Com um crescimento de 12% em 2018, o cooperativismo gaúcho está dando uma lição a um Brasil que oscila entre a recessão e a estagnação da economia. Mas tal sucesso não é um fenômeno exclusivo do Rio Grande do Sul. O cooperativismo em Santa Catarina, do Paraná, de Goiás…mostra resultados tão ou mais brilhantes.
Há um Brasil Cooperativo que prospera sem sinais de crise, operando perfeitamente com mecanismos próprios de governança, de acordo com normas aperfeiçoadas ao longo do século e meio da doutrina nascida na Europa convulsionada pelo confronto do capitalismo x socialismo.
O sucesso realçado dias atrás pelo líder Vergilio Perius em evento na Federasul, em Porto Alegre, recoloca no ar a pergunta: até que ponto o cooperativismo pode ser uma alternativa real para sair do atoleiro em que o Brasil se meteu por apostar exclusivamente no capitalismo?
O cooperativismo amadureceu e parece estar curado da queda do início da década de 1980, quando o edificio político-econômico da Centralsul desabou junto com o “default” do Brasil sob o governo do general Figueiredo, o último dos cinco generais responsáveis pela ditadura de 1964.
Parece não haver dúvida de que os líderes cooperativistas aprenderam a lição: melhor andar pelas próprias pernas do que acreditar em governos inseguros ou se deixar usar por ministros com excesso de poder.
Durante o “milagre econômico” (1968/1975), que propiciou a eclosão da sojicultura no país, alguns lideres do cooperativismo se deixaram instrumentalizar pelo governo.
Ari Dionisio Dalmolin da Fecotrigo e Rubem Ilgenfritz da Silva da Cotrijuí foram talvez as maiores vítimas do regime, do qual se tornaram agentes involuntários — a Fecotrigo como trading company ancorada em Chicago e a Cotrijuí como colonizadora no Cerrado e na Amazônia.
Depois vimos uma espécie de renascimento do cooperativismo no primeiro governo petista, quando (2003) o presidente Lula nomeou ministro da Agricultura o agrônomo paulista Roberto Rodrigues, renomado líder cooperativista global.
Ensaiou-se ali um grande “revival” cooperativista enquanto se dava um enorme impulso à agricultura familiar e se prometia dar chão à reforma agrária, atendendo a demandas que já haviam sido parcialmente acolhidas pelo governo de Fernando Henrique Cardoso (1995/2002).
As pressões contrárias foram tantas do lado político-empresarial que em dois anos Rodrigues caiu fora do governo, deixando claro que, para ele, o Brasil só iria para a frente mediante o fortalecimento do agronegócio ou, seja, adotando o viés ultracapitalista da agricultura com “plantations”, “tradings”, transgênicos e tudo que as empresas transnacionais prescrevem como fórmula ideal para produzir alimentos.
Quanto à agricultura familiar, que tratasse de ficar contentinha nos seus cantinhos de terra.
Olhando de fora, conclui-se que dentro do governo petista, sob Lula, quem ganhou a parada foram os grandes grupos empresariais enraizados no sistema financeiro, além dos exportadores de commodities originárias do agronegócio.
ADM, Bunge, Cargill, Louis Dreyfus…Essas e outras saíram ilesas da crise de 2008 que torpedeou a Sadia, a Aracruz. Até o grupo Votorantim foi pego no contrapé e precisou de uma ajuda substancial do Banco do Brasil.
Em vez de perseverar no apoio ao cooperativismo, restou ao petismo a ideia – bizarra, para dizer o mínimo — de apostar no fortalecimento de grandes grupos identificados como “campeões nacionais”, alguns dos quais estão hoje enrolados em processos judiciais.
Se tinham vocação para campeões, por que precisariam de ajuda do governo? Já o cooperativismo ficou do lado de fora das festas dos campeões…
Hoje se pode perguntar tranquilamente: em vez da competição desenfreada que leva ao conflito em que o mais forte ganha sempre, por que não investir na cooperação e na conciliação dos interesses?
Os marxistas condenavam o cooperativismo porque, diziam, ele “mascarava” a luta de classes e, com isso, retardaria a chegada do socialismo.
Democrático e solidário, o cooperativismo pratica o capitalismo mas distribui as sobras dos seus negócios entre todos os membros da sociedade.
Os governos brasileiros, oscilando entre o paternalismo estatal e o individualismo grosseiro do capitalismo, andam um passo para a frente e depois ficam marcando passo por anos a fio, paralisados por desavenças ideológicas cujo resultado mais notório é a exclusão de imensas maiorias. Não é exatamente isso que se vê agora?
O cooperativismo é uma porta aberta para um caminho equidistante dos extremos.
Jornal JA/Poa