de estupro. É uma palavra pesada, uma coisa muito forte, mas é o que está acontecendo no momento", afirmou o jogador em um vídeo publicado no Instagram.
"Bom, fui pego de surpresa. Foi muito ruim e muito triste escutar isso, porque quem me conhece sabe do meu caráter e da minha índole, sabe que eu jamais faria uma coisa desse tipo", completa no vídeo.
Ele disse que exporia "toda a conversa" que manteve com a jovem.
"A partir de agora vou expor tudo, expor toda a conversa que tive com a menina, todos os nossos momentos, que são íntimos, mas é necessário abrir e expor para provar que realmente não aconteceu nada demais", afirmou Neymar, antes de dedicar vários minutos a mostrar a suposta troca de mensagens amorosas e eróticas por WhatsApp, entre os meses de março e maio, incluindo fotos da jovem nua ou de roupa íntima.
Jogadores defendem colega
"Acredito na inocência do Neymar. Acredito que não tenha acontecido nada daquilo que ele foi acusado. Tenho certeza que no que depender de nós, jogadores e comissão técnica, estaremos 100% apoiando ele para que nada disso interfira dentro de campo", defendeu em coletiva de imprensa o volante Fernandinho, de 34 anos, que disputou ao lado de Neymar as Copas do Mundo de 2014 e 2018 e a Copa América de 2015.
"Mas acho que isso será esclarecido o mais rápido possível e acredito na inocência de Neymar. Nós jogadores e membros da equipe daremos suporte a ele para que não tenha nenhum efeito em campo."
Os jogadores, com Neymar entre eles, foram a campo na tarde desse domingo para a primeira sessão de treinos desde que explodiu o escândalo.
No fim da tarde de sábado, diversos veículos de comunicação já publicavam a notícia de que uma mulher brasileira teria apresentado uma denúncia na Polícia de São Paulo contra Neymar por estupro, após convidá-la em meados de maio a um hotel em Paris.
Consultada pela AFP, a Secretaria de Segurança de São Paulo confirmou que uma denúncia foi registrada, mas que toda informação referente ao caso é sigilosa.
Investigação por fotos íntimas
Segundo informações deste domingo divulgadas pela imprensa, a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) abrirá um inquérito e irá intimar o jogador e periciar seu celular por divulgar fotos íntimas. Um carro da polícia esteve na Granja Comary nesse domingo, mas antes da chegada de Neymar.
A primeira conversa compartilhada por Neymar é de 11 de março e a última de 16 de maio, um dia após o suposto estupro.
O artigo 218-C do Código Penal detalha sobre isso. "Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio – inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia". A pena prevista é de um a cinco anos de cadeia.
Sob pressão
Tanto o pai de Neymar como os representantes do jogador, que negaram categoricamente qualquer delito, afirmaram que irão acionar as autoridades para denunciar a suposta tentativa de extorsão.
"Foi uma armadilha e acabei caindo, mas que isso sirva de lição daqui adiante", completou Neymar na parte final do vídeo.
O escândalo explode em um momento delicado para Neymar, que foi suspenso em três jogos por agredir um torcedor francês após a derrota do PSG na Copa da França, um incidente que também lhe custou a braçadeira de capitão da seleção brasileira.
Os episódios de indisciplina somados a uma temporada em que pouco jogou devido a uma nova lesão no pé, além da atuação sem brilho na Copa do Mundo da Rússia no ano passado, colocam Neymar sob forte pressão a poucos dias da estreia do Brasil na Copa América em casa (14 de junho-7 de julho).
"Não atrapalha"
O meio-campista Lucas Paquetá e o atacante Everton falaram com a imprensa neste domingo, no prosseguimento da preparação da Seleção Brasileira para a 49ª edição da Copa América. Principal tema do final de semana, os atletas comentaram sobre a acusação de estupro contra Neymar divulgada no último sábado e o possível reflexo do caso na preparação do elenco.
"A gente procura não falar nada por ser um assunto pessoal. A gente encontrou ele no almoço, mas preferimos ficar calados e dar total apoio", contou Everton, do Grêmio. "A gente sabe que tudo que é vinculado ao nome dele toma proporções maiores. Precisamos ter todo o cuidado porque somos pessoas públicas. Apesar de pessoas ao nosso redor nos brindarem, até do próprio clube, é bem difícil mesmo", seguiu.
Questionado sobre o impacto da acusação no grupo, o atacante foi claro. "Creio que não atrapalha. É um assunto pessoal, que deve estar bem resolvido. A gente vai dar total apoio", comentou. "A gente sabe que é difícil assimilar essas coisas. Mas qualquer jogador que passar por um momento difícil assim, quando entrar dentro do campo vai procurar esquecer tudo e focar totalmente para ajudar a equipe", concluiu.
O meio-campista do Milan Paquetá seguiu a linha das declarações de Everton e reafirmou sua felicidade em estar no grupo que disputará o torneio continental.
"É preciso continuar um ambiente natural. Acho que o ambiente aqui dentro não muda. Esse assunto é pessoal e não vi mudar o nosso ambiente. A felicidade de um estar com o outro, vivendo esse momento e se preparando para conquistar o título é muito maior do que qualquer problema", contou o atleta formado no Flamengo.
AFP/dom total///