Mais um episódio expõe a partidarização da Operação Lava Jato; procurador Deltan Dallagnol dará uma palestra no centro de eventos Expo Unimed (PR); o curioso é que ele nunca levou adiante investigações sobre planos de saúde, alvo de delatores; outro detalhe é que, em 2014, a Unimed priorizou financiamento ao PSDB, enquanto o PT não recebeu verba alguma
Na eleição de 2014, a Unimed deu pouco dinheiro ao PT e preferiu os adversários: repassou 620 mil a Aécio Neves, do PSDB, e 500 mil ao PSB, que tinha candidatura própria. Dilma Rousseff, que concorria à reeleição, recebeu nada.
“As entidades médicas foram sócias do impeachment e a Unimed, a despeito de ser uma marca nacional, era o braço econômico dos grupos médicos e tinha interesses ideológicos em bancar a Lava Jato”, afirma uma ex-autoridade do setor de saúde.
O curioso é que, após 2014, o patrocínio do convênio a Dallagnol tem sido frequente. Em 21 de fevereiro deste ano, ele palestrou na unidade da Unimed em Presidente Prudente (SP). Em 2 de agosto de 2018, na de Porto Alegre (RS). Em março de 2017, na de Assis (SP). Em 22 de julho de 2016, na de Vitória (ES).
Convênios e a Lava Jato
Em fevereiro de 2016, o então senador Delcidio Amaral (PT-MS) teve a prisão preventiva revogada após negociar uma delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), em Brasília. Essa delação tinha um anexo indigesto para os convênios.
De acordo com o anexo, revelado em março de 2016 pela revista IstoÉ, “especial atenção deve ser dada à ANS e Anvisa, cujas diretorias foram indicadas pelo PMDB do Senado, principalmente pelos senadores Eunício Oliveira, Renan Calheiros e Romero Jucá. Jogaram ‘pesado’ com o governo para emplacarem os principais dirigentes dessas agências. Com a decadência dos empreiteiros, as empresas de plano de saúde e laboratórios tornaram-se os principais alvos de propina para os políticos e executivos do governo”.
A ANS é a agência federal que regula os convênios e a Anvisa, os remédios. Seus dirigentes precisam ser aprovados no Senado – daí o poder de Eunício, Calheiros e Jucá.
Esse trio (atualmente apenas Calheiros é senador) foi citado em delação fechada pelo MPF com um ex-dirigente do laboratório Hypermarcas (chamado agora de Hypera Pharma). Segundo o noticiário de junho de 2016, Nelson José de Mello havia dito que a Hypermarcas pagava propina ao trio e que uma das formas de a grana chegar a eles era através de uma banca advocatícia.
A Unimed informou que, na eleição de 2014, “priorizou o apoio a candidatos alinhados às causas cooperativistas, em diversos níveis hierárquicos, independentemente da legenda a qual eram afiliados, sempre em conformidade com a legislação vigente”.
Dallagnol não respondeu sobre sua relação financeira e eventual afinidade política com a Unimed. Esta justificou a contratação das palestras do procurador assim: “É inegável a importância que o combate à corrupção adquiriu nos últimos anos, alavancando o interesse não só dos cooperados, como da sociedade, em geral, pelo assunto e seus partícipes”.
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